sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Os motivos da ausência

Há tempo que ensaio esta explicação. Acho que agora é hora boa pra isso.

Tenho postado pouco no Blog por vários motivos. O primeiro deles, é que o computador no qual eu trabalho aqui na Faculdade, foi substituído. Isso foi bom, por um lado, porque o meu velho PC andava caindo pelas tabelas. E foi mal, por outro, porque estou, há dias, reinstalando programas e mais programas.

Entre os programa que reinstalei, está o W.Bloggar, que é o software que eu uso para postar as mensagens no Blog. Tudo bem, tudo bom, se não fosse por um detalhe: há algum problema nas configurações do proxy da rede que não deixa o bichinho funcionar direito. E não encontro ninguém capaz de me ajudar a resolver isso. Absolutamente ninguém.

Enquanto a situação não se resolve, uso outro PC para postar. O problema é o trabalho que dá pra fazer isso. Então, um aviso: as atualizações serão menos freqüentes do que eu gostaria que fossem.

Espero que os meus poucos leitores (Carissa, Wilcler, João, Layla e Karina (você ainda me visita, Ka?)) sejam compreensivos e não me abandonem.

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Como as coisas andam nesse pé e a confecção de textos mais elaborados (dá pra chamar assim) foi interrompida, vou brincando de fazer poemas.

Aliás, isso é outra coisa que merece esclarecimento.

Como tudo no Blog, os poemas também não passam de ensaios (os tais rascunhos virtuais). Ainda os vejo com certa desconfiança. O ser disso que as pessoas chamam poesia ainda me escapa. Contudo, espero que entre uma estrofe e outra, surjam pérolas de humor negro que possam ser ressemantizadas numa galáxia distante.

Não há como esconder a influência orlândrica nisso tudo. Depois de Leminsky, Pessoa e Quintana, que na adolescência me encorajaram a navegar por esses ares, Orlando me ajudou a ver/ler a poesia como algo menos auratizado, capaz de ser apreendido pelos simplexos letais.

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Obrigado
Para Carissa

Quero escrever um texto
que seja mais que um obrigado,
mas a obrigação de fazê-lo
me deixa assim...
travado.

Então lá vai!
Vai assim
sem contexto:
tudo um mero pré-texto.

Pena ser escrito dessa forma,
num dia tão mal passado -
quase cru.

Dia onde as palavras faltam
e o poema vira aliado
da brevidade, das elipses,
das lacunas e das vaidades.

Pena ser escrito assim,
num dia que precede o carnaval e
seu fim
(o carnaval e
sua falta de fins).

É pena, é pena.
É pena que escrever é
como ser/estar:
tudo muda.

Tudo mudo:
mundo silencioso e
(in)quieto de palarvas
que se arrastam -
receando vir à luz
(ou à cruz?).

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Os últimos dias


Nos últimos dias,
tudo é questão de formato,
de paciência,
de tempo
e de trato.

Em dias assim
a gente se sente atado,
maio preso,
meio trapo,
menos príncipe do que sapo.

Tem dias e tem dias:
entre eles, as horas, os livros,
os ventos e os sussurros -
tudo muito noir,
tudo tiro no escuro.

Nos últimos dias,
tudo é questão de ornato,
de indecência,
de rima e de pactos
desfeitos
(fartos defeitos).

Em dias assim,
a gente deseja ser alado,
sentir euforia, não enfado -
ser mais esperto
que fechado.

Tem frias e tem frias:
entre elas,
os dias, os filmes e as noites
vadias.

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este é um poema explicativo

um dia me disseram:
o poeta é uma criação
da poesia --
assim como a beleza
o fingimento,
a mentira...

disseram também:
o poeta é o primo rico do artesão:
enquanto um trabalha com a letra
o outro trabalha com a mão

(a presença do coração
pode ser útil à rima
assim como um simples não.

a rima serve ao poema
como um profeta pagão:
sua vida é fazer previsão).

***

aqui tudo é
metalinguagem:
discutir a discussão,
criticar a auto-crítica,
dar mais explicação -
o sucesso depende disto:
de instituir a convenção.

e se daí surgir conversa
pode-se converter a análise
numa coisa mais singela:

algo mais perto do
bate-bate(papo)
do coração.

***
se você não pegou ainda
o espírito do porco,
entenda de uma vez por todas:
ao contrário do que dizem
este poeta está morto

(ou nunca nunca nasceu?).

este poeta é perneta
já não anda sem muleta
tem muito pouco de louco
e muito mais de careta.

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Cantos de amoregozo

Tudo tudo que eu precisava era
atá-la,
matá-la e
jogá-la na vala
- na cova rasa rasa - do
esquecimento
, entre os mortos ,
o passado e tudo aquilo que é
(bolooupuru)lento.

Tudo tudo que eu precisava...
resolver o desresolvido e partir para o
meio termo que é o lugar dos seres
conscientes e bombons
que passam pela vida
andando pela sombra -
que é pra ninguém ver.

Matar, matei.
Mudar, mudei. Mas
o ir da vida (re)volta
mais do que eleva e
levagente por cada
caminha!

De tudo tudo que eu precisava
poucounadacom...
segui assim assim.
Deixei os dias passarem
e brotou este mofo
aquiacolá
que me impede de andar
andando
por aiaiaiaiaiaiaia...

De tudo que eu conto e
reconto,
cadê o conto velho?
Fala na lata
- em meio aos ecos -
que a coisa não anda boa
aiaolado
e essas (la)anjinhas
carecem de auréolas
e de asas.

(Os cantos
de amoregozo
costumam ser escuros,
mas não ocultam gemidos).

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Biografia

Acho que devo a meus leitores algumas informações de caráter biográfico. Então, tentarei fazer um compêndio de meus (des)gostos mais atuais

Comecemos pela música (sempre perdoando as deficiências da memória).

Ultimamente tenho ouvido muito Los Hermanos (havia mesmo dúvidas quanto a isso?), Coldplay, Radiohead, Chico Buarque (Miriam ressuscitou isso), The Cardigans, Caetano, Nirvana, Alanis, The Who (não sei como sobrevivi tanto tempo sem saber quem eram esses caras). Ah, as cantores/bandas citados foram os mais ouvidos na última semana. Prometo mantê-los informados (alguém tem realmente interesse nisso?) das minhas fases musicais à medida que for entrando nelas. (Já tive uma longa fase The Smiths, REM, Pixies, Strokes que têm perdido força, tem fenecido nos últimos meses).

Ah! Gostei muito do CD novo do Skank.

Quanto a cinema, a última coisa boa que (re)vi (apesar das críticas do pessoal da Contracampo - eles odeiam o Paul Thomas Anderson) foi Embriagados de Amor. Ainda estou me perguntado quem era aquele Adam Sandler que apareceu na tela.

Assisti também a Réquiem para um Sonho e - putaquepariu! - que filme bacana! Estou querendo ver A Última Noite, do Spike Lee, mas não pensei em como farei isso ainda. (Gostei muito de Medo e Delírio também, que vi há alguns dias).

(Se algum estrangeiro, digo, alguém de fora de Guarapari estiver lendo isso, compreenda que por aqui a oferta de bons filmes nos cinemas é reduzidíssima).

Livros. Bem livros eu ando lendo uma penca ao mesmo tempo, mas prefiro deter-me nos romances, pois os de teoria cito com mais freqüência no Blog.

Estou lendo Pequenas Criaturas, do Rubem Fonseca e achando o estilo muito diferente (é um Rubem Fonseca menos visceral, alguém que parece dar-se conta, aos poucos, de que o tempo/idade muda as pessoas). Estou lendo também As Horas Nuas, da Lygia Fagundes Telles e, por incrível que pareça, estou gostando (eu tinha um pé atrás com ela). Dei uma parada em Orlando, da Virgínia Wolf e em A Paixão Segundo G.H., de Clarisse Lispector, mas não sei exatamente porquê. E comecei a ler A Fúria do Corpo, do João Gilberto Noll, e estou gostando bastante.

No mais, tenho trabalhado muito. Entrei naquela fase dos trabalhos massacrantes e às vezes acho que o desânimo vai acabar me matando. Mas navegar é preciso, então lá vou eu "no automático", como diria John.

Entre os planos que tenho para o Blog está o de escrever um texto para cada uma das pessoas da "galera" da J.Simões. Ia escrever os nomes, mas para evitar esquecimentos e conseqüentes mágoas, deixo o "galera" como termo representativo do "povo todo".

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terça-feira, fevereiro 17, 2004

Eu jurei que não ia fazer este tipo de coisa no blog, mas TÁ FODA!

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sábado, fevereiro 14, 2004

Em Breves

Pessoas pessoas:
libertem-se das amarras,
vamos vamos
que não há tempo nem vento -
o tudo
é muito leeeeeeeeeeeeeeeeeento...

e o resto é rápido e rasteiro:
podemos
C
A
I
R
a qualquer
momento.

Pessoas pessoas:
digam adeus ao passado e
dêem presentes feitos por vocês mesmos -
porque isso não se compra.

Pessoas pessoas:
compreendam os silêncios reais e
atualizem o virtual em beijos
quentes quentes -
de molhar os lábios.

Pessoas pessoas:
saibam a hora de parar -
a beleza às vezes é breve (e doce)
como um suspiro.

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Pra não esquecer

Embora eu saiba que ninguém tem visitado o Blog, não quero deixar órfãos meus visitantes imaginários. Para um pseudojornalista, pensar no leitor é um princípio básico. E ele/você, o leitor, está aqui o tempo todo, embora não pareça. É claro que o você em questão está mais próximo das entidades/representações imateriais de meu (in)consciente, o que não os torna, necessariamente, não-seres mas torna seu seus seres excessivamente inapreensíveis - como a verdade-mulher nietzscheana.

O importante neste post é ser suficientemente honesto para dizer que as linhas acima são praticamente vazias de sentido. Algo que vai, aos poucos, se tornando lugar-comum num microcosmo excessivamente autoreferencial (é o caso do Blog). A ausência de interferências exteriores, a ausência da relação com o outro/outra deixa tudo com um quê de brincadeira com o umbigo (por isso, de certa forma, compreendo o neologismo averbuckiano, a saber, "umbiguismo", como definição para um texto que interessa a apenas uma pessoa, no caso, aquela que escreve).

Voltando à primeira frase, pra não perder o costume de ser autoreferencial, reforço que este post tem como único objetivo avisar aos leitores (sei que não existem da forma como eu queria que existisse, mas a palavra me conforta, portanto) que não vou parar de escrever por aqui. O grande problema é que os últimos textos produzidos em minha manufatura são impróprios para a Web. Dependem excessivamente do tempo. E quando falo tempo, refiro-me ao futuro. Então, persistindo nos lugares comuns, digo que meus textos do presente só poderão ser atualizados no futuro, quando já forem (bem)passado(s). Mas se o tempo(futuro) não quiser, deixemos tudo por conta do vento e relembremos sempre a obra-prima do Veríssimo pai, terminando o post assim, (mal)assado.

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quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Galera, resolvi o problema com o W.Bloggar: tive de reinstalar o sistema (como a Pitty, só pra ser Pop). Nosso contato (???) continua a partir daqui...

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terça-feira, fevereiro 10, 2004

GALERA, ACHO QUE O WBLOGGAR, O PROGRAMA QUE EU USO PRA ATUALIZAR OS POSTS ESTÁ COM PROBLEMAS. VOLTAREI A POSTAR COM MAIS FREQÜÊNCIA ASSIM QUE AS COISAS SE RESOLVEREM. POR ENQUANTO, SERE LACÔNICO, SUCINTO AO EXTREMO, QUASE UM DALTON TREVISAN SEM TALENTO. CHEGA DE PROLIXIA. FRASES CURTAS. E GROSSAS. E TCHAU.

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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Comentários sobre os comentários (sempre as dobras do discurso)

Ontem um amigo (John) fez um comentário (pessoalmente, já que ele não sabe usar o Comment do blogger) sobre o Blog. Estou tentando evitar tornar isso aqui um diário (a idéia de Big Blogger não me agrada), mas nesse caso, acho que se faz necessário uma intervenção mais personalizada.

Segundo Psico John, o Blog está confuso demais, que não está claro o público que eu quero atingir e que minhas piadinhas são sem graça (perdi o sono por causa disso, acreditem). Tendo em vista que John é uma espécie de ancião em potencial, vou continuar com as piadinhas (que no fundo não são piadinhas, entendem? isso é mais uma necessidade de quebrar o ritmo da coisa do que provocar risos... é o tempo do leitor... mas tudo bem, tenho que superar essa minha necessidade de querer explicar tudo... a incompreensão deve fazer parte do processo... e essa tecla também já foi gasta aqui).

Quanto ao público alvo, digo logo que não existe isso aqui. A idéia é juntar as mãos ao meu redor, pra não faltar amor (ver/ouvir Los Hermanos). Isso aqui é uma ilha "a milhas e milhas e milhas de qualquer lugar", nessa terra de gigantes, onde tudo já foi dito antes, pelo Humberto Gessinger ou por pessoas mais inteligentes. Meu Blog is my message in a bottle (ver The Police) pros navegantes virtuais. Quem tiver internet para ler, que me acompanhe nessa tentativa de tecer comentários sobre a vida (e sobre os bandidos). Tanto melhor se desta empreitada nascer uma teia capaz de prender (e apreender) idéias libertadoras, alentadoras, sonhadoras e "oras" afins (ver Drumond).

Hilda Hilst morreu há dois dias, mas sua obra perdura como ode ao intimismo, aos fluxos internos e à loucura (procuram saber quem é Hilda Hilst e seus cachorros).

Há muito de mim aqui. Muito fragmento. Muito complemento. E muito do que vai no momento. Portando, só pra lembrar, as incompreensões andam by my side (como os estrangeirismos).

E John, que seria de mim sem as referências? Que seria de mim sem as matrizes simbólicas que me fazem este sujeito esquisito, espasmódico e levemente esquizofrênico? Não responda. Não quero nem pensar. Portanto, ficam/fixam as referências, nem tão obscuras assim. Não há graças onde não há camadas (ainda que tênues e mutantis). Espero causar menos risos e mais inquietações.

Sejam bem vindos a meu caos, ao meu sótão, aos meus fluxos de (in)conseqüência.

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quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Comentários sobre o post "Falar é incorrer em tautologias"

"Falar é incorrer em tautologias" é uma especulação, uma tentativa despretensiosa (embora às vezes não pareça) de organizar um amontoado de idéias caóticas que vêm me perturbando há uns bons anos. A reflexão acerca da Biblioteca de Babel surgiu em mim pela primeira vez após uma leitura distorcida (à maneira descrita por Bloom) de Borges. A segunda vez que a idéia me perturbou foi quando li O Pêndulo de Foucault, de Humberto Eco, onde o italiano retoma a idéia de Borges (aliás, tenho observado que pensar a partir de Borges tornou-se uma espécie de lugar comum). Há nesse livro um personagem que usa um programa de computador que faz todas as combinações possíveis de um grupo de signos fornecidos pelo usuário. Os resultados poderiam ter genialidades, mas a grande parte era desprezível. As inquietações suscitadas pelas leituras adolescentes de Borges e Eco ressurgiram mais tarde, quando entrei na faculdade e intensifiquei o uso da Internet. Dessa terceira (número cabalístico?) reflexão saiu o texto Borges e a Pós-modernidade, ao qual faço referência no primeiro parágrafo de "Falar é incorrer em Tautologias".

Como já expliquei no texto anterior, os usos que fiz das metáforas borgeanas nesta segunda investida pseudoteórica foram diversos dos da primeira. Dessa vez o objetivo era pensar o conceito de originalidade, que me parece uma espécie de sombra perturbadora - silhueta mal definida na bruma - no universo das críticas literária e cinematográfica (as duas com as quais tenho mais intimidade).

Sempre é bom deixar claro que não disponho dos instrumentos teóricos necessários para aprofundar-me nesse assunto da forma como gostaria. O texto (como a maioria dos textos que tenho produzido ultimamente) busca ser - ainda - uma espécie de provocação. Dicas, sugestões de bibliografias, comentários e críticas são bem vindos. O que ser quer - aqui e lá - é "botar lenha na fogueira", reacender - para (re)aquecer - discussões importantes das quais se parece fugir.

A impressão que tenho é de que há uma espécie de crise paradigmática no campo da crítica. Crise que os críticos se recusam a encarar. (Vale destacar que essa impressão de crise paradigmática parece estar presente em outros campos de saber, como no caso do jornalismo, minha área de atuação possível (sou graduando em comunicação social), onde certas discussões/polêmicas fundamentais vêm sendo adiadas há anos, o que resulta numa crise generalizada).

Posso estar absolutamente errado em minhas reflexões/observações, mas isso é algo que preciso saber. E para que isso aconteça, preciso da ajuda de quem está no olho do furacão: os críticos.

No momento, já não me assusta tanto a idéia de ser mal compreendido, mas sim a idéia de ser ignorado: por isso insisto em explicar os motivos e objetivos de meus textos, essas colchas de retalhos, repletas de buracos e carentes de harmonia. É nos interstícios do texto, de suas falhas, buracos, abduções e contradições que quero ver surgir o debate. Mas esse debate deve acontecer entre amigos. Talvez fosse mais adequado, inclusive, chamá-lo diálogo ou conversa.

Em toda conversa, faz-se mister partir de um ponto. É isso que estou tentando propor aqui e lá: um ponto de partida. Em vez de criar contendas teóricas que tornam-se uma batalha de egos, a idéia aqui é juntar mãos - e cabeças - ao redor de alguma coisa - que ainda não se sabe ao certo de que se trata.

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quarta-feira, fevereiro 04, 2004

RECOMENDAÇÕES

Se você chegou até aqui por meio de um e-mail meu, você é meu amigo (bom, pelo menos eu acho) e as recomendações abaixo são pra você. Se não, leia de qualquer forma as recomendação a seguir, podem ser úteis:

1) A proposta deste Blog (e isso está escrito em algum lugar aqui) é ser um rascunho virtual, por isso, como na vida, tem muita coisa errada (merecendo revisão) nele.
2) A maior parte dos textos é meu, mas as temáticas são variadas demais, portanto, se começar a ler um texto que achar um porre, páre de ler. Este Blog é fã de Nelson Rodrigues e também tem um pé atrás (sem piadinhas, ok?) com a unanimidade.
3) Os títulos em amarelo serão devidademente substituídos a seu tempo. Por hora, deixo-os assim mesmo (é que, antigamente, o fundo do Blog era todo preto, mas os clientes que sofrem de astigmatismo reclamaram e o departamento de marketing resolveu fazer algumas modificações).
4) O Blog é dinâmico e um texto lido hoje, pode mudar (ou desaparecer amanhã). Portanto, pessoas avessas à mudança (os amantes da regularidade) podem ter algumas decepções.
5) Esse (psico)tópico entra só porque gosto do número 5.

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"Falar é incorrer em tautologias"

Há dois anos, mais ou menos, escrevi um texto que fazia referência ao conto A Biblioteca de Babel, do escritor argentino Jorge Luiz Borges. Na época, eu utilizava a metáfora borgeana sobre o universo para pensar a Internet e pregar a democratização dos meios de comunicação. O delírio, naquela época, visava estabelecer o diálogo entre os seres humanos, fazer todos falarem sobre tudo, romper as interdições do discurso apontadas por Foucault. Escrito de forma semi-automática, o texto naquela época, soava mais como desabafo - e funcionava melhor assim, pois me faltavam os instrumentos certos para aprofundar a discussão: era puro insight.

Gostaria de retomar aqui a idéia da Biblioteca Total para discutir não mais o ciberespaço (e os espaços públicos tradicionais, no sentido habermasiano), mas para divagar sobre o conceito de originalidade. Embora mergulhe um pouco mais fundo nas teorias, este texto não visa ser um tratado sobre o assunto, mas suscitar discussões (nunca é demais explicar que esse é o objetivo do Blog).

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A impressão de que uma avalanche de textos e publicações nos soterra não é só minha: Montaigne, como atesta Foucault, em As palavras e as coisas já sentira isso. Em seu Ensaios, ele escreveu: "Há mais a fazer interpretando interpretando as interpretações do que interpretando as coisas; e mais livros sobre os livros que sobre qualquer outro assunto; nós não fazemos mais que nos entreglosar"

Se pensarmos que a Internet não era nem um delírio na cabeça de um louco qualquer na época em que Montaigne escreveu o texto acima (e que era incipiente demais para ser bem apreendida por Foucault na época de As palavras e as coisas), a situação se torna ainda mais assustadora.

Segundo o estudo "Quanta Informação? - 2003", da Universidade da Califórnia, em Berkeley, por exemplo,

"A quantidade de informação gerada e armazenada a cada ano no mundo chegou a um volume tão grande que cientistas dizem que a Humanidade está sendo engolida por um oceano de dados. O primeiro grande estudo dedicado unicamente à tarefa de medir quanta informação há no mundo estima que em 2002 foram produzidos e estocados cinco hexabytes somente em meios físicos (papel, filme, meios óticos e magnéticos). Isso equivale ao conteúdo de 500 mil bibliotecas do Congresso Nacional dos Estados Unidos, cada uma delas com 19 milhões de livros e 56 milhões de manuscritos" (O Globo, 04 de novembro de 2003).

É lugar comum dizer isso, mas é mais informação do que uma pessoa pode consumir em uma vida.

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Dia desses, comentava com uma amiga sobre uma idéia que tivera para um conto. Antes que eu concluísse a explicação, ela começou a me interromper, citando alguns gênios que haviam desenvolvido aquela idéia (pelos nomes citados, nem cogitei a hipótese de fazer melhor e justificar a falta de originalidade com um acréscimo de qualidade).

O roteirista norte-americano Charlie Kauffman foi indicado ao Oscar pelo roteiro de Adaptação (dirigido por Spike Jonze), no ano passado. O argumento para o filme nasceu de uma tentativa frustrada de Kauffman para adaptar um livro (O caçador de orquídeas) para as telas. A busca da originalidade pôs em crise o roteirista. A partir do fracasso e da crise desencadeada na busca, Kauffman criou um novo roteiro. Incluiu-se no filme, falou sobre sua crise criativa e fez uma bela história. Os clichês, contudo, também estavam lá (o que, nesse caso, não desqualificou em nada o filme).

Há muito tempo que essa sensação de que há uma espécie de esgotamento no mundo me persegue. Compartilhei essa opinião com a amiga acima citada e ela sintetizou a coisa da seguinte forma: "Tantos gênios passaram pelo mundo!".

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Ontem, ao navegar na Internet, esbarrei numa entrevista com o crítico literário norte-americano Harold Bloom, publicada na Folha de São Paulo, em 31 de agosto de 91.Nesta entrevista, Bloom fala um pouco sobre seu livro A angústia da influência (1973). Segundo a teoria de Boom, a tradição literária seria um "ciclo interminável onde os novos escritores distorcem seus precursores na tentativa de criar suas próprias obras" [Bernardo de Carvalho, na abertura da entrevista]. Para Bloom, por exemplo, Shakespeare teria bebido na fonte de Christopher Marlowe (acho que a Virgínia Wolf cita Marlowe em Orlando, mas não tenho certeza). Na entrevista, ele diz:

"Shakespeare (...) é num nível notável uma tremenda transvalorização, uma poderosa distorção de uma figura menor, que é Christopher Marlowe. O vilão das tragédias de Shakespeare - Iago, Edmund, McBeth - não existiria sem Barrabás ou Tamburlaine, de Marlowe. O que Shabespeare fez foi explodir, ampliar tudo isso. É como se Marlowe fosse um peixinho engolido por uma baleia. É a lei da vida, da literatura e do intelecto. É como o Pierre Menard de Borges. O problema é saber se você é a vítima dessa relação ou se sabe o que está fazendo, para poder fazer alguma coisa".

Não conheço Bloom como deveria para poder tecer grandes comentários acerca de sua teoria, mas confesso que esse fragmento de A angústia da influência conseguiu criar em mim certa inquietação e curiosidade, por ir de encontro a algumas coisas sobre as quais tenho pensado muito nos últimos anos.

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Tantos gênios, tantos livros, tantas idéias, tantas bibliotecas. Entre os gênios, está Borges. E entre as bibliotecas, a de Babel. Vejamos o argentino define esta biblioteca em seu conto:

"Cuando se proclamó que la Biblioteca abarcaba todos los libros, la primera impresión fue de extravagante felicidad. Todos los hombres se sintieron señores de un tesoro intacto y secreto. No había problema personal o mundial cuya elocuente solución no existiera: en algún hexágono. El universo estaba justificado, el universo bruscamente usurpó las dimensiones ilimitadas de la esperanza. En aquel tiempo se habló mucho de las Vindicaciones: libros de apología y de profecía, que para siempre vindicaban los actos de cada hombre del universo y guardaban arcanos prodigiosos para su porvenir. Miles de codiciosos abandonaron el dulce hexágono natal y se lanzaron escaleras arriba, urgidos por el vano propósito de encontrar su Vindicación. Esos peregrinos disputaban en los corredores estrechos, proferían oscuras maldiciones, se estrangulaban en las escaleras divinas, arrojaban los libros engañosos al fondo de los túneles, morían despeñados por los hombres de regiones remotas. Otros se enloquecieron... Las Vindicaciones existen (yo he visto dos que se refieren a personas del porvenir, a personas acaso no imaginarias) pero los buscadores no recordaban que la posibilidad de que un hombre encuentre la suya, o alguna pérfida variación de la suya, es computable en cero."

Assim como a Biblioteca de Borges, nossa "sociedade da informação" pode tornar-se uma sociedade da desinformação, se não existirem bibliotecários competentes.

***
Os conceitos de epistême, em Foucault e de crise, em Kuhn; a rebelião de Feirebend contra o método; as críticas da modernidade; a antropologia contemporânea; tudo isso deixa em mim a impressão de pode-se encontrar textos para justificar tudo no mundo contemporâneo. Em algum hexágono da biblioteca "pós-moderna" em que vivemos há um livro para legitimar qualquer coisa. A sensação de esgotamento, de que tudo está dado, de alguma forma, como nos textos da Biblioteca de Babel, me parece nítida hoje, porque no fundo, como o personagem de Borges,

"No puedo combinar unos caracteres
dhcmrlchtdj
que la divina Biblioteca no haya previsto y que en alguna de sus lenguas secretas no encierren un terrible sentido. Nadie puede articular una sílaba que no esté llena de ternuras y de temores; que no sea en alguno de esos lenguajes el nombre poderoso de un dios. Hablar es incurrir en tautologías. Esta epístola inútil y palabrera ya existe en uno de los treinta volúmenes de los cinco anaqueles de uno de los incontables hexágonos-y también su refutación. (Un número n de lenguajes posibles usa el mismo vocabulario; en algunos, el símbolo biblioteca admite la correcta definición ubicuo y perdurable sistema de galerías hexagonales, pero biblioteca es pan o pirámide o cualquier otra cosa, y las siete palabras que la definen tienen otro valor. Tú, que me lees, ¿estás seguro de entender mi lenguaje?)."

É possível, ou melhor, é presumível que muitas pessoas tenham idéias novas (pelo menos para elas) a todo o instante. Mas rastrear a originalidade disso num mundo com tanta informação, se torna algo cada vez mais complicado. Identificar a influência de Marlowe em Shakespeare é uma coisa e - pensando hipoteticamente - identificar a influência do velhinho que contava histórias ao pé do fogo nos textos do último gênio da liberatura sul-matogrossense é algo bem mais complicado.

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De minha parte, nos últimos anos não consigo pensar em ninguém que tenha criado algo realmente novo; quero dizer, sem estar, de uma forma ou de outra, preso a esta ou àquela influência. Contudo, acredito que isso não diminui a beleza de certas obras (e aqui caberia uma discussão do conceito de beleza que não estou apto a desenvolver).

(Poderíamos citar o conceito pós-moderno de bricolagem pra explicar isso. Ou mesmo fazer uma analogia com o virtual atualizado de Pierre Levy: criar algo novo a partir de algo existente - atualizar o virtual - não torna esta nova criação inferior à primeira, seu ponto de partida).

Comentando uma conferência de Borges em texto para a Folha de São Paulo, Luiz Costa Lima escreve: "Borges manifesta a esperança de que possamos esperar por um tempo ´em que os homens não sejam mais tão conscientes da história como somos. Um tempo virá em que os homens se importarão muito pouco com os acidentes e circunstâncias da beleza; estarão preocupados com a própria beleza´. A história, em suma, é o que nos impede o acesso pleno à beleza" .

A visão poética de Borges sobre a beleza pode ser um ponto de partida interessante para se repensar o valor atribuído à originalidade numa obra de arte (assim como as investigações de Benjamim no clássico A obra de arte na época de sua reprodutibilidade). Mas, por outro lado, coloca um peso grande sobre o ainda muito relativo/subjetivo conceito de beleza.

Vale destacar que Bloom também inspirou-se em Borges para escrever sua teoria. Ao que parece, o argentino já percebia esse processo em Shakespeare também. Segundo, Bloom, Borges buscaria subterfúgios para escapar disso:

"Acho que Borges (...) dissimulou essa angústia. A razão pela qual só escreveu histórias intricadas, que são variações interpretativas de escritores precedentes, é que ele não queria confrontar o seu próprio ´romance familiar´. Por razões óbvias, como a relação muito próxima com a mãe. Ele não queria confrontar nem suas próprias idéias sobre a influência".


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As questões que gostaria de colocar agora são as seguintes: vale a pena valorizar tanto a originalidade? Qual o valor da categoria originalidade na moderna crítica literária (em especial, na brasileira)? Como pensar o conceito de originalidade no mundo contemporâneo? Até que ponto nos cabe recalcar a "angústia da influência"? Como conceber a "beleza" de uma obra de arte sem recorrer ao conceito de originalidade?

Deixo as questões em aberto, esperando - do fundo do coração - iniciar uma discussão sobre isso.

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PROPOSTA DE PESQUISA

Galera,

Não sei se vocês repararam, mas muitas vezes, quando grupos mais ou menos da mesma faixa etária que a gente (nascidos entre 76 e 82) se reúnem, alguns comentários sobre desenhos, músicas e filmes que marcaram a adolescência surgem e a conversa fica super animada, por que todos têm lembranças em comum (Caverna do Dragão, Thundercats, Smurfs, Corrida Maluca; Guns and Roses, Legião Urbana, Nirvana; Guerra nas Estrelas, Conta Comigo, Tubarão, Curtindo a Vida Adoidado).

Estava conversando com uns amigos semana passada (Miriam e Juninho) e isso aconteceu outra vez. Aí falai com eles que poderíamos nos reunir um dia só pra falar sobre isso e gravar a conversa, pra registrar o que saía. Fiquei com a idéia na cabeça durante a semana passada e cheguei à conclusão de que isso poderia até render um interessante TCC para o pessoal de Comunicação Social.

Partindo daí, perguntar quem acha a idéia interessante. Se um número razoável (entre 8 e 10 pessoas, pelo menos) achar que pode ser uma experiência interessante, organizaremos discussões a respeito disso em lugares tranqüilos (botecos?) e agilizaremos um contato nela Net (listas de discussão) para levantar o maior numero de dados (memórias) possíveis sobre o assunto. O objetivo será rastrear as matrizes comuns que podem, de alguma forma, ter influenciado na formação de nossas subjetividades.

Numa segunda etapa, partiríamos para um mapeamento, procurando dados sobre os temas que surgirem na Internet e buscando situá-los no tempo.

Na terceira etapa, poderíamos analisar os conteúdos das obras (desenhos, músicas, filmes) e identificar as similitudes que expressem características da época.

Se alguém se interessar, deixe um comentário neste post com seu e-mail que eu entrarei em contato. Fale sobre o que achou, tire dúvidas e faça sugestões. Se ninguém estiver a fim, beleza, vou tentar fazer a coisa de outras formas.

Um abraço.


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