sexta-feira, junho 25, 2004

FIM DE SEMANA



Como vou desaparecer no final de semana, deixo aí uma série de textos pra quem estiver a fim de ler e discutir na semana que vem. Alguns deles são grande demais, por isso pensem neste post como uma espécie de índice – ou “caminho das pedra(da)s”.

Os textos “O 13º APÓSTOLO”, “PSICOPATIA” e “O INÚTIL” falam sobre a contemporaneidade e têm muitas coisas em comum. Os nomes de Maffesoli e Jabor são recorrentes. O texto “ESTADO MÍNIMO” também tem certa ligação com os textos anteriores e pode ser interessante acompanhá-lo.

Os textos “´SONHOS SÃO SEMPRE PEQUENOS´” e “VIDA FEITA DE OUTROS” fazem parte de uma série de rascunhos, produzidos a partir de idéias suscitadas pela leitura do livro “Inventário das Sombras”, do Curitibano José Castello. No primeiro texto, porém, parto de um trecho do livro que descreve parte da relação do escritor José Saramago com Portugal para falar Guarapari, o que remete ao texto “MÁSCARAS”, que fala especificamente de Guarapari. São textos com um tom entre pessimista e o melancólico, que, apesar da aparência, têm um objetivo que é criar pontos de partida para discussões em torno de Guarapari. No texto “MÁSCARAS” é importante conferir o link que leva ao texto “GUARAPARI, TURISMO E CONSTRUÇÃO”, escrito há algum tempo, que aborda questões importantes para a cidade, sob uma ótica diferente da que tenho utilizado atualmente.

Quanto ao texto “VIDA FEITA DE OUTROS”, a discussão em torno de Curitiba visa suscitar reflexões em torno da contemporaneidade e de certas exigências dela. O texto busca fazer pensar de forma mais profunda os benefícios reais de um certo tipo de modernização que parece excluir o caráter humano das coisas. Essa discussão, pra quem souber ler, remete outra vez, aos textos citados no segundo parágrafo deste post, que apontam os textos sobre contemporaneidade.

De certa forma, as coisas vão complementando umas às outras, mas não de forma absoluta. Como pensamento em formação, os buracos e as falhas estão ali e posteriores discussões que venham a surgir em função delas serão bem vindas.

No más, é isso.

Bom final de semana.

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PÉROLAS E PORCOS



FRASE DO DIA

"O eleitor não é bobo. Ninguém vai atrás de denúncias vazias. Eu não tenho conta no exterior. Nem bobo acreditaria nessa história"
(Paulo Maluf)

São frases como essa que me enchem de esperança para as próximas eleições. Como diria a piada que ouvi ontem, Maluf está no inferno brasileiro: quando tem merda, não tem balde; quando tem balde, não tem merda.



MÁS NOTÍCIAS

“SBT e Grupo Abril estão preparando uma parceria envolvendo conteúdo de revistas e programação de televisão. Executivos das duas empresas passaram a tarde de quarta-feira reunidos na emissora, em São Paulo”.
(Folha de São Paulo)

Beleza, beleza: a editora que publica a Veja, a revista mais impregnada de ideologia neoliberal que já vi na vida, unindo-se à emissora que pensa que o telespectador é um imbecil completo – e trata-o assim. Nem Chuck Barris comemoraria isso!



SOCORRO!

Jorge Kajuru, o tosco, está sendo cogitado pra apresentar um programa na linha do “Cidade Alerta”. Pra quem não lembra, jóias raras como Faustão e Datena saíram do jornalismo esportivo e foram “prá galera”, apresentar programas populares de quinta – mesmo aos domingos. Bom... cada telespectador tem o apresentador que merece!

Pensando bem, é até injustiça colocar o Faustão ao lado de Datena. O passado daquele, na Band, no “Perdidos na Noite”, era bem razoável. E, comparado ao Gugu, até que o Domingão tem certo estilo (o problema é a Globo). Ah! Faustão também fala demais...

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O 13º APÓSTOLO



Jabor é nosso profeta, quem tem olhos de ler, sabe disso. Já sem câmera na mão, mas com muitas idéias na cabeça, ele é nosso 13º Apóstolo e parece disposto a reescrever nosso o apocalipse. Ao contrário de João (o da bíblia), Jabor não segue nem Jesus (nem Deus, nem Marx) e suas previsões não são de um visionário, mas de alguém que sabe VER o mundo (resquícios, talvez, de um passado como cineasta).

Os sinais estão aí, mas nem todos conseguem decifrá-los. Jabor consegue e segue gritando para uma multidão surda, que abafa. A avalanche de blá-bla-blás soterra os textos do profeta

O mundo novo de Jabor, ao contrário do de Huxley, não tem nada de admirável, mas, pelo contrário: tem muito de desprezível. É o futuro do irracionalismo, das “Invasões Bárbaras”, dos fanatismos e da glorificação dos nadas tecno-não-lógicos. Quem observar, verá. A modernidade ruiu. O iluminismo foi pego de surpresa pelo apagão. A democracia - Millôr estava certo - é o sistema de governo do inferno: só funcionou nos estreitos – e excludentes – limites da Polis grega. O Estado-Nação foi um sonho, uma brincadeira de intelectuais que foi levada a sério. O ser humano é um animal de duas patas. Diálogo é passatempo. Compreensão e liberdade são meras utopias. O “Mal estar na civilização” é uma realidade. O real é excessivamente real para ser suportado. É mais cômodo aceitar o simulacro. No fundo, é só o que resta a fazer.

Agradeçamos a “O Globo”, que deixa o Jabor falar, mesmo sabendo que isso só acontece porque, no fundo, é sabido que ele fala para ninguém, que não é levado a sério. Jabor tem o discurso do louco, ao qual se pode fechar os ouvidos e anular quando começa a tornar-se incômodo. Ele expõem nossas feridas e nossa podridão. O texto de Jabor é a escatologia (em sua relação com as doutrinas apocalípticas) estetizada. Cada linha de seus textos dariam uma dissertação de mestrado. Mas isso seria também seria inútil. Então, melhor dizer assim, de qualquer jeito, prezando apenas pela forma, teimando em sustentar um estilo. Talvez seja esta também uma forma de resistir.

Escutem/leiam o Jabor. Tentem ver um pouco do que ele vê. É uma maneira de se olhar no espelho.

POSTS RELACIONADOS

"O Inútil"
"Psicopatia"

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MÁSCARAS



No começo deste ano, a visão negativa de Guarapari que tem aparecido nos meus últimos textos, não era uma constante. Havia em mim, pelo contrário, grande entusiasmo noutra época. Eu via a cidade como uma grande possibilidade. (No fundo ainda vejo, mas de certa forma cansei de tentar abrir frentes de trabalho).

Aqui, no Psicotópicos mesmo, no texto “Guarapari, turismo e construção”, tentei iniciar discussões em torno da cidade. Queria, por meio dele, motivar os “nativos” a discutir questões de identidade por essas bandas. Queria discutir a cidade com gente daqui, mas não em mesa de bar, onde muito se perde. Queria a perenidade que o texto – mesmo digital – oferece.

Infelizmente, não tive respostas. O diálogo, mais uma vez, não aconteceu. Meu discurso, perdeu-se.

Com o discurso, uma boa parte da empolgação que me movia, ficou pra trás. Comecei, aos poucos, a traçar planos mais egoísticos, que envolviam a cidade de forma cada vez mais periférica. Hoje, percebo que no fundo, boa parte do meu discurso está impregnada de amargura mesmo. Sinto-me como se não tivesse conseguido chegar ao âmago das questões que me inquietavam na cidade. Daí, a desistência – ou a resistência.

Guarapari mina, suga a força das pessoas aos poucos, enfraquece-as. Sua substância é absorvente: alimenta-se das pessoas e não é capaz de metabolizá-las para transformar isso em energia, por isso, as elimina. Ou pior: as retém até o ponto de começarem a fazer mal, a matar.

Guarapari, a cidade sem rosto, aceita bem as máscaras que lhe impomos. Como eu disse no texto sobre Portugal, este lugar aqui se adapta bem aos conceitos, porque todos são permitidos. Hoje, a máscara que a cidade usa é assustadora para mim.

Mas máscaras são substituíveis...

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VIDA “FEITA DE OUTROS”



Uma das coisas que mais me incomoda em certos discursos – sejam políticos, educacionais ou científicos – é a aversão ao erro, à falha, à imperfeição. A metáfora do homem máquina é batida, mas pertinente. O profissional competente que o mercado exige aproxima-se muito da máquina, do computador que não erra, mas uma ora dá “tilt”, pra falarmos o capixabês claro.

Muita gente chama Curitiba de “capital modelo” e pretende tomá-la quando exemplo ao pensar o urbanismo. Psicoticamente falando, a organização e a assepsia de Curitiba não me seduzem nenhum pouco. Lembro de minha viagem à capital do Paraná em 95, em plena a era Lerner. O retrato que guardo da cidade parece ter sido pintado em cores frias. A assepsia curitibana era bela, sim, mas vazia, como essa beleza das modelos fabricadas. Tudo ali parecia de plástico, oco, como uma cidade cenográfica – só para olhar.

Hoje pela manhã, lendo o livro do curitibano José Castello, “Inventário das Sombras”, vi o escritor expressar um pouco desse sentimento que a cidade despertou em mim. Escrevendo sobre Dalton Trevisan, ele diz: “Curitiba é uma cidade, como já disse Cristóvão Tezza, um de seus mais eminentes escritores, ´feita de outros´. Antes de ser, o curitibano olha para o lado para verificar se não está sendo inconveniente, ou desmedido. O Eu é o só o resultado do olhar do Outro, não passa de um reflexo”.

É para existir pelo olhar do Outro que muitas vezes se busca eliminar o erro. O erro, a falha, é justamente a abertura que oferecemos para que esse outro nos destrua, nos rechace, nos substitua ou, simplesmente, compre outra marca. Assim é no capitalismo, no mercado competitivo, na vida acadêmica, na literatura. É nesse espaço gélido e silencioso criado pelos olhares que nos vigiam que nossa vida vai, aos poucos, perdendo o sentido até tornar-se algo que nos escapa, que não mais nos pertence...

É pena.

Acho que escrevi outro texto melancólico.

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quinta-feira, junho 24, 2004

POR FALAR EM PORTUGAL



Não é que o Felipão cumpriu a promessa? Portugal acabou de eliminar a Inglaterra da Eurocopa, nos pênaltis, depois de empate por 2 x 2.

Grande Felipão. Gremista, ele!

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"OS SONHOS SÃO SEMPRE PEQUENOS"



Estava lendo o livro "Inventário das Sombras", do curitibano José Castello. O livro é constituído por uma série de textos sobre escritores - detendo-se mais sobre suas as figuras, muitas vezes complexas e enigmáticas, do que propriamente em suas obras. Dentre os textos, há um sobre Saramago onde o autor escreve: "Saramago não gosta da lágrima fácil. Vê em seus compatriotas, ainda, um apego desmesurado pelas miudezas. Os sonhos são sempre pequenos, as ilusões sempre pequenas, as esperanças sempre pequenas. ´Tudo fica nessa pequenez. E os sentimentos também ficam aí, limitados, autocontemplando-se´".

Ao ler esse texto, pensei em Guarapari. Retomei um pouco daquele desabafo do post “CANSEI!” e comecei a desconfiar que a cidade tem muito disso: autocontemplação, pensamento pequeno, apego desmesurado pelas miudezas. Guarapari, como Portugal, ficou no meio do caminho. As promessas de grandeza se perdem num passado glorioso que se descobriu efêmero, passageiro. A “Cidade Saúde” adoeceu na velhice. Cansou (como eu cansei dela).

Os políticos que pontuam a história (e o presente) de Guarapari também guardam em si algo dos governantes portugueses de outros tempos, alheios à realidade d´além corte. Se Guarapari não foi invadida por Mouros (que deram novas feições ao lugar), foi tomada de assalto por mineiros, cariocas, baianos, gaúchos; foi tomada por brasileiros errantes, que pareciam encontrar aqui as promessas que só a fronteira oferece.

E Guarapari é fronteira.

Como na fronteira, por aqui não há leis, não há ordem, mas há jeitos (no pior sentido da palavra). Há realidades outras que não a do sistema – que só existe em com suas características mais nefastas.

Como Portugal se agarra às esperanças que a União Européia reacende – ao mesmo tempo em se sente saudades do passado -, Guarapari crê na salvação que vem debaixo, do petróleo. E enquanto ele não chega, a cidade espera -- sentada sobre os próprios fracassos.

Mas este pode ser apenas um olhar amargo de quem, como um Saramago sem talento, também sentiu-se deslocado em seu lugar (embora não pareça, o Espírito Santo é, muito mais que o Rio Grande do Sul, o meu lugar). talvez eu esteja errado, afinal, Guarapari é, como escrevi em outra ocasião, uma cidade sem rosto, sem forma, uma cidade "por fazer": essa característica facilita as comparações, as metáforas, as analogias. Talvez meu olhar seja o de quem esperava mais e a quem as migalhas começam já não satisfazem. Talvez seja o olhar do ex-apaixonado que, para o qual a realidade se torna mais nítida e dá perceber o quanto silhuetas na parece da caverna são capazes de nos enganar.

Bom, acho que escrevi um texto melancólico...

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quarta-feira, junho 23, 2004

PRODUTIVIDADE



Galera, muitos comentários nos últimos dias (respondi todos, beleza?), apesar do tamanho dos posts. Docinho, Carissa, Layla, Zé, John, Orlando, todo mundo passou por aqui. Só a Aline que não voltou.

Os posts abaixo abrem algumas frentes para quem estiver afim de conversar ou, como diria o Zé, cuspir conversa.

No más, comentem aí...


PARA ENTENDER MELHOR


O texto a que me refiro no post PSICOPATIA (abaixo) fala sobre a pós-modernidade e sobre á personalidade deste blogue, o Psicotópicos. Lá, muitas dúvidas com relação a minhas contradições serão esclarecidas – e outras surgirão. No Word, o texto ficou com quatro páginas, por isso, acho que vou deixar para postá-lo no final de semana. Se alguém quiser que eu mande por e-mail, é só falar.

A Idéia de Orlando para análise midiática, à qual me refero no post BRIZOLA (pela última vez) E IDÉIAS ORLÂNDRICAS, trata-se do seguinte. Orlando está propondo aos alunos da J.Simões (só a quem estiver interessado) a realização de um “Mutirão Informacional”. Trata-se de pegar o máximo de informação possível, do máximo de mídias possíveis durante um dia inteiro, a saber, o próximo domingo. O material levantado nesse dia, serviria como objeto de estudo para os jotasimônicos durante todo o semestre que vem e resultaria na produção de artigos e outras cositas por parte dos estudantes. A idéia é boa e um grupo legal ficou interessado. Por aqui, Psico promove!

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PSICOPATIA

Outra dica do Psicotópicos também leva a um texto do Observatório da Imprensa. Dessa vez, é um artigo de caráter mais teórico. Trata-se de um texto de Muniz Sodré, no qual ele faz referência a alguns nomes que cito com bastante freqüência aqui no blogue. Coincidentemente, encontrei o texto pouco depois de ter acabado de escrever um post enorme para o blogue (não sei se vou postar hoje) onde eu citava duas pessoas que ele também traz à baila: Michel Maffesoli e Arnaldo Jabor.

O texto é muito bom e o Sodré é garantia de qualidade. O baiano é hoje um dos principais teóricos brasileiros na área de comunicação social. Para ir ao texto, clique AQUI.

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BRIZOLA (pela última vez) E IDÈIAS ORLÂNDRICAS

Andei visitando blogue do há pouco e vi o texto dele sobre as vaias ao Lula durante o enterro de Brizola e sobre a forma como isso repercutiu na mídia. Lá, ele cita o Psicotópicos (pois é, tá rolando uma interação na blogosfera!) e a proposta do Orlando (Lopes), de pensar alguma mais sistematizada para fazer essas idéias que circulam por aqui circularem também em outros circuitos. Zé destaca no texto a necessidade de observar a mídia, analisá-la, acompanhá-la. Não tão curiosamente, pois trabalhar nesse sentido é coisa sobre a qual eu e Orlando conversamos há muito tempo, Lopes ta com um projeto de análise midiática, que acontecerá durante todo o semestre que vem, cá pelos lados da J.Simões (falarei sobre isso mais à frente).

Por hora, queria deixar pra quem estiver interessado, um link do Observatório da Imprensa. O link leva para um texto sobre o Brizola, publicado ontem (se não me engano) no site. O artigo fala sobre a relação do finado com a mídia, sua posição anti-globo. É um texto bacana, mas, volto a dizer, pra quem tiver interesse. Quem tiver, clique AQUI.

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ESTADO MÍNIMO

Em outras oportunidades, falei aqui sobre caminhada do Estado rumo à absoluta insignificância nas últimas décadas. O neoliberalismo, a meu ver, parece ter agravado um problema que é estrutural no conceito de moderno de Estado e vem desde sua concepção, numa época anterior aos iluministas. Desde essa época, a tentativa de apropriar-se do pensamento Grego (da polis) para pensar os gigantescos Estados que surgiam na modernidade aconteceu de forma equivocada. Aqui, na minha insignificância, não consigo conceber um Estado como o brasileiro capaz de suprir de forma adequada às necessidades do cidadão. Não há, já que falamos de Grécia, como agradar a gregos e troianos de apenas um ponto. Por mais que se pense que os poderes públicos municipais e estaduais funcionam como mediadores nesse processo, a coisa sempre vai entravar num ou outro ponto da burocracia que qualquer grande macro-administração exige.

Recebi um texto do Observatório da Imprensa que usa a “caridade” de Ronaldinho na Cidade de Deus para ilustrar essa ausência cada vez maior do Estado na vida dos cidadãos e a transferência gradual das responsabilidades do estado para os ombros do próprio cidadão, como aponta Gasparini: “O poder público vai, aos poucos, se desviando da sua função original, que passa a ser cumprida por organizações não-governamentais e cada vez mais pelos próprios indivíduos”. (Só pra pontuar, creio que essa tendência da sociedade para a auto-organização se aproxima da noção de “tribalismo”, que o sociólogo Michel Maffesoli utiliza para caracterizar a sociedade contemporânea. Mas essa é uma outra discussão).

O texto de Gasparini é interessante, porque traz para o centro da discussão uma tema que deve ser pensado e repensado por qualquer pessoa que pretenda refletir sobre os rumos que tomados pela nossa sociedade. Temos um Estado que é não vai muito além do simulacro e uma sociedade civil organizada (ou tribos) que lutam para nascer, mas parecem necessitar de cesariana.

Cliquem AQUI e dêem uma conferida no texto do Gasparini. Se interessar a alguém discutir essas coisas de forma mais aprofundada, cá estamos.

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terça-feira, junho 22, 2004

PSICOTOPICOS VARIADOS



BOAS NOTÍCIAS

Lembram do Werley, meu amigo Chagifunsesctário (mistura de Chargista Funcionário do Sesc e Publicitário)? Pois é, a charge dele, acima, foi publicada no caderno Megazine, de O Globo de hoje.

Espero estar certo em minhas intuições, pois creio que este seja o primeiro passo de uma história de sucesso que se inicia. Sou sempre suspeito, mas acho que não me engano com relação a ele. Afinal, lá se vão dois anos nos quais venho acompanhando o desenvolvimento da figurinha (ele é baixinho, nanico mesmo) e seus desenhos.

Werley: sucesso cara! Tá quase superando o mestre ;-).


AGRADECIMENTOS

Orlando, o mestle, passou por aqui e deixou comentário. Como sempre, seguido de propostas. Bom, pelo menos alguém tem que pensar em tornar as coisas mais concretas.

A Layla também comentou o texto sobre o Brizola. Mesmo a distância – ela em Brasília, eu em Santo Ângelo – brigamos, por ideais comuns (mesmo sem saber direito o que fazíamos).

O Zé, o outro, não deu sinais de vida nos últimos dias, mas entendo seus motivos: o mundo dos cheiros o está absorvendo. Quanto ao John, sabe-se tratar-se de figura estranha – mas carimbada. Um dia ele aparece -- e cria polêmica.

A Luziane passou, leu o texto sobre “Dogville”, mas não deixou rastro: sem comentários, nem da parte dela nem da minha. (Por aqui, prefiro entender o silêncio como aprovação). Karina, passou, mas não leu tudo. Deve ser o trabalho.

A Carissa, linda linda, passou também, apesar da gripe. (Se passar de novo, beijos beijos!).

A Aline não deu mais as caras e do pessoal da lista, convocado, nem sombra mais. Espero que as coisas melhorem. Enquando num rola, sigo aqui, jogando com a parede e com meu time improvisado.

O Psicotópicos agradece pela preferência (e pela amizade).

O CAMINHO DO MEIO

E o Grêmio, segue empatando no brasileirão. O miséria! Nem pra alternar vitórias e derrotas e deixar a vida do torcedor mais emocionante o time em prestado. Devem estar seguindo a filosofia aristotélica do caminho do meio (já não tem mais Arce e Roger, sabe como é...). Pena que o caminho do meio, no brasileirão não leva a lugares muito atraentes. Até o momento, levou o Grêmio ao 18º lugar. Ai, ai...

RONALDO

O escritor Ronaldo Que-precisa-escrever-um-conto, está se recuperando das lesões sofridas num ataque de pigmeus selvagens ao seu apartamento, localizado num post qualquer do Psicotópicos Coletivos. Segundo a assessoria de imprensa do escritor, ele continua pensando em Maria e planeja uma vingança contra o GRAJAR – Grupo de Anões de Jardins Revolucionários. Enquanto isso, o escritor estuda o convite de transferir seu diário para o Psicotópicos. A negociação acontece entre o agente do blogue e o advogado do escritor, o mestre em Direito Criminal Paulo Roberto, que deverá aparecer na história em breve. Enquanto isso, o Psicotópicos pergunta, alguém lembra do Ronaldo? Vale a pena trazâ-lo para cá? Sim ou não? No Psicotópicos (e nas novelas da Globo) o final, você decide!

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BRIZOLA E O VELHO BRASIL(EIRO)



Brizola morreu. Morreu ontem. Eu desconfiava que aquele dinossauro não ia durar muito mais. Gente como ele, não suporta o silêncio. Acostumada aos comícios, às multidões, às euforias, a voz de Brizola, de uns anos pra cá, não passava de um eco. Ele, Brizola, Tornou-se figura caricata -- um rosto que, vez ou outra, aparecia em rede nacional para chamar o governo de “entreguista e neoliberal”. No fundo, Brizola estava certo, todos sabiam. Mas o discurso do gauchão parecia vir de algum lugar do passado – talvez de Passo Fundo. Como faz a todo velho – e todo louco –, a sociedade brasileira achou-se no direito de ignorar Brizola. Seus discursos faziam rir. Em tempos de Duda Mendonça e Nizan Guanaes, o tradicionalismo brizolista agredia os sensíveis espectadores da televisão brasileira.

Televisão que foi muito criticada por Brizola. Opositor ferrenho de Roberto Marinho e da Rede Globo, o fundador do PDT parece ter perdido sua referência depois que o Citizen Kane se foi, Brizola parece ter ficado mais sozinho. Dizem os sábios que o segredo da natureza é a oposição entre as substâncias: quente e frio, alto e baixo, homem e mulher, Brizola e Roberto Marinho. É tipo de coisa que às vezes só tem sentido em relação ao seu oposto.

Brizola morreu. Brizola, que em 89 me fez fazer campanha por ele. Eu, um guri, perdido em Santo Ângelo, na terceira série do primeiro grau, numa escola estadual, de nome Getúlio Vargas (curiosamente, obra do governo Brizola), fizera campanha pelo pedetista numa eleição de mentira que fizéramos. Lembro que o gaúcho ganhou com folga na nossa eleição. Na de verdade, todos sabem como foi. Espécie de princípio do fim para o político que, na eleição seguinte, ficaria atrás de Enéias. A derrota humilhante, fez Brizola buscar novos rumos. Menos holofotes, articulações. Virou raposa.

Por trás de toda a piada, de toda a caricatura, havia um cara que, apesar de todos os seus defeitos, gostava do Brasil. Herdeiro de Getúlio (seu padrinho de casamento), Brizola era um nacionalista – estava fadado a perder num mundo globalizado. Coerente, inflexível, ortodoxo, Brizola foi quebrado pela política contemporânea, em que é preciso saber mudar, adaptar-se, ser mais água e menos pedra.

Não santifiquemos Brizola. Não façamos isso. Acredito que nem ele gostaria. Pensemos nele como algo que ele é, e não se pode negar: Brizola é história do Brasil. Acompanhar a trajetória dele é a acompanhar a trajetória do país também. Assim será com Miguel Arraes e mesmo com o bizarro Paulo Maluf. Lula também conta essa história, assim como Chico Buarque conta, com seus 60 anos.

A morte de Brizola é mais um sintoma de que o Brasil está mudando. Se para melhor ou para pior, não se sabe ao certo. Mas o fato é que começamos a superar um período. Normal, faz parte da vida – e da morte.

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segunda-feira, junho 21, 2004

LEIA ISTO ANTES DE QUALQUER COISA

Pra não deixar ninguém perdido com a avalanche de textos dos últimos dias, queria dar algumas referências aqui. O texto “CINEMA CONTEMPORÂNEO, RELEITURAS E CAMINHOS (uma tentativa de ser mais profundo ou só mais um texto pretensioso)” fala um pouco sobre Lars Von Trier, o Dogma 95 e sua relação com isso que se chama de “Cinema Alternativo”. É um texto longo e pseudo-científico. Procurei pontuar uma série de coisas e estabelecer algumas relações, mas nada com muito método, claro. Afinal, o Psicotópicos é rascunho, não se esqueçam disso.

No texto DOGVILLE E OLHARES POSSÍVEIS, falo especificamente de “Dogville”, último filme de Trier, com Nicole Kidman. É uma semi-crítica. O que faço, basicamente, é colocar algumas impressões que tive do filme. O mesmo acontece no texto DANÇA COM O OUTRO, mas, nesse caso, o filme em questão é “Dança com Lobos”.

Se não estiverem dispostos a ler, aconselho os visitantes a irem até o post LOTERIA DAS UNIVERSIDADES e começarem a ler o blogue a partir dele. Além de serem textos mais curtos, os posts que vêm logo abaixo tratam de assuntos mais genéricos, e propõem discussões que vão além do cinema.

Espero que gostem e desgostem para, sobretudo, comentar. Se nascer algum diálogo daqui, serei alguém mais feliz...

No más, é isso...

Ps.: Abraços para Carissa, , Aline Medeiros e Layla que apareceram por aqui nos últimos dias. No caso do Zé, devo dizer que tem sido meu único interlocutor. O que, em se tratando dele, não é pouco. Abraços abraços.

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CINEMA CONTEMPORÂNEO, RELEITURAS E CAMINHOS (uma tentativa de ser mais profundo ou só mais um texto pretensioso)

Assisti no último sábado ao filme Dogville, do dinamarquês Lars Von Trier. Trier foi um dos cineastas dinamarqueses diretamente ligado ao Dogma 95, movimento que se opunha às narrativas cinematográficas tradicionais (aos chamados “filmes de festival”) e buscava propor um novo cinema (que tem muito de Cinema Novo, vale dizer). Filmes como “Os Idiotas” (de Trier) e “Festa de Família” são representativos desse movimento que tem entre seus “dogmas”, a eliminação de artifícios como cenários, iluminação, gruas, trilhos e afins. Os filmes, segundo o “Dogma 95”, deveriam ser filmados com câmera na mão. A história, o drama psicológico dos personagens, era o que sustentava a narrativa. As locações eram todas reais e não era permitido acrescentar itens cenográficos às cenas. Pretensioso ou não, o fato é que o movimento foi algo que aconteceu para mexer um pouco no marasmo que o cinema se encontrava.

Infelizmente, nem o próprio Trier – famoso por suas incoerências – conseguiu levar o “Dogma 95” adiante. Filmes recentes do autor, como “Dançando no Escuro” (aquele da Björk) e interessantíssimo “Dogville” desrespeitam muitos dos dogmas estabelecidos em 1995 pelo próprio Trier. Contudo, a ruptura com o “Dogma 95” não é completa. Elementos do aprendizado que o movimento proporcionou a Trier podem ser observados, por exemplo, na ausência de cenários em “Dogville”. A câmera na mão também está lá assim como a ênfase nos atores. Contudo, “Dogville” vai além. O filme flerta com o teatro (o cerebralismo de Brecht está presente no filme) e com a literatura (a estrutura é de uma fábula e a personagem principal guarda traços da Cinderela). As referências estão todas ali.

Aliás, as referências são algo que merecem destaque no filme. A Elm Street, pra quem não lembra era a rua de Freddy Krugger. Jason e Chuck também estão presentes, assim como Pandora, o Cavalo de Tróia, Tomas Édson e a Graça (Grace). Essa espécie de marcação que os nomes oferecem, parecem fazer parte de um esquema narrativo que contribui menos para contar uma bela história (objetivo do cinema “tradicional”) do que para causar um efeito e trazer ao palco (o cenário de Dogville não é nada além disso: um palco) uma problemática que permite longas reflexões.

Em meio a essa ousadia toda, Nicole Kidman, estrela do “star sistem” norte-americano. Além de talento, Nicole traz ao filme os holofotes, o que reforça ainda mais seu efeito crítico: as luzes dos holofotes fazem sombras maiores.

Com “Dogville”, Trier consegue ampliar alguns pontos do “Dogma 95” (levando-os ao grande, ou médio, público). Ele mostra como é possível fazer cinema com pouco dinheiro. Um cinema mais cerebral, no qual roteiro, atores e idéias dizem mais do que efeitos especiais e “garotos de mouse”, como fala Trier, poderiam fazer. (Segundo o diretor, a idéia de “Dogville” nasceu após ter assistido Senhor dos Anéis e seus efeitos espetaculares).

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Li nesse fim de semana o artigo de Peter Wollen, Cinema e Política, publicado no livro “O cinema no século”, uma coletânea de artigos sobre cinema (organizado por Ismael Xavier), e suas variadas relações (indústria, história, jornalismo, política, etc). No referido artigo, Wollen fala de sua própria experiência como crítico e cineasta e comenta o cinema de contra-corrente, realizado por cineastas como Godard e Antonini nos anos 60 e 70. Wollen, num determinado ponto, opõe sete pontos que diferenciam esse novo cinema do cinema comercial (hollywood). Obviamente, muitos dos pontos destacados pelo articulista para caracterizar o cinema de Godard, por exemplo, foram retomados, num outro contexto, é claro, pelos dinamarqueses do “Dogma 95” (talvez no segundo caso, muito do que foi dito existiu mais efetivamente enquanto discurso que enquanto prática, o que, contudo, não diminui a importância do movimento no contexto representado pelos anos 90).

Tanto no cinema “alternativo” dos anos 70 (podemos incluir aqui o Cinema Novo) quanto nas iniciativas do “Dogma 95” buscam, de uma forma ou de outra, aproximar o cinema da arte e buscar a capacidade crítica do espectador. A reflexão é algo que se faz necessário, mesmo depois que o filme acaba. É preciso dar ao espectador o tempo para relacionar a idéia do filme ao mundo real. O real e o simbólico, como explica Wollen, citando Lacan, trabalham mais do que o imaginário nesse cinema “alternativo”.

Pensar no cinema “alternativo”, fora das estruturas viciadas de financiamento e necessidade de lucro que a indústria do cinema impõe é importante num país como o Brasil, especialmente nessa retomada do cinema nacional, em que os orçamentos crescem cada vez mais.

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Mudando um pouco de assunto, gostaria de voltar aqui a uma discussão proposta pelo filósofo Alessandro Darós, numa lista de discussões via e-mail, sobre a necessidade de falarmos sobre questões mais técnicas em torno do cinema. Quando citou o diretor de “Lavoura Arcaica”, falando sobre a montagem do filme, Alessandro destacou a forma como o diretor trabalhou a passagem das cenas que, segundo ele, queria que fosse feita de maneira sutil, sem a artificialidade que o corte apresenta.

Assistindo ao making-off de “Confissões de uma mente perigosa”, fiquei impressionado como a maneira como as cenas foram filmadas. A transição de cenários aconteceu de forma muito interessante. Em vez do tradicional fundo azul, George Clooney (o diretor) trabalhou com cenários reais que, de certa forma, captavam muito do que acontece nos programas ao vivo da televisão, realidade trabalhada pelo filme (o personagem principal é Chuck Barris, inventor do “Show de Calouros” e do “Namoro na TV”) e bem próxima de Clooney (sei pai trabalhara na TV, em programas ao vivo). A troca de cenários (nas cenas onde o estúdio de TV apareciam) era feita no ato, o que exigia um esforço tremendo dos atores, que precisavam trocar de roupa rapidamente e correr por trás da câmera, entre outras coisas. O resultado desse trabalho foi uma sutileza belíssima, que transparece no filme. A euforia da TV, como diz Sam Rockwell, ator que interpreta Chuck Barris, acabou contaminando o filme, devido à utilização das estratégias típicas dos programas ao vivo. Numa outra escala (estamos falando de Hollywood), isso lembra o isolamento dos atores em “Lavoura Arcaica”.

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Ao contrário de “Lavoura Arcaica” ou “Confissões de uma mente perigosa”, “Dogville” faz questão de mostrar a falsidade das coisas: não apenas os personagens – os moradores de Dogville - são despidos de suas máscaras, mas também o próprio cinema é um pouco desmascarado. Não há pretensão de ser real, justamente o oposto do que acontece no cinema comercial norte-americano (ou no cinema realista). Não há, como indicam os manuais de roteiro, uma busca pela verossimilhança. O distanciamento – propício à reflexão – é permitido ao espectador, que pode enriquecer ou esvaziar o filme, dependendo de como o observa (ou lê, pois trata-se de uma fábula também).

São caminhos diferentes. Opções narrativas novas são importantes para mostrar que o cinema não é uma arte tão engessada como pode parecer. Embora muita coisa pareça esgotada e o pareça impossível sair do clichê, sempre aparece alguém que dá um passo adiante, ainda que seja retrabalhando as velhas estruturas.

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DOGVILLE E OLHARES POSSÍVEIS



Como toda fábula, Dogville presta-se a diversas interpretações. Sua estrutura narrativa pode ser dobrada e desdobrada, associada a outros elementos, remetida a outros lugares para falar de diversas coisas. Não há paredes que limitem a imaginação do leitor de uma fábula.

Dogville é uma cidade sem paredes. Nós, espectadores, podemos invadi-la, disseca-la, observa-la à vontade, pois é pra isso que aqueles personagens (exagerados, como todo personagem) estão ali. Para serem observados. E para que, observando-os, possamos nos observar também. E observar o mundo que nos cerca.

Grace (o nome já diz muito do que será o personagem de Nicole Kidman no filme) chega a Dogville fugindo de uma realidade que a desagradava. É recebida com receio pelos moradores de Dogville e precisa esforçar-se para ser aceita. Consegue, à custa de muito trabalho, fazendo o desnecessário, aquilo do qual ninguém sentia falta mas que, uma vez começada, tornava-se essencial. Dogville aceita Grace. Ela torna-se importante. Cada vez mais importante. Mas Grace torna-se importante, mais importante, na medida em que atende a mais necessidades dos moradores de Dogville. Ela, Grace, torna-se objeto, precisa estar sempre disposta a suprir as necessidades dos pobres moradores de Dogville.

Como li em outra crítica (e como Lars Von Trier tenta deixar claro), a referência à sociedade norte-americana que culminou na invasão do Iraque e na xenofobia é bem nítida (embora eu, admito, não o tivesse percebido enquanto assistia ao filme). Grace são os imigrantes que chegam aos EUA no pós-guerra e ajudam a reconstruir o país depois da quebra da bolsa se Nova York. Os moradores de Dogville são os norte-americanos, que abraçam os imigrantes, enquanto eles têm utilidade. A vingança de Grace, é quase o 11 de setembro.

Apesar dessa estrutura de crítica (ou provocação) à sociedade norte-americana, não foi esse o ponto do filme que mais me chamou atenção, mas a questão psicológica que a narrativa trás à tona. O ser humano e sua insaciabilidade. O amor que consome, que exige do objeto amado retorno, compensação. Dogville sobre como fazer o bem para ser aceito é amarrar-se a uma condição de eterna obrigação com o outro. Uma vez que você acostuma o outro com sua atenção, com seu cuidado, com sua ajuda, a dependência dele com relação a você aumenta até o ponto onde você acaba subjugado, mesmo que não haja paredes para impedir sua fuga. Dogville fala também da arrogância da bondade. E fala de Lars Von Trier. Da forma como o dinamarquês vê o mundo. Da forma como vê o ser humano: como cão. Irracional, automatista em sua maldade, cruel, insaciável. É a visão de Trier que Grace parece incorporar ao final do filme. É esse olhar que a lua (as luzes que sensibilizam a câmera?) revela.



Além de uma história incômoda, que retoma uma característica de um certo cinema contemporâneo (Magnólia, Irreversível e mesmo Amarelo Manga), Dogville é também um olhar sobre o cinema (a ausência de paredes é, também uma forma de mostrar que cinema é ficção, é cenário). O diálogo com outras artes, especialmente, no caso de Dogville, o teatro é interessante para abrir novas portas ao cinema contemporâneo. A interpretação dos atores está impecável (Nicole Kidman, como sempre, linda e perfeita no papel), pois o filme sustenta-se, basicamente, nas interpretações. Não há a possibilidade de planos longos, belas fotografias ou coisas tipo. O que há, em Dogville são: excelentes atores, uma narrativa que remete à fábula e imaginação da parte do espectador. Dogville não é monolítico, mas oferece saídas ao espectador. Apesar da aparente irreversibilidade de algumas coisas (o ser humano “é o cão”), o espectador ainda é livre para ver as coisas de outra forma. Dogville nos permite parar para rumina-lo, depois que o filme acaba.

Lars Von Trier pode ser criticado por muitos motivos. Talvez haja arrogância também de sua parte, em tentar fazer cinema de arte em meio ao mercantilismo absoluto da indústria do cinema. Talvez por colocar o dedo em certas feridas e, como Grace, seu personagem, desagradar por dizer a verdade. Assim como podemos ver Dogville (a cidade e o filme) de muitas formas, podemos ver Lars Von Trier. O que é fato, como diria Orlando, é que ele já fez história. Dogville, querendo ou não, é mesmo um marco no cinema.

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sexta-feira, junho 18, 2004

DANÇA COM O OUTRO



Na primeira vez que assisti a Dança com Lobos, eu devia ter uns 11 ou 12 anos de idade. Lembro de ter gostado do filme (o número de Oscars, na época, me impressionava muito), embora tivesse dormido em sua maior parte.

Anteontem, assisti ao filme novamente. Sem dormir – e com o nova capacidade de observação que 10 anos de vida me ajudaram a desenvolver – gostei um pouco mais do filme e já sei dizer do que gostei e do que não gostei.

Para este Psico de 22 anos, Dança com Lobos é um filme que, além de fazer um elogio à sabedoria indígena (quase fazendo referência a Rosseau), fala muito sobre a relação com a alteridade, com a diferença, com a necessidade de se esforçar para compreender o não-eu, para estabelecer um contato verdadeiro com ele. Isso está presente tanto nas tentativas de Dunbar para travar os primeiros diálogos com os Sioux, quando na relação do mesmo personagem com o lobo (um dos personagens mais interessantes do filme). Ao contrário dos diálogos com os iguais (os soldados), nos quais o repertório comum permitia ignorar/anular a voz do outro e impor a própria vontade pela força ou pela hierarquia, na relação entre o Tenente e os índios (ou o lobo) havia necessidade de um esforço para viver/sentir/pensar como o outro para que o diálogo fosse possível. Em vez das esquivas e farsas, típicas das relações sociais do homem “civilizado”, havia a necessidade de abrir-se para a alteridade, única forma de criar um repertório comum, que permitisse o diálogo. Esse, pra mim, foi o ponto forte do filme.

CINEMA AMERICANO E SUBVERSÃO

Dança com Lobos, obviamente, é um filme norte-americano por essência, um épico direcionado ao grande público, com trilhas sonoras pomposas, belos cenários, heroísmos e muita bandeira “ianque” em primeiro plano. Contudo, muitos desses valores, como aparecem em filmes como Pearl Harbor ou Independence Day, por exemplo, são subvertidos no filme de Costner. A bandeira, ali, representa o índio americano, o Sioux que -- o filme tenta dizer -- é o americano verdadeiro. Como Scorsese ou Coppola-- ainda que com menos brilhantismo --, Costner utilizou os formatos tradicionais do cinema norte-americano para ir contra a corrente. O fato de ser um filme norte-americano não impediu Dança com Lobos de ser um filme crítico -- como Um Estranho no Ninho ou Beleza Americana – e, mesmo assim, romper certas barreiras impostas pela Academia a filmes que tocam feridas. Dança com Lobos critica a colonização (o tempo todo); critica o homem branco “civilizado” (o companheiro de viagem porco que levou Dunbar à fronteira); e critica a imbecilidade da guerra.

Dança com Lobos parece reafirmar o tempo inteiro que o homem (civilizado) é mesmo o lobo do homem (e dos lobos).

LIMITES



A mim, o filme pecou apenas num ponto. A subversão dos valores não foi suficientemente corajosa para fazer Dunbar apaixonar-se por uma índia “de verdade”. É como se um limite fosse estabelecido ali: podemos conviver bem e aprender a nos respeitar, mas há limites intransponíveis. Embora tivesse sido casada, “De Pé com Punhos” não tivera filhos (nem Sioux, nem brancos “degeneraram”). A mulher do “Silencioso” fala ao marido, único capaz de liberar livrar “De Pé com Punhos” do luto que o amor dela por Dunbar era natural, afinal, eles eram iguais, eram brancos.

A cor da personagem, não há dúvidas, facilitou o bom funcionamento do roteiro. O fato de “De Pé com Punhos” falar inglês, foi fundamental para que o diálogo acontecesse mais rápido entre Dunbar e os Sioux. Além disso, a amor entre iguais, creio eu, está menos apto a chocar a puritana sociedade norte-americana do que um relacionamento inter-racial. No conjunto, é claro, isso não compromete tanto o filme. Mas é algo que merece destaque.

COSTNER



Olhar esse filme de outra forma foi importante eu poder pensar na figura de Kevin Costner que, na minha cabeça, sempre esteve muito associada ao americanismo (“13 Dias que Abalaram o Mundo”, “JFK – A pergunta que não quer calar”, “O Mensageiro”) . Não que Dança com Lobos signifique uma ruptura com essa tradição, mas é, sem dúvida, um olhar sobre si interessante.

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quarta-feira, junho 16, 2004

LOTERIA DAS UNIVERSIDADES

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Li na coluna do Élio Gáspari de ontem, 15 de junho, sobre a proposta do ministro Tarso Genro de criar uma loteria para financiar as universidades públicas. Gáspari é incisivo ao criticar a iniciativa do ministro. A lógica que ele utiliza é simples. A grande maioria dos apostadores das loterias federais é de pessoas de baixa renda. O dinheiro do pobre seria utilizado para investir na melhoria da educação dos cidadãos de classe média para cima, que é quem consegue, de verdade, entrar nas universidades públicas no Brasil. (Não me venham com discursos do tipo, “nem sempre, conheço um pobrezinho que se matou de estudar e entrou”. Exceções desse tipo não dizem muito sobre a estrutura do sistema. A maioria dos estudantes de universidades públicas, não vem das periferias).

Como uma espécie de paliativo à proposta do ministro da educação, Gáspari sugere uma forma de organizar o repasse da grana arrecadada pela loteria para as universidades. Para ele, o repasse deveria ser feito da seguinte forma: para cada centavo doado à universidade por um ex-aluno, a universidade ganharia valor equivalente da verba das loterias. Seria forma de fazer os bacanas que estudaram de graça e encheram a burra de dinheiro depois de formados, devolverem um pouco da grana gasta pelo estado com eles às universidades. Pode parecer uma proposta esdrúxula, mas sabe que eu gostei? Utopia seria pensar que o governo aprovaria algo do tipo, mas que a idéia é boa, lá isso é.

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VARIEDADES

CHARGES

Visitem o Flog do Werley, o Chargifunsesctário (mistura de chargista, funcionário do Sesc e publicitário). O cara é meio marrento, nanico e mau-humorado, mas pra desenhar ele presta. O endereço é

www.werleyk.flogbrasil.terra.com.br

Dizer as más ínguas que o cara é o próximo Zappa do Espírito Santo. Eu, não sei de nada. Jornalista neutro que sou, só transmito a opinião do povo. ;-)

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Essa aí de cima é a Carissa (psiconamorada), segundo os traços Wérlicos. Devo dizer que prefiro a original, sou suspeito para opinar.

DICIONÁRIOS

Do dicionário português-português de Millôr Fernandes, a definição de de nosso sistema de governo:

Democracia - Sistema de governo do inferno.

Pelo sim, pelo não, a coisa é interessante. Talvez traduza bem nossos infernos, talvez mostre que o paraíso nem sempre é a melhor opção. Dizem que Monarquia é o sistema de Governo das Bichas Loucas, mas pode ser intriga da oposição. ;-)

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terça-feira, junho 15, 2004

MUROS, JORNALISMO E PESSIMISMO

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O sonho começou a ir por água abaixo. Para os felizes, que acreditavam que a Internet seria o caminho para a democratização da informação (eu fui um deles), vão aparecendo as primeiras decepções.

Os jornais diários já começam a restringir o acesso. O Estado de São Paulo segue a trilha da Folha de São Paulo/UOL e começa agora também só permite aos assinantes do jornal visitarem seu conteúdo. Para os pobres, nada feito. Sem pagar, o internauta só tem acesso às migalhas do jornalismo on-line, superficial e conciso como ele só.

O Globo, Jornal do Brasil, Zero Hora e A Gazeta, não chegaram ainda ao cúmulo da cobrança pelo acesso, mas exigem nossos dados. CPF, endereço, telefone, toda e qualquer informação que possa ser vendida para os departamentos de marketing das grandes empresas. A idéia de privacidade no mundo digital aproxima-se cada vez mais da utopia.

Fazendo um esforço, é possível até ver um lado positivo nisso tudo. Com os grandes fechando as portas, a saída para os nanicos (sem referencia à imprensa alternativa dos anos 70 e 80, apesar das semelhanças) é tentar abrir os próprios espaços. Os blogues, por enquanto, continuam sendo um canal interessante para a divulgação de notícias. Além deles, sites variados e páginas à deriva no mar digital que a Web se tornou, são outros caminhos.

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Infelizmente, os nanicos tem um raio de ação muito limitado. Sem a legitimidade que o nome garante, fica mais difícil chegar aos grandes temas com maior profundidade. Caminha-se muito no campo da especulação. O sonho bom do jornalismo investigativo, vai por água abaixo. Primeiro, porque os grandes não tem mais interesse em bancá-lo; segundo, porque os nanicos não tem força pra arcar com empreitadas do tipo.

O jornalismo investigativo é dispendioso. O jornalista que o faz precisa de proteção, de grana pra correr atrás da notícia, de experiência e, sobretudo, de coragem e ambição. O caso de Tim Lopes é sintomático, pois demonstra como o jornalista se torna vulnerável ao tentar enfrentar certas estruturas. Reza a lenda que o envio de Caco Barcelos para Londres tem muito mais a ver com a necessidade de tirar o jornalista daqui para proteger sua vida, após o lançamento de seu livro sobre o tráfico, do com o reconhecimento global ao mérito do gaúcho. Caco Barcelos era um dos melhores repórteres da Globo. Deixá-lo em Londres, mesmo em época de guerra, é um grande desperdício.

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Quando vejo portas se fechando na Web, temo pelo futuro da informação. Querendo ou não, a liberdade que a Internet oferece é instável. Somos reféns dos provedores. Se o Blogger (ou a Globo.com) resolver tirar centenas de blogues do ar, sem mais nem menos, eles tiram. Está no contrato que aceitamos quando criamos nossos blogues. Por enquanto, tudo são flores. Mas até quando?

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segunda-feira, junho 14, 2004

CANSEI!!!

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Em momento algum passou pela minha cabeça fazer do Psicotópicos um blogue de lamentações. Mas, as circunstâncias me obrigam a dizer: ta punk! A insatisfação tomou conta de mim. Não agüento mais esta cidade, não agüento mais a falta de perspectivas, estou de saco cheio da rotina, cansei de esperar e concordo com Baudrillard: a troca é impossível. Não há compreensão entre os seres humanos. A imbecilidade está tomando conta de tudo e de todos, inclusive de mim. Está tomando conta da universidade, dos governos, dos partidos, dos religiosos, das mulheres, da televisão, da vida e da morte. Está tudo podre em Guarapari e no mundo. Mas Guarapari está pior, porque Guarapari é a promessa, é o quase, é a punheta. É o desejo que não se pode saciar por completo. Guarapari é o incompleto, o vazio, o que está para nascer – há anos – e não nasce. Guarapari é espera. É esperma: uma porra.

Eu sei que vocês discordam, mas eu, eu estou puto. Estou puto e preciso vomitar isso tudo.

Não adianta ter esperanças: elas só servem para nos manterem parados nos mesmos lugares. Não adianta ter paciência: ela nos prende também. Não adianta. Não adianta gritar, escrever em blogues ou tentar mobilizar. Não adianta. A vida, assim, é morte.

Cansei dos políticos escrotos que comandam esse lixo. Cansei dos turistas imbecis, que não trazem um centavo pra cá e não contribuem nem com um pouco mais de cultura. Cansei dos quiosques, a única opção dos fins de semana. Cansei das mesmas boates, mas mesmas mulheres vazias, dos mesmos homens babacas. Cansei do calor do verão e do frio insosso do inverno. Cansei das Ongs estúpidas, politiqueiras e caça-níqueis. Cansei das boas idéias que morrem antes de tomar corpo. Cansei de beber nos mesmos bares, de respirar os mesmos ares. Cansei de esperar o dia que meu trabalhos será reconhecido ou, pelo menos, o dia que os elogios venham a se transformar num retorno, em algo concreto, algo que vá além das palavras. Cansei. Cansei de esperar. Cansei dos mesmos nomes, há décadas comandando essa política de merda. Cansei das potencialidades que nunca ser realizam. Cansei de ouvir que “Guarapari é uma cidade maravilhosa”. Maravilhosa é o caralho! Mais dois anos de apatia e essa porra some do mapa! Casei de não ouvir nada. Cansei das bandas que se formam, de deformam, e des-formam como se fosse a coisa mais normal do mundo. Cansei dos talentos desperdiçados e dos conformismos. Cansei dos que se acostumaram a viver à mingua e acham que isso é regra. Cansei de pensar que somos melhores, quando na verdade somos escória: basta mudar o foco. Cansei de pensar que somos os piores também, porque, puta-que-pariu, pelo menos percebemos certas coisas. Cansei. Cansei de Guarapari e do Espírito Santo, com o seu “combate à corrupção”. Cansei dos debates na Assembléia e da ilusão de que “agora a coisa vai”. Cansei da hipocrisia. Cansei de mim, e da minha verborragia vazia. Cansei dos meus textos, dos meus sonhos de padaria e dos meus projetos engavetados. Cansei da frustração e cansei da apatia. Cansei do Rio Grande do Sul e de seu tradicionalismo ultrapassado, seu racismo disfarçado e seu sotaque carregado. Cansei dos Porto Alegrenses e seu pseudo-europeísmo. Cansei dos colorados – com seu fanatismo – e dos gremistas, com seu pedantismo. Cansei dos corinthianos, com sua mania escrota de destruir ônibus e espancar jogadores – admitam, seu imbecis, seu time é uma MERDA! Cansei dos flamenguistas e sua falta de vergonha na cara pra admitir que o tempo do mengão já passou. Cansei dos vascaínos com seus vice-campeonatos. Cansei de mim mesmo, do jeito que sou. Cansei de minha confiança no amanhã, de minha impressão de que estou no caminho certo, do meu mau-humor e dessas tentativas estúpidas de agradar todo mundo – o que nunca funciona. Cansei de esperar visitas no blogue, de responder comentários, de acreditar que a internet vai dar voz aos excluídos. É tudo mentira. Vai continuar tudo a mesma merda. Cansei do pessimismo e do otimismo. Cansei dos evangélicos e seus aleluias. Cansei do espetacularismo do cinema americano, da paradeira do cinema francês e da mendicância por reconhecimento do cinema brasileiro. Cansei. Cansei dos professores que não inovam, que não conseguem ver muito além do próprio nariz. Cansei. Cansei dos que acham que fazem a sua parte – por mais que se faça, nunca será suficiente: quem diz isso, mente. Cansei de esperar por um mundo melhor. Cansei. Cansei de buscar ser coerente. No fundo, ninguém é. Cansei de ser sensato, de ter bom gosto e bom senso. Cansei. Cansei de andar cansado. Cansei de escrever. Estou de saco cheio. E chega!

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CULTURA PARA TODOS, SIM OU NÃO?

Os intelectuais e políticos progressistas dos séculos 19 e 20 tinham feito do acesso à cultura para todos uma das bandeiras de seus combates. O capitalismo acreditou neles e chegamos lá: finalmente todo o mundo, pelo menos nos paises desenvolvidos, tem acesso gratuito à cultura de massa. Para esses intelectuais, a cultura traria a felicidade. Mas a cultura não trouxe a felicidade. Nem sequer o emprego.
(Pedro de Souza, Jornalista)


A frase acima foi retirada de um texto publicado no site do Observatório da Imprensa. O nome do texto é A Cultura não Traz Felicidade. O assunto, a diminuição do número de leitores de jornais diários na França e a relação disso com o acesso gratuito à cultura de massa, oferecido pelas novas mídias (DVDs, Internet, Kazaa etc.).

O autor desenvolve a idéia de que os jornais estão precisando inventar cada vez mais atrativos (suplementos, brindes, promoções) para atrair o leitor. O conteúdo, já não é mais suficiente.

Para o autor, o acesso gratuito à cultura de massa acabou gerando alguns problemas. Entre eles, demissões em massa nas gravadoras (por culpa da pirataria e do MP3) e nas redações (por culpa da Internet).

É aqui que eu pergunto: o que é preferível, ter acesso gratuito à cultura de massa, ou ter a indústria cultural empregando mais gente? Será que a cultura de massa vai desaparecer, por que seus lucros diminuirão a cada dia? Será que os meios alternativos não dão às pessoas a possibilidade de produzir e distribuir uma arte mais genuína do que aquela que se faz tendo a IC como mediadora? Será que o capitalismo vai tirar uma carta da manga e acabar com as maneiras de burlar o sistema?

Gostaria de discutir essas coisas com mais pessoas. Se alguém estiver afim, comentaí...


(Leiam também o texto do Pedro de Souza, vale a pena)

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terça-feira, junho 08, 2004

AVISO AOS NAVEGANTES

Galera, galera! Acho que a empolgação voltou – e a empolação. Acho que nossa comunidade virtual pode expandir-se novamente (o universo on-line – não o UOL, mas o outro – assemelha-se ao off-line e também funciona como um pulmão (só que este fuma)).

O John voltou a escrever, leiam isso. Isso é incrível! Isso é incrível, até pro Hulk.

Acho que vou abrir uma concorrência com John: Pizzas e Pigarros (o futuro do blog dele). Aqui, isso não é provocação, não! Se fosse, estaria falando do mel, que, segundo os primeiros, faz mal à saúde.

Olha, olha, acho que estou enferrujado. E sigo – algo cego e tateante – em busca do sentido. Sinto muito, por isso não acho. Talvez porque não saiba perder-me ainda (eu acho). “Eu quero é ver o” louco: basta de cabeça oca. Sejamos insanos e desacreditemos para (re)acreditar. Blogueiros do mundo, uní-vos. Hay que bloguar (êta portunhol!), pero sien perder la conexion jamás (seja com a web, seja a neuronal). É tempo, é tempo, é tempo e quem foi ao vento, perdeu o assento (ui!).

Aê, aê: ouvelêaí – só o não-ser não é. Aí, aí, nada não...

Hoje estou mais psycho, ouvindo Talking Heads de cabeça (heim? heim?). Reclama não, véi! Nóis segue assim assim, deixando rastro e criando (dez)cursos variados, para todos os (des)gostos. Você que não gosta de moi e sofre de dores nos: rins, fígado, azia, má digestão e o um mundo de coisas... toma Coscarque! (quem tem olhos de ler).

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VIOLÊNCIA TARANTINESCA

Gosto muito de Alberto Dines, mas acho que o excesso de nacionalismo o fez errar a mão ao comentar o resultado do Festival de Cannes deste ano. A bronca de Dines é com a vitória de Moore e com a presença de Tarantino no jure, ao que parece (clique aqui e leia o texto de Dines no Observatório da Imprensa). A Tarantino, mais uma vez, coube a alcunha de violento e eu, cá na minha ignorância, continuo sem conseguir pensar em Kill Bill como um filme violento. Pra mim, paras pálidas, nem Pulp Fiction é violento. A “estetização da violência” termina por esvaziá-la, acaba por torná-la outra coisa, esvaziando seu potencial de causar efeitos. Não é banalização, mas transformação em OUTRA coisa (que eu não sei definir ao certo – aqui entra a ignorância). Creio que Irreversível, de Noe, é um filme violento. A forma “seca” como o filme é filmado potencializa isso, torna tudo mais real. Os filmes de Tarantino permitem ao expectador um distanciamento fácil. É possível parar, durante o filme e pensar em diversas aspectos da cena sem ser o sangue “fake” que brota dos ferimentos dos personagens. Em Irreversível, por exemplo, o processo é outro. O filme é áspero, incômodo. A violência ali violenta o próprio expectador. São diferentes os caminhos tomados. Diferentes são, também, os efeitos.

Há que se concordar com Dines, talvez, quando ele se refere ao oportunismo político de Moore e de sua obra que, embora, creio eu, funcione como crítica, não deixa de ter muito disso mesmo: oportunismo. Aqui, cabe pensar qual os critérios para as escolhas em Cannes. Se o festival tem mesmo um caráter político, envolver-se com a discussão em torno dos EUA é mais do que natural.

Dines é esperto ao pensar em Moore e Tarantino como o mal recalcado que retorna em forma de sintoma. A violência estadunidense cresceria na medida em que a ela se dá mais evidência – mesmo tendo como intenção criticá-la (só pra deixar claro, Tarantino nem passa perto da crítica , alguém discorda disso?). Contudo, há aqui boa dose de retórica. Acho que, no fundo, nada seria dito se Diários da Motocicleta ganhasse a Palma de Ouro.

No más, é isso...

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O RETORNO

Depois de um ostracismo completo - que não rendeu pérola alguma - o filho pródigo à casa torna (cheio de lugares comuns). "Eu voltei, agora pra ficar, porque" blá blá blá.

Bem bem, devo dizer que o Coletivos foi muito bom, durante muito tempo. Mas, é pena, deixou de ser coletivo. Sem querer (e não queria mesmo, apesar das indiretas dos "camaradas"), acabei me tornando o único alimentador do bichinho. Tádinho, hoje alimenta-se de contos, apenas. A seriedade não combina mais com ele. (Nem comigo, no fundo o Psicotópicos nunca foi lá muito sério).

Estou pensando em algumas estratégias para organizar a suruba que virou isso aqui. Não sei se transfiro o Ronaldo pra cá, ou se o deixo por lá mesmo (afinal, ele já se acostumou por aquelas bandas, eu acho).

No más, espero ressussitar no Psicotópicos a idéia de rascunho. Retornar aos experimentos mais descompromissados, coisa que já não era mais possível dentro do Coletivos. Retorno à minha solidão, feliz feliz.

E é issaí....

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A BUSCA DA LIBERDADE É LUTA PARA VER O OSSO MORDER O CÃO

A liberdade não existe. O ser humano não vive, apenas resiste ou desiste. O mundo é cão, nós somos carne e osso.

E tenho Tito.

Ps.: Preciso inventar o sentido, para poder invertê-lo.

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