quarta-feira, outubro 27, 2004

OS MONOPÓLIOS DA INFORMAÇÃO



Numa sociedade complexa como a brasileira, marcada por diferenças mil – de culturas, de classes, de sotaques... – o mínimo que deveríamos esperar de uma imprensa que se propusesse a representar a realidade do país seria pluralismo, conflito, debate, apresentação das diversas visões de mundo – “redes de significados”, para usar um termo da antropologia – que compõem nossa sociedade.

Ao contrário disso, a mídia brasileira prima pela homogeneização e pelas tentativa de manipulação da opinião pública. Pensávamos que 1989 – com o consenso midiático em torno de Collor – estava superado, mas nos enganamos feio. As eleições desse ano, no maior colégio eleitoral do país, têm trazido à tona um tumor que há anos apodrece a democracia brasileira: o partidarismo dissimulado dos grandes jornais.

No universo monocromático desenhado pelos veículos de comunicação, só existe um caminho para tudo. Tudo é colocado de forma simplista, aceito aprioristicamente como evidente, irreversível. Assim foi com a idéia de globalização, com a filosofia (?) neoliberal e com o desmantelamento do Estado brasileiro. É dessa forma que a cobertura eleitoral é feita: parcialmente. Para o leitor, apenas um caminho se apresenta como certo, seguro, confiável: prato cheio pra quem prefere não esquentar (leia-se pensar).

A economia linha dura adotada pelo PT do governo não foi suficiente para satisfazer dos “poderosos”, essa minoria sem rosto e sem nome que se articula silenciosamente, num submundo feito de escritórios e salas de reunião luxuosas. É preciso eliminar qualquer vestígio de povo no poder. As raízes do PT parecem incomodar. Permanecem como uma sombra que perturba o sono dos neoliberais brasileiros. Não basta reduzir a esquerda a um simulacro, deslocá-la para o centro, defender as teses mal intencionadas do fim da história: faz-se mister combatê-la incessantemente, até eliminá-la do cenário político nacional, como se faz com os moradores de rua que dão um tom barroco às “duras poesias concretas” das esquinas paulistas.

No Brasil do presidente operário, o patrão continua mandando.

E a mídia vem dizer que não precisa de conselhos...

Clique aqui e leia o texto de Emir Sader sobre este assunto

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