sexta-feira, outubro 29, 2004

"E ATÉ LÁ..."



Tinha um texto bem bacana sobre blogues para postar aqui, mas o dia hoje foi meio corrido. Pra não deixar a sexta-feira passar em branco, resolvi escrever um “post” descontraído, para agradecer às visitas da semana.

Tanta gente bacana deu as caras no Psicotópicos! Gente inteligente, gente engraçada, gente indignada e, sobretudo, gente disposta a “cuspir conversa”, o que – afinal de contas – é o que importa.

Escrevo também pra dizer que, em virtude do feriado prolongado, só voltarei a postar na quarta-feira. Se você (visitante) passar por aqui nesse período, deixe um Psicomentário que eu prometo dar sinais de vida digital assim que retornar, na semana que vem.

“E até lá, vamos viver”, como diria o som de “Metal contra as nuvens”.

Bom fim de semana para toda coletividade psíquica.

Ah! Aproveitando uma certa musicalidade que tomou conta de mim hoje, deixo um trecho de “Todo Carnaval tem seu Fim”, do Los Hermanos (letra do Marcelo Camelo), para reflexão:

“Toda escolha é feita por quem acorda já deitado. Toda Folha elege um alguém que mora logo ao lado”

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quinta-feira, outubro 28, 2004

QUE ESCOLA É ESSA?!



Lembro bem de apenas um trecho do quadro “Adolescentes”, que até pouco tempo passava no Fantástico, sob a batuta de Regina Case. O tema em discussão naquela noite era vaidade. Foram ouvidos dois universos: o das patricinhas de classe média alta e o das “patricinhas” da periferia. O primeiro fato que merece destaque é a o fato de que as “patricinhas” da periferia perseguem o estilo de vida das da classe média (sempre com desvantagem). Os objetivos são os mesmos, mas a dificuldade para alcançá-los é infinitamente maior. Geralmente, quem paga pela vaidade das jovens são os pais.

O segundo ponto, e aqui entramos no tema central deste texto, foi a unanimidade de ambos os grupos de “patricinhas” no que se refere à definição de qual a parte mais importante do corpo, aquela merecedora dos maiores cuidados. De forma quase unânime, as meninas escolheram: o cabelo. Até aí tudo bem. Acontece que no grupo das “patricinhas” da periferia, o problema é um pouco mais delicado e parece extrapolar os limites da vaidade pura e simples.

Grande parte das meninas entrevistadas por Regina Case era negra. O padrão de beleza perseguido, no entanto, era o branco, de cabelos lisos! Uma das meninas, falando sobre a quantidade de dinheiro que gasta mensalmente no salão de beleza com alisamento, referindo-se à raiz crespa do cabelo que começava a aparecer, disse: “são os ancestrais gritando”. Sem querer, com essa observação a adolescente apontava para um problema que já está incrustado na cabeça dos negros brasileiros. Não estou falando dos cabelos, mas do padrão branco/europeu de beleza. Um padrão que, aceito pela maioria e propagado pela mídia (como aponta Muniz Sodré), faz com que os negros brasileiros tentem esconder as próprias origens. Situações como esta demonstram que as estratégias de banqueamento da sociedade brasileira, que pontuam nossa história, podem não ter funcionado cem por cento, mas deixaram seqüelas difíceis de se remover.


Uma matéria do Site Repórter Social, que recebeu menção honrosa no 24º Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, aponta que esse tipo de preconceito – essa necessidade de torna-se branco para ser aceito, à maneira de Machado de Assis – é prática comum nas – pasmem! – escolas brasileiras. Não, não; não estou falando apenas que os alunos são preconceituosos (isso é quase óbvio). Estou dizendo é que as instituições de ensino brasileiras não fazem NADA para coibir essa prática. (Leiam a matéria completa).

E as escolas tupiniquins não acobertam apenas o preconceito racial. A matéria citada aponta vários tipos de desrespeito aos Direitos Humanos que florescem no ambiente escolar: intolerância religiosa, sexismo, discriminação contra deficientes físicos, pode-se encontrar de tudo. O uniforme escolar, que teoricamente deveria servir para “igualar” os alunos, perde o sentido quando nos deparamos com a situação das minorias nesse ambiente.

Quando as manifestações de preconceito limitam-se a espaços virtuais, como no caso do Orkut, comentado em outra ocasião, o mal existe, mas em menores proporções (o que não significa que não devamos combate-lo, é claro). Mas alguém já parou pra pensar qual na gravidade disso dentro do ambiente escolar? Como isso afeta a vida das crianças, de uma forma geral? Que tipo de adulto essas escolas preconceituosas ajudam a (de)formar? A matéria do Repórter Social dá uma pista...

“Tânia Portella, da equipe do Observatório da Educação, lembra que ninguém nasce racista, intolerante, desrespeitoso. “A gente vai formando essa percepção nas práticas do dia-a-dia. Se na escola você vê esse comportamento e ele não é combatido, você adota essa postura como natural e aceitável.” Única negra quando cursava o ensino fundamental, Tânia lembra que um dia seus colegas disseram que não queriam brincar com ela. Contou à professora, mas ela não falou nada. “Dessa forma você dá o aval para que a criança pratique intolerância”, observa a educadora, analista de questões raciais.

Tânia conta que numa discussão com educadores na Casa da Cultura da Mulher Negra, em Santos (SP), sobre a Lei 10.639/2003, que prevê o estudo de história da cultura afro-brasileira nas escolas, um dos professores, evangélico, definiu a lei como “coisa do diabo”.

A escola é a instituição que mais perpetua a discriminação, principalmente contra os negros”, diz Ivanir dos Santos, presidente do Centro de Articulação das Populações Marginalizas, no Rio de Janeiro. Ela conta que no Rio um dos problemas recentes é justamente a discriminação dos pentecostais contra outras religiões, principalmente as de matriz afro-brasileira.

O que mais assusta é ver esse discurso da intolerância por parte de educadores, que são formadores de opinião”, observa Tânia Portella. Ela cita ainda o caso de uma diretora de escola, ouvida por Raquel Oliveira em seu mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que declarou não ser preconceituosa contra negros. “E se você tiver alunos homossexuais?”, indagou a pesquisadora. “Ah, aí também não!””



Essa discussão me remete a uma outra, que acompanhei no Blogue da Laura, sobre o que nos Estados Unidos é conhecido como "Bullying". Laura conta que “a maioria dos congressos de educação realizados nos USA e no Canadá têm discutido o "Bullying". Esse termo não apresenta tradução exata no português, mas é possível afirmar que se refere à prática de intimidação e constrangimento sofrida por crianças e jovens no ambiente escolar. Na maioria dos casos, o agressor tem a mesma idade de sua vítima. E, um alerta aos navegantes, esse não é um fenômeno presente apenas na terra dos gringos, segundo li numa revista de educação, o número de crianças que se queixa de ser humilhada física e moralmente aumenta a cada dia no Brasil. Sabe aquele menino ou menina gordinhos que são "carinhosamente" apelidados pelos colegas de "baleia", "rolha de poço" e "Free Willy"? Pois é , essa é uma das formas mais comuns de “Bullying” e, conforme afirma a maioria dos psicólogos, essa atitude vai aos poucos transformando a criança num ser inseguro, temeroso e propenso à depressão”. (ver blogue da Laura).

Depois disso, preciso perguntar: Que tipo de sociedade nossos professores e diretores estão ajudando a construir? Que país miscigenado é este, que faz com que meninas negras se submetam a sessões de tortura no cabeleireiro para alcançarem um ideal branco de beleza?


A presidente da ONG Escola de Gente, Cláudia Werneck, que lida com portadores de deficiência e a intolerância lingüística, acredita que a escola deve trabalhar com o conceito de diversidade, não só de tolerância. “Aí ninguém precisa ‘tolerar’ ninguém, porque todos vão respeitar as diferenças”, afirma. “Professores e alunos precisam estar preparados para aceitar a diversidade. As pessoas precisam aprender a respeitar não por pena, mas porque todos têm limitações e são diferentes entre si”.

O caminho apontado por Cláudia Werneck é interessante, mas antes de chegarmos a ele, precisamos tomar estradas tortuosas. Uma delas, é observar da escola mais de perto, exigir professores qualificados não apenas academicamente, mas “humanamente”. A idéia de instituir a disciplina Direitos Humanos no currículo do ensino fundamental pode ser interessante, assim como o desenvolvimento de atividades que favoreçam a integração entre os estudantes e escolas.

Vale ressaltar que, muitas vezes, o problema está na própria família da criança, por isso, a ação no sentido de preparar as escolas para lidarem com isso deve ser conjunta. É preciso que todas as escolas tenham um mínimo de consciência acerca da necessidade do respeito aos Direitos Humanos. Professores tacanhas, que defendem a tese de que Direitos Humanos só servem para defender bandido deveriam ser banidos do sistema educacional brasileiro (e mundial).

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Toda essa discussão mereceria um debate mais amplo, que extrapolaria os limites deste “post”. O ideal é que continuemos essa conversa nos comentários, pra ver até onde ela chega. Pra começar, digam aí: que tipo de atitude vocês acham que deveria ser tomada para mudar essa realidade?

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quarta-feira, outubro 27, 2004

OS MONOPÓLIOS DA INFORMAÇÃO



Numa sociedade complexa como a brasileira, marcada por diferenças mil – de culturas, de classes, de sotaques... – o mínimo que deveríamos esperar de uma imprensa que se propusesse a representar a realidade do país seria pluralismo, conflito, debate, apresentação das diversas visões de mundo – “redes de significados”, para usar um termo da antropologia – que compõem nossa sociedade.

Ao contrário disso, a mídia brasileira prima pela homogeneização e pelas tentativa de manipulação da opinião pública. Pensávamos que 1989 – com o consenso midiático em torno de Collor – estava superado, mas nos enganamos feio. As eleições desse ano, no maior colégio eleitoral do país, têm trazido à tona um tumor que há anos apodrece a democracia brasileira: o partidarismo dissimulado dos grandes jornais.

No universo monocromático desenhado pelos veículos de comunicação, só existe um caminho para tudo. Tudo é colocado de forma simplista, aceito aprioristicamente como evidente, irreversível. Assim foi com a idéia de globalização, com a filosofia (?) neoliberal e com o desmantelamento do Estado brasileiro. É dessa forma que a cobertura eleitoral é feita: parcialmente. Para o leitor, apenas um caminho se apresenta como certo, seguro, confiável: prato cheio pra quem prefere não esquentar (leia-se pensar).

A economia linha dura adotada pelo PT do governo não foi suficiente para satisfazer dos “poderosos”, essa minoria sem rosto e sem nome que se articula silenciosamente, num submundo feito de escritórios e salas de reunião luxuosas. É preciso eliminar qualquer vestígio de povo no poder. As raízes do PT parecem incomodar. Permanecem como uma sombra que perturba o sono dos neoliberais brasileiros. Não basta reduzir a esquerda a um simulacro, deslocá-la para o centro, defender as teses mal intencionadas do fim da história: faz-se mister combatê-la incessantemente, até eliminá-la do cenário político nacional, como se faz com os moradores de rua que dão um tom barroco às “duras poesias concretas” das esquinas paulistas.

No Brasil do presidente operário, o patrão continua mandando.

E a mídia vem dizer que não precisa de conselhos...

Clique aqui e leia o texto de Emir Sader sobre este assunto

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terça-feira, outubro 26, 2004

OS PIRATAS



Nos últimos meses, tem me chamado atenção o grande número de matérias jornalísticas que abordam a questão da pirataria. Estamos cansados de saber que pirataria é crime (inclusive pra quem compra o CD) e que muitas gravadoras estão quebrando em função dessa prática.

Bom, esclarecida a questão óbvia (abordada por toda matéria televisiva que aborda o assunto), vamos para as entrelinhas.

Ontem à noite, o Jornal Nacional deu grande destaque a uma matéria sobre a pirataria (mais uma vez). Na matéria, o principal argumento utilizado contra a pirataria é o de que ela impedia as gravadoras de investirem em novos talentos (uma considerável evolução, deve-se dizer, já que antigamente o argumento de que CD pirata estragava o aparelho era lugar comum).



Não tenho a memória muito boa, portanto, pense comigo, leitor: quantos “novos talentos” foram lançados por grandes gravadoras nos últimos anos? Detonautas? Felipe Dylon? Dado Dolabela? Vanessa Camargo? CPM 22? Não, não. Esses não valem: estamos falando de TALENTOS, não de estrelas cuidadosamente construídas pelas estratégias de marketing.

Para não parecer que estou sendo excessivamente parcial, aqui vai um depoimento do Dr. Valdemar Ribeiro, Diretor geral da Apdif do Brasil - Associação Protetora dos Direitos Intelectuais Fonográficos: “Para uma gravadora, o CD é muito caro: para criar um cantor, fazer o público gostar dele, ter fama, etc, primeiro a gravadora vai localizar o talento e depois vai trabalhar a imagem dele para mostrar o potencial. Para fazer o CDs, a gravadora tem gastos com o estúdio, com equipamentos caríssimos. São muitas despesas: ele grava, não fica bom, vai ter que gravar de novo. Isso inclui mais gastos com o estúdio, pessoal do som. De repente o cantor tem algum problema na voz, ele vai para o médico: mais gastos! Depois do Cd pronto, tem gastos com a logística, venda, marketing, etc” (ler entrevista na íntegra).

Por mais que o discurso das gravadoras tente convencer do contrário, o fato é que o lançamento de novos artistas raramente acontece baseado na qualidade do material, naquilo que ele tem de inventivo e original, mas no potencial de comercialização que ele oferece. Esse potencial é medido com base em modelos simplistas, do tipo: pode ser o novo Zezé di Camargo e Luciano, o novo Menudo, o novo Mamonas Assassinas! Essa é a nova Ivete Sangalo, a nova Sandy, a nova Elis!!! Não importa apreciar o material, mas vende-lo. Se ele não se vende sozinho, faz-se mister torna-lo vendável – à custa de investimento pesado em material de divulgação, jabás e aparições televisivas.

Olhando dessa forma, a idéia das gravadoras pararem de lançar “novos talentos” é até agradável!



Outro argumento, defendido por Gabriel, “O Pensador”, o rapper mauricinho, é de que o disco pirata lesa o artista. Deve-se dizer aqui que a porcentagem que o artista recebe pela venda de CDs é muito pequena em relação ao lucro total de uma gravadora. Boa parte da renda do CD serve para cobrir os gastos com divulgação -- todo mundo sabe disso!

Esse investimento em divulgação seria desnecessário se o CD tivesse realmente qualidade. Pensemos no Los Hermanos e no espaço que “O Bloco do Eu Sozinho”, segundo CD da banda, conquistou quase que sem tocar nas rádios. Pensamos no sucesso que a banca capixaba Dead Fish conquistou dentro de seu nicho. Para os capixabas, eu pergunto: qual o melhor CD do Casaca? O primeiro, independente, produzido aqui no ES; ou aquele lançado pela Sony, suavizado, no qual mal se pode ouvir as batidas do tambor de Congo?



Para Lobão, que se tornou um ícone da luta dos artistas independente contra as grandes gravadoras, “a pirataria é o sinal de uma mudança de paradigma nas relações do produto (no caso artístico) com o consumidor. É muito mais um sintoma do que uma doença” (ler entrevista na íntegra. A observação de Lobão é importante, especialmente na discussão sobre as novas tecnologias. O diretor da Apdif, citado acima, chega a pedir inclusive um controle na venda de Gravadores de CD (esses que utilizamos em nossos PCs) como forma de combater a pirataria. Isso é o cúmulo! É restringir o acesso das pessoas às novas tecnologias para garantir que as gravadoras continuem ganhando milhões. É abraçar a lógica capitalista em detrimento do cidadão! Alguém aí já parou para se perguntar as possibilidades libertadoras das novas tecnologias, a forma como podemos aproveita-la em na educacionais, na facilitação da troca de informações?

São as novas tecnologias que, na realidade, têm dado chance aos novos talentos. Se não tornam ninguém milionário, como um Alexandre Pires da vida, garantem ao artista a possibilidade de produzir seu disco e, se o trabalho tiver qualidade, fazer circular num circuito alternativo que lhe permita viver tranquilamente de sua arte. Esses microcontextos para a produção fonográfica representam um avanço, na minha humilde opinião. Dessa forma cada vez menos gente será obrigada a engolir KLBs goela abaixo. Por meio das novas mídias, pode-se reforçar a divulgação do circuito alternativo, criando inclusive cooperativas musicais, para lançamento de novos talentos (esses realmente talentosos). Pensar o universo musical brasileiro e mundial apenas a partir das grandes gravadoras é ser reducionista. A realidade que elas representam está muito mais perto da indústria (cultural) que da arte.

Lobão acredita que quem ajuda a pirataria “são as gravadoras que lançam discos de péssima qualidade no mercado a preços altíssimos atrelados ao jabá milionário e criminoso concedido às rádios”. E é verdade. O preço dos discos é absurdo e, em vez de cair, vem subindo de uns anos pra cá. O que fazer, então? Posicionar-se ao lado das gravadoras, combater a pirataria e impedir que a “massa” tenha acesso à produção musical brasileira?

A discussão sobre pirataria precisa ser ampliada no Brasil. Precisamos pegar o embalo do Creative Commons e repensar o conceito de propriedade intelectual. No mundo contemporâneo ele está muito menos ligado ao conceito romântico do artista grande criador, do que à simples lógica capitalista de viver pelo lucro. Ninguém precisa vender milhões de cópias de um CD para levar uma vida decente. Exageros desse tipo ajudam o “artista” a freqüentar a Ilha de Caras, não a produzir boa música.

Se o jornalismo brasileiro resolveu declarar guerra à pirataria, tudo bem. É compreensível, afinal, trata-se de uma prática ilícita. Contudo, seria bom que os repórteres começassem a pensar em argumentos melhores, pois essa conversa dos “novos talentos” é a pior que já ouvi, desde a historinha do CD que prejudica o aparelho.

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segunda-feira, outubro 25, 2004

PSICO INDICA



Como não estou muito disposto a alterar meu template, vai aqui um “post” especial, com links de blogues que o Psico indica, com base na qualidade (critério pessoal) e nos interesses partilhados. Visitem! Comentem! Vale a pena!!!

Porcas e Parafusos

Blogue da Carissa. Comentários gerais com bom humor, ironia e sarcasmo, bem ao estilo "ascendente escorpião". Tentativa de colocar ordem no caos/casa.

Praça do Zé

Blogue coletivo coordenador por Kleber Jean Matos Lopes (outrora Zé, o outro). Textos sobre política, sociedade e comportamento. O blogue é uma espécie de colagem, fragmentos de personalidades distintas que se unem para formar um coletivo agradável. O melhor do blogue são os comentários: é lá que as idéias dos “posts” são desenvolvidas na base da conversa.

Personas

Pra quem gosta de História, o blogue do Luís César é uma ótima pedida. Lá podemos encontres textos interessantes, que vão desde história dos EUA até comentários dobre a contemporaneidade. E o Luís parece ser um cara muito agradável.

Cantinho de Minas

É o blogue da Tote Girl: comentários sobre política num tom crítico e bem humorado. As charges e caricaturas que ela posta lá são fantásticas.

Blogue do Cultura Viva

Blogue dedicado ao projeto Cultura Viva, do Ministério da Cultura. Coordenado pelo poeta capixaba Orlando Lopes, o blogue é uma espécie de mosaico cultural, baseado na “teoria do caos”. Na cabeça dele, a lógica do blogue segue aquela do Oswald de Andrade, em “O perfeito cozinheiro das almas deste mundo”. Vale a pena.

Contemporâneo

Um blogue coletivo sobre literatura viva. Injustamente, é pouco visitado. Ajude a mudar isso...

Notícias do Mundo
O texto da Bianca, a dona do blogue, é uma delícia. O “post” que ela escreveu gripada me ganhou na hora. Mas tem muito mais...


O Imigrante é um Forte!

O blogue da Laura foi minha descoberta mais recente. Comentários interessantes sobre o “giramundo”, repletos de humanidade. Vale a pena conferir.

Silepse

Blogue socialmente responsável. Oferece link pro site do Institudo Ethos e divulga assuntos importantes, como Inclusão Digital. Visitem!

Lawrent

Esse blogue tem cara de conversa de taverna, regada a "vodka, vinho e café...". Textos bacanas, num tom intimista e agradável.

Astroblog

Como disse a Laura lá no blogue dela, a Carol, Publisher do Astroblog, manja de Astrologia. É um espaço aconchegante...

Pensamentos e Divagações

Blogue da Letícia, direto de Fortaleza. Comentários políticos, “pensamentos e divagações”.

Arquivo da Rosa

Esse é o blogue da Rosália, que é amiga da Bianca, que é amiga do Kleber (Lawrent)... uma galera interessante, postando de Brasília.

Mulheres Tramam

Blogue da Maria Tereza. Sabe-se que as mulheres tramam, mas o que tramam as mulheres?

Peru Posible

Blogue da Vanessa. Comentários interessantes sobre política e cultura. É do Peru!

Rezinha lá longe

Da Itália para Web: diário de uma curitibana cosmopolita. Regina é jornalista e colaboradora/correspondente da Revista Paradoxo.

Dapiruebão

Um dos blogues mais engraçados que conheço. Rodrigo Dapirueba, e sua filosofia de boteco, direto de Vitória

Tudo Vira Bosta

Blogue do Daniel, um paulista que mora no Rio de Janeiro (outro desgarrado). Comentários ácidos (às vezes muito ácidos) sobre política e sociedade.

Rinoceronte Gástrico

Não sei ao certo de onde saiu o Rinogas (sem ofensas), só sei que o cara escreve muito bem. Contos minimalistas muito bem escritos. Críticas nas entrelinhas e assinaturas bem sacadas.

Idéias

Esse é o blogue da Mariela, que foi "linkada" pela Bianca e deixa comentários interessantes no Notícias. Política, comportamento, mulheres e idéias.

Cherry

Textos descolados, gostosos como a cereja do bolo. Divagações intimistas sobre o universo feminino e otras cositas mas...

Somente Mulher

Blogue da Tânia. Mais uma chance pra gente invadir o universo feminino (sem maldade).

Concatescências

A Manuela, publisher do Concatescências escreve muito bem. O blogue tem um template bacana e, além dos ótimos textos, tem excelêntes citações.

Pink Freud

Problemas sentimentais, emocionais, psicológicos? Procure a Dra. Loreleine Botelho: tão eficiente quanto o "Analista de Bagé".

Trovas e Trombos

Blogue do Renato Guimarães que, além de blogueiro, é marido da Vanessa e também escreve do Peru (olha, sério mesmo, não vou ficar re-pedindo pra evitarem essas piadinhas de duplo sentido, ok?). É... o blogue é bacana, muito bem escrito e repleto de conteúdo político.

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sexta-feira, outubro 22, 2004

Há poucas coisas que a televisão não pode forjar, para as outras...



Há muito tempo que a Fórmula 1 deixou de fazer sentido. Os últimos campeonatos, marcados pela hegemonia da Ferrari, foram vencidos antecipadamente por Michael Schumacher, geralmente com larga vantagem em relação ao segundo colocado, o brasileiro Rubens Barrichelo.

Pra muita gente no Brasil, as corridas acabaram com Senna. Pra mim, demoraram um pouco mais: eu gostava de acompanhar as corridas. Mas de uns anos pra cá, a coisa perdeu completamente a graça. Mesmo para um ferrarista (é, eu tenho dessas coisas) tornou-se impossível agüentar o simulacro.

Desde a primeira corrida da temporada já se sabe o que vai acontecer: vencerá quem tiver o melhor carro. Como quem dá as cartas na F1 é a tecnologia de ponta, a habilidade do piloto há muito deixou de ter tanta importância. Nem o sangue latino do Montoya foi capaz de injetar vida na Fórmula da Técnica. O ser humano é mero coadjuvante nesse EXpetáculo protagonizado pelas máquinas.

Mas, como diria o ditado: “the show must go on”! (Ainda que de mentirinha). Pra tentar manter a áurea que envolvia este esporte, investe-se pesado em marketing e publicidade. Esse processo que fica claro em época de GP do Brasil.

Sabe-se que a Globo paga uma nota preta para manter os direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil. Se as corridas não têm mais graça, quem corre é o telespectador . Pra evitar (ou retardar) que isso aconteça, é preciso pedir socorro às estratégias publicitárias e para tirar leite de pedra, convencendo os aficcionados do esporte que ainda existe esporte.

Pra garantir a audiência e o filão publicitário, a Globo parece estar pondo em ação um elaboradíssimo plano, para ludibriar os fãs de Fórmula 1. Neste plano, os programas jornalísticos exercem papel fundamental.

Pude presenciar a primeira bizarrice na tarde de hoje. A Globo, marcada pela rigidez de seus padrões, decidiu transmitir o Globo Esporte direto do autódromo de Interlagos. O programa abusou dos recursos gráficos e das animações digitais, para enfiar carros de corrida em tudo quanto era canto. Todas as matérias – não importava o esporte em questão – abusavam das metáforas automobilísticas: tudo era uma corrida (inclusive para equipe do jornal, que volta e meia parecia embolar-se na hora de “soltar o VT”). A apresentadora do programa, na maioria das vezes, foi substituída por pilotos de várias nacionalidades que, falando um português tosco, se revezavam na chamada das matérias. Triste espetáculo!

Não bastasse o circo armado pelo Globo Esporte, o Jornal Hoje entrou na barca e também fez matérias sobre a corrida de domingo. A imagem de Rubinho, aos poucos, começava a me enjoar, em virtude da exposição excessiva.

Nos intervalos, mais doses de Fórmula 1. Num dos anúncios, da Petrobrás, o telespectador/consumidor era convidado a participar da promoção que daria como prêmio – adivinhem! – um macacão usado pelo Ralf Schumacher. Se o premiado tiver sorte, pode até encontrar na peça – de raro valor – um pelo de sovaco ou uma mancha de suor de seu ídolo, não é lindo?

No mundo contemporâneo, há poucas coisas que a televisão não pode forjar, “para as outras, existe Mastercard”. É possível criar uma Fórmula 1 perfeita, onde o carro do Schumacher pode quebrar, onde o Rubinho pode vencer e onde o Sato pode chegar no podium. Para isso, basta haver do lado de cá da tela um telespectador desatento, disposto a ser capturado tão rápido quanto uma volta do Schumacher.

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MERA COINCIDÊNCIA?!



A mídia parece realmente incomodada com a possibilidade do PT continuar no poder em São Paulo, apesar das pesquisas darem a vitória do PSDB como praticamente certa. A imprensa paulista, como aponta o relatório divulgado pelo Observatório Brasileiro de Mídia, parece unir-se em bloco em favor da candidatura tucana. O relatório em questão “revela que os cinco principais jornais da capital paulista mantêm a tendência verificada no 1º turno. Sobre José Serra, o maior número é de matérias neutras ou positivas. Sobre Marta Suplicy, de neutras ou negativas” (Agência Carta Maior).

Depois da associação entre o indiciamento de Maluf pela PF e o seu apoio à candidata do PT, Marta Suplicy (ver “post” IMPRENSA SERRISTA NA ELEIÇÃO PAULISTA), a bola da vez é Duda Mendonça, marketeiro que coordena a campanha da petista, preso em flagrante quando participava de uma rinha de galo, num sítio entre Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, zona oeste do Rio (ver matéria da Folha Online sobre o assunto).

Além de destacar a prisão de Duda Mendonça, que é sócio do local onde as rinhas eram promovidas, a imprensa deu ênfase à presença de outro petista que acompanhava o "evento": o vereador reeleito no Rio, Jorge Babu. Das 200 pessoas presas, apenas os nomes daquelas que de alguma forma estavam relacionadas ao Partido dos Trabalhadores foram mencionados.

Vale dizer que o envolvimento de Duda Mendonça (sua paixão) com rinhas de galo é conhecida há muito tempo. Em seu livro “Casos e Coisas”, publicado há mais de dois anos, o publicitário já fazia referência ao hobby. O estranho, pra mim, é a PF resolver investigar este assunto justamente agora, em época de eleição. Mais estranho ainda é a mídia insistir em relacionar o assunto ao PT.

Quem está acompanhando o horário eleitoral do segundo turno, em Vitória, deve ter percebido que o PSDB decidiu apelar. Insinuações maldosas, associações sórdidas e manipulação de informação têm se tornado lugar comum. Os ataques não se limitam ao candidato petista, João Coser, mas se estendem a todo o Partido dos Trabalhadores de uma forma geral. A capa da Folha de São Paulo, com a matéria sobre o indiciamento de Maluf está sendo exibida nos programas de Colnago, mostrando que não entávamos enganados quando destacávamos a distorção dos fatos provocada manchete do jornalão paulista. Se continuar seguindo as linhas tortas do PSDB nacional, rabiscadas por Nizan Guanaes na última eleição presidencial, em breve o programa de César Colnago em breve terá Regina Duarte dizendo: “eu tenho medo do PT”.

A história se repete

No caso de São Paulo, é impossível não lembrar da eleição presidencial de 1989, e da sórdida armação que relacionou os seqüestradores de Abílio Diniz ao PT: uma mentira deslavada que, na época, colou e tirou muitos votos de Lula. Mais tarde, a verdade apareceu. A polícia obrigara os seqüestradores a vestirem camisas do PT antes de permitir que a imprensa os fotografasse. Como se não bastasse, espalharam material da campanha petista pelo cativeiro. Quem não lembra, dê uma folheada no livro “A Síndrome da Antena Parabólica”, do jornalista Bernardo Kucinski.

Como daquela vez, a imprensa força a barra para ligar fatos que não têm muita relação entre si. Tudo é válido na indústria da produção de sentidos. São estratégias sutis de manipulação. Tão sutis que na maioria das vezes não se consegue (ou não se quer) perceber, por mais óbvias que sejam.

As campanhas do PSDB, por exemplo, tentam trazer à tona o velho estereótipo do PT como um partido de "baderneiros". Aparentemente, o artifício já não cola mais, mas tenho cá minhas dúvidas. Até que ponto vai a capacidade (e a vontade) das pessoas para discernir a realidade da ficção?

Com certeza, nem tudo que acontece no mundo da política é “mera coincidência”.

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quarta-feira, outubro 20, 2004

MAIS DESABAFOS



Muitas vezes dar uma olhada no mundo que nos cerca faz a gente pensar que está tudo perdido. Talvez a bíblia estivesse certa mesmo: somos vítimas do pecado original, "pobres diabos" expulsos do paraíso, condenados à danação. Ideais de solidariedade, de fraternidade, de liberdade parecem ser apenas simples abstrações. Dá a impressão de Hobbes estava certo e que o homem é mesmo o lobo do homem. Parecemos bestializados, incapazes de pensar coletivamente. No centro do mundo está o umbigo.

Pensar dessa forma é, até certo ponto, conveniente. Atribui-se a toda humanidade a culpa pela imbecilidade, pelo barbarismo. Tudo parece irreversível, o que nos desobriga de qualquer movimentação no sentido de uma transformação do mundo.

Às vezes acho que seria mais interessante pensar assim, de forma bem reacionária. Mas aí lembro o quanto pensar o mundo sob essa ótica favorece a manutenção deste sistema, a perpetuação das injustiças, da corrupção e da violência.

Não, não e não. Se há uma coisa da qual me recuso a abrir mão é da crença no ser humano, na vida. Se isto que está aí é ruim, é ruim porque é desumano, é não-vida. Se a razão já não dá conta humanizar o homem, se o projeto moderno era uma fraude, cabe aos sobreviventes – nós – repensarmos o mundo, redescobri-lo, re-encantá-lo.

Se a razão não se presta a esse fim, que busquemos a sensibilidade, a poesia dos gestos, a harmonia das relações: qualquer coisa capaz de nos devolver a vida ou, se ela nunca se realizou de fato, que sejamos capazes de buscar formas de realizá-la.

Se há algo que me entristece é o dogmatismo, a simplificação: se desistirmos do ser-humano, o que resta?

Antes de culparmos o outro pelos males do mundo devemos olhar para nós mesmos. Se fizermos isso com atenção vamos perceber que, na base de todo nosso desprezo pelo mundo, há sempre uma boa dose de covardia.

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Tenho andado afastado do Psicotópicos, mas não parei de escrever. Quem quiser me acompanhar com mais regularidade, pode visitar a Praca do Zé. Várias discussões estão acontecendo lá. Diálogo é sempre importante.

De resto, obrigado pela visita.

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quinta-feira, outubro 14, 2004

Run, Forrest, run!



Jornalismo é feito no calor da hora. Bom, pelo menos é o que dizem grandes editores, repórteres, pauteiros. É preciso pegar as notícias – as news -- ainda quentinhas. Se possível, cobrí-las enquanto acontecem. Novidades, novidades, novidades: that´s the way.

Esse imperativo da atualidade, popularizado pelo modelo norte-americano de jornalismo, é amplamente aceito no meio jornalístico brasileiro. É preciso informar em tempo hábil.



Nessa busca da rapidez, muitas vezes se perde qualidade. A sabedoria popular ensina que “devagar se vai ao longe”. O jornalismo fast-food praticado pela imprensa tupiniquim não consegue ir muito além do óbvio. Muitas vezes, pretende-se ir longe. Mas, na correria, nossos repórteres perdem o fôlego no meio do caminho. Alguns interrompem a jornada, deixando o leitor a ver navios – e olha lá! Outros optam por um caminho mais fácil: jogam sujo, pegam os atalhos das informações mal apuradas, dos juízos de valor precipitados, dos maniqueísmos simplistas: ao leitor – perdedor e perdido –, as batatas geneticamente modificadas.



O outro, no jornalismo de mercado, não tem lá muita importância. Não é preciso conhece-lo, para torná-lo objeto de reportagens, análises, pesquisas, crônicas e artigos. Como a natureza para o cientista moderno, o outro está lá para nos servir. Temos categorias para todo tipo estereotipado de gente. Temos o assassino, o “serial killer”, o político inescrupuloso, o bom samaritano, o astro, a estrela, o herói: toda uma galeria de personagens à nossa disposição. A vida por trás do estereótipo não tem importância. O jornalismo detêm-se nas superfícies: das feridas, a casca; das ondas, a crista.

É assim com as estatísticas. Transforma-se em número a tragédia e a glória. É possível noticiar o número de mortos em atentados terroristas no período de 21 de agosto a 30 de setembro no leste europeu e compará-lo com o investimento da indústria bélica norte-americana durante os três últimos anos da guerra fria: gera-se informação dessa forma. O que as estatísticas – e os jornalistas – são incapazes de fazer é entender qual o verdadeiro impacto da guerra na vida das pessoas. O que se passa na cabeça - e no coração – de uma mãe que tem seu filho fuzilado num conflito estúpido? Qual o futuro de uma criança que perde a família inteira numa troca de tiros? O que faz as pessoas elegerem líderes imbecis, idolatrarem figuras bizarras e deixarem crianças morrerem de fome?



As estatísticas dos acidentes de trânsito dizem de uma situação calamitosa nas estradas brasileiras. Mas só acompanhar a recuperação de um amigo, vítima de um acidente, possibilita-nos ter a dimensão do que isso significa na vida de alguém. Só isso nos faz acordar para o quanto a vida é frágil e importante. Para quanto tempo se perde em coisas menores. Para quão pouca atenção se dá ao outro. Tal qual jornalistas, lidamos com as superficialidades na maior parte da vida. Profundidade incomoda, perturba. Mas tem momentos em que ela nos é imposta. Surge diante da gente de forma incondicional. Não há pra onde fugir. É nessas horas que eu me pergunto: tem que ser assim? Não está na hora de acordarmos deste sonho lúcido, com cara de propaganda de pick-up? Open your eyes!

Não sei exatamente em que ponto nos perdemos, mas tenho certeza de que esta cultura do indivíduo não contribuiu muito para aproximar as pessoas. O umbiguismo é lindo nos cinemas. Super-heróis se encaixam perfeitamente nos quadrinhos. Mas, na vida real, construir pontes entre os seres humanos é muito mais importante do que a simples busca de satisfação pessoal.



Satisfação: está aí uma palavra complicada. Num sistema que se alimenta da insaciabilidade das pessoas, que cria demandas como quem cria problemas, encontrar-se satisfeito torna-se cada vez mais difícil. Há sempre algo mais para buscar. Run, Forrest, run: eis um imperativo ao qual geralmente obedecemos. Às vezes funciona. Mas nem sempre. Será que não nos cabe perguntar porque corremos? Estamos fugindo do passado, ou corremos para chegar onde estamos indo? Se é isto, para onde vamos? Vale a pena? Vale as pernas? E de nosso passado, devemos fugir? Ou devemos encará-lo?

Perguntas, perguntas, perguntas: talvez o caminho para um jornalismo – e um mundo melhor – seja aumentar o numero de perguntas certas. Respostas, no momento, não são tão importantes. Importante é colocar em dúvida tudo que parece normal. Tudo que se diz “ser assim mesmo”.

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quarta-feira, outubro 13, 2004

Imprensa serrista na eleição paulista



“Maluf é indiciado pela PF e declara seu apoio a Marta”.
Manchete principal da Folha de São Paulo – 13 de outubro 2004)

A manchete da Folha de São Paulo é um exemplo de jornalismo parcial. Duas notícias são dadas numa única manchete: mata-se um coelho e aleija-se outro em duas linhas. A noticia do indiciamento de Maluf fica associada, na manchete, ao seu apoio à candidata do PT. O que poderia ser visto como algo positivo para a campanha petista, é anulado por uma notícia negativa que envolve o nome de Maluf. É possível que a matéria suavize a manchete tendenciosa, mas aí eu pergunto: quantas pessoas, no Brasil, vão além do “lide” na leitura dos jornais? Quantas pessoas não vêem da Folha apenas a manchete principal, nas bancas? O que a manchete do jornal dá a entender quando é lida assim, isoladamente? Qual o tamanho do estrago? Pensem nisso, meus caros, pensem nisso...

(Clique aqui para ver a capa da Folha de São Paulo).

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sexta-feira, outubro 08, 2004

A SOLIDÃO DAS “TORRES DE MARFIM”



Está rolando uma discussão sobre o distanciamento entre o campo acadêmico e a realidade do “mundo vivido” na Praça do Zé, o outro blogue que participo. A discussão é pertinente para o Psicotópicos e para o Brasil. Rediscutir a função social da Universidade e o papel da Academia/Ciência no mundo contemporâneo é algo de fundamental importância para qualquer cidadão que se interesse pela construção de um mundo melhor.

O debate, lá na praça, surgiu a partir de um “post” do Primo Zé, que colocou em debate o que costumo chamar de “a questão das torres de marfim”. Grosso modo, criticava-se a “masturbação intelectual” da academia brasileira, as discussões infrutíferas, as contendas filosóficas que nunca saem do lugar, a circularidade do debate, seu caráter auto-referencial, em suma, o distanciamento entre o campo acadêmico – espaço da “ciência” – e o “mundo vivido”, espaço do cotidiano, das relações sociais, do tête-à-tête.

Acredito que o nível de abstração em que certos debates são elaborados no âmbito da academia é algo que incomoda muita gente. Muitas vezes, torna-se inevitável perguntar: “afinal, o que isso tem a ver com a minha vida?”

Aqui, cabe esmiuçar um pouco melhor a questão.

Muitas vezes, os debates travados por mestres e doutores têm a ver -- e muito -- com a vida das pessoas comuns, como a do seu Zé e da dona Maria. Contudo, a complexidade da discussão e, sobretudo, a linguagem hermética com a qual os debatedores articulam seus discursos inutiliza a discussão. É simples: se o seu Zé e a dona Maria não entenderem o que o Doutor Jean Pierre Malinowsky discute com o Mestre Diógenes Pedrosa, o conteúdo desse debate jamais será assimilado por eles e, logo, não fará diferença!

O fato do de deixar de fazer diferença, de perder importância, justifica o discurso fascista de que a filosofia não serve para nada. Para um regime totalitário, tanto melhor que as pessoas sejam simplistas ao extremo e que, de preferência, disponham de um léxico reduzido, formulem frases curtas e de fácil assimilação. Linguagem e poder, historicamente, caminham lado a lado.

Uma coisa que os fascistas pretendem ignorar é que, na maioria das vezes, o pensamento filosófico e humanista não oferece resultados imediatos. Contudo, progressos filosóficos, quando assimilados pela maioria, são capazes de fazer algo fundamental para a civilização: mudar mentalidades. Não fossem os avanços nesse sentido, ainda estaríamos na Idade Média, ouvindo missas em latim e dizendo vivas ao Rei.

Pra muita gente, hoje em dia, a idéia de voltar à Idade Média poderia ser atraente. Para mim, não. Sabe-se que o saber, o conhecimento, a ciência pode estar a serviço de estratégias de dominação. Contudo, é ainda com saber e conhecimento que se pode buscar a liberdade.

Mas voltemos à questão proposta mais acima, sobre o conhecimento encastelado: “afinal, o que isso tem a ver com a minha vida?”

Acredito que o discurso fascista e irracionalista parte dessa pergunta para questionar a validade do pensamento filosófico, num primeiro momento, e o valor da liberdade, posteriormente. Se assim é, podemos dizer que a academia encontra-se diante de um momento crucial em sua histórica.

Simplificar as discussões e partir para iniciativas “práticas”, nas quais o que conta são os resultados imediatos, seria render-se de vez ao tecnicismo capitalista e/ou à barbárie fascista. Se a academia ceder nesse ponto, vai corroborar a tese neoliberal de que Universidades devem virar Escolas Técnicas, formando apenas “mão-de-obra qualificada” para servir cegamente ao mercado, sem questionar. Optar por esse caminho seria aceitar a transformação de um dos poucos espaços de reflexão do mundo contemporâneo em mais espaço a serviço do “establishment”.

Por outro lado, insistir no encastelamento, também justificaria esse discurso, pois deixaria a academia em maus lençóis diante da opinião pública, diante da grande maioria da população. Usando um discurso bem capitalista: ninguém gostaria de financiar os debates infrutíferos dos doutores. Essa situação intensificaria um processo já em andamento, que é o da revolta contra a lentidão das medidas humanistas. A ascensão do partido neonazista na Alemanha e da extrema direita na França, com Le Pen, são um sinal de que as pessoas estão propensas aos discursos enérgicos, que jogam séculos de pensamento humanístico no lixo, em nome de alguma mudança concreta, por mais efêmera que ela seja.

Acredito que o caminho para se resolver esse impasse não é a transformação na universidade em escola técnica, nem a insistência no encastelamento. O que precisamos -- é isso que tenho tentado deixar claro em meus comentários na Praça do Zé – é pensar em formas de aproximar a universidade da comunidade. È preciso traduzir – e não simplificar – para as pessoas os debates travados no campo acadêmico. É preciso encontrar formas de vulgarizar conceitos sem deturpá-los. A academia precisa aprender a compreender a linguagem da maioria, para saber quais são suas verdadeiras demandas, o que os aflige, o que os aprisiona para, de posse disso, pensar em soluções para os grandes e pequenos problemas da humanidade. Mas não se deve pensar essas soluções isoladamente. É preciso estar junto do povo, da maioria. É preciso parar de ver as pessoas como objetos, como números, como estatísticas, para compreendê-los enquanto sujeitos, formados por um emaranhado complexo de discursos e estruturas simbólicas diversas.

Ao mesmo tempo, a academia precisa olhar criticamente para si mesma. É preciso que os acadêmicos acordem para o fato de que seu trabalho precisa significar alguma coisa para a humanidade, senão nunca fará sentido, será vazio.

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Nessa interface entre o campo acadêmico e o “mundo vivido” é que a comunicação social exerce um papel fundamental. Ela -- se não é -- deveria ser o mediador entre os discursos. Fazer essa mediação, contudo, exige comprometimento. É preciso pensar o jornalismo científico a sério, ele não pode estar sujeito à correria das grandes redações. Ciência e pesquisa não são modas. Não se descarta teorias ao sabor da estação.

Outro item que considero de fundamental importância é a utilização do vídeo, da televisão e dos computadores no ensino. Qualquer pessoa que entenda minimamente de informática sabe que é muito mais fácil entender um princípio quântico, por exemplo, quando se recorre a uma simulação gráfica do que quando se utiliza a velha técnica do “cuspe e giz” para fazer isso. Reconhecer a utilidade das novas tecnologias na educação é fundamental para tornar o discurso científico mais compreensível sem simplificá-lo demais ao ponto de distorcê-lo.

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Sei que parece ousadia, mas o projeto que estamos tentando levar à frente aqui em Guarapari, tem uma filosofia semelhante a esta que ora esboçamos. Estamos tentando unir pesquisa acadêmica – de Pierce e Wittgenstein, de Foucault e Deleuze – a projetos de midiatização da educação e promoção de eventos culturais, tudo isso fora do dogmatismo e da burocracia das Instituições de ensino convencionais.

Aos poucos, irei relatando aqui no blogue o andamento da coisa por estes lados. Por hoje, chega: já escrevi demais.

(Visite a Praça Zé, o outro e participe da discussão sobre este tema).

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quarta-feira, outubro 06, 2004

O LIVRO ALTERNATIVO OU ALTERNATIVA PARA OS LIVROS


“Uma ameaça ronda o mundo dos livros: a ameaça do obscurantismo. A globalização econômica e financeira amplia a desigualdade entre ricos e pobres e os livros não escapam a essa lógica. Grupos estrangeiros compram editoras brasileiras e se estabelecem com planos avassaladores no mercado nacional. Grandes editoras brasileiras compram menores, acentuando o caráter de monopólio, agravando a tendência à homogeneização na produção de conhecimento e contribuindo para rebaixar o nível das publicações. Enquanto isso, o poder público, que deveria cumprir papel regulador, reproduz as distorções do "mercado" nas aquisições de acervos para bibliotecas e escolas. (Ivana Jinkings, editora da Boitempo e uma das fundadoras da Libre -- Liga Brasileira de Editores).

O trecho acima foi tirado do artigo “Cultura para quem precisa”, publicado na Folha de São Paulo, no dia 04 de outubro (Clique aqui para ler o texto na íntegra). O assunto é de suma importância para quem acredita que a cultura tem a ver com multiplicidade de pontos de vista. O que Ivana Jinkings denuncia em seu texto é a monopolização do mercado editorial brasileiro e os riscos que isso representa para o país.

Para quem costuma acompanhar os “cadernos de segunda” (a parte reservada à “cultura”) dos jornais brasileiros, já deve ter percebido que os apenas uma meia dúzia (talvez nem isso) de editoras são responsáveis pelo lançamento dos “grandes títulos”. Entre as “grandes editoras” estão a Cia. das Letras, a Reccord, a Rocco e a Objetiva. São essas editoras que costumam comandar também a lista dos mais vendidos da semana, em Veja, Época e Istoé, as principais revistas semanais brasileiras.

Quem já observou esse processo com um pouco mais de atenção, deve ter percebido também que alguns nomes são recorrentes. Rubem Fonseca, Paulo Coelho, Luis Fernando Veríssimo, John Grishan são figurinhas constantes. Às vezes, tem-se a impressão de que ninguém mais escreve no Brasil. (Se resolvêssemos falar em poesia a situação seria ainda mais complicada).

As grandes editoras, como toda empresa, tratam os bens culturais como negócio. Os livros, para elas, só têm importância se trouxerem algum tipo de retorno, seja financeiro, seja em termos de imagem. Nesse processo, escritores novos, alternativos, vanguardistas, são cruelmente prejudicados. Assim como a indústria do cinema procura roteiros que caibam dentro de uma estrutura básica, uma fórmula do sucesso, a indústria editorial procura nomes que vendam bem e histórias que prendam o leitor. Nesse processo, a homogeneização torna-se inevitável.

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Nesse mercado cultural, a Internet desponta como alternativa para novos autores. Talvez por isso, os blogues tenham contribuído de forma interessante para que novos nomes surgissem, tentando descobrir novas linguagens e atingir novos públicos.

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O projeto de Desenvolvimento Local da Região Norte de Guarapari, do qual venho falando há um bom tempo, prevê a criação de uma pequena editora para combater essa monopolização do mercado. A idéia é começar com edições eletrônicas de livros (Internet e CD-ROM) e mais tarde partir para a edição impressa. O objetivo principal dessa editora alternativa não seria publicar best-sellers, mas criar canais de divulgação para novos escritores e novas idéias.

Se alguém tiver alguma sugestão ou se interessar pelo projeto, deixe aqui um comentário. A idéia é, como diria o Zé, “cuspir conversa”.

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terça-feira, outubro 05, 2004

PSICOMENTANDO

Nas últimas semanas, ando envolvido com uma série de projetos começam engatinhar por aqui. O projeto de Desenvolvimento Local Sustentável para a Região Norte de Guarapari, pouco a pouco, vai saindo do papel.

Já temos uma estrutura física, cedida pela Associação Salvamar de Apoio à Criação e ao Adolescente, que atua intensamente junto à região de Perocão (norte de Guarapari), incentivando o esporte e oferecendo aulas de reforço escolar a crianças e adolescentes. Também conseguimos uma sala na Av. Paris (entre a entre os bairros Praia do Morro e Aeroporto), onde poderemos montar o Escritório de Captação de Recursos e a “Empresa Júnior do Projeto”.

Progressos como esses nos deixam bastante otimistas para os próximos meses.

Voltarei a falar sobre isso em breve, com maiores detalhes.

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Também estive ocupado, acompanhando as eleições municipais no país e, especialmente, em Guarapari.

Quanto ao Brasil, estou feliz com as vitórias do PT em diversas capitais e com o crescimento do partido. Estou apreensivo com relação às eleições de Porto Alegre e São Paulo: a disputa será difícil nos dois estados. Em Vitória, adorei a virada do Coser. Agora é esperar o segundo turno.

Em Guarapari, pouca coisa mudou. Gottardo foi reeleito, com o apoio maciço do funcionalismo público (quase 3.000 funcionários), da igreja católica e dos professores. O fato da cidade ter mergulhado num ostracismo colossal nos últimos quatro anos parece não ter importando muito na hora do eleitor escolher seu candidato: como sempre, valeu o interesse pessoal.

A câmara de vereadores, agora menor, muda um pouco, mas não muito. Três nomes que, por anos a fio, foram responsáveis por quase toda articulação na câmara, não se reelegeram. Uma vitória. Os novos nomes, contudo, não nos deixam vislumbrar um futuro muito brilhante.

Costumo usar o número de candidatos petistas eleitos para medir o grau de preocupação das pessoas com o social (por mais que o candidato eleito frustre essa expectativa, o voto no PT representa isso). Pra se ter uma idéia, nenhum candidato do Partido dos Trabalhadores foi eleito em Guarapari, o que reforça a minha tese de que Guarapari é uma cidade de fronteira onde reina o cada um por si e a política contra todos.

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De resto, continuo entretido nas releituras de Gabeira na busca informações que me ajudem a provar que nem tudo está perdido.

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Semana passada, me irritou muito a reportagem que li sobre as mensagens racistas no Orkut (ver blogue do Zé, o Outro). Fiquei triste de lembrar (pois eu já sabia disso) que existe no mundo gente tão imbecil.

Mas aí fui à APAE de Guarapari, para fazer uma matéria sobre o trabalho da entidade no município, para a Revista da URGE, uma ONG local. O trabalho daquelas pessoas é impressionante! A paciência e o amor com que tratam daquelas crianças (e adultos) deficientes é de uma grandeza que nem sonho atingir.

Comparando esses dois universos, percebi que, entre um extremo (a barbárie dos orkutianos racistas/nazistas/matadores de mendigos) e outro (a abnegação dos funcionários da APAE) “há muito mais coisas do que sonha a nossa vã filosofia”.

Então, continuemos na nadar, sempre na direção do mais humano.

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