sexta-feira, outubro 22, 2004

MERA COINCIDÊNCIA?!



A mídia parece realmente incomodada com a possibilidade do PT continuar no poder em São Paulo, apesar das pesquisas darem a vitória do PSDB como praticamente certa. A imprensa paulista, como aponta o relatório divulgado pelo Observatório Brasileiro de Mídia, parece unir-se em bloco em favor da candidatura tucana. O relatório em questão “revela que os cinco principais jornais da capital paulista mantêm a tendência verificada no 1º turno. Sobre José Serra, o maior número é de matérias neutras ou positivas. Sobre Marta Suplicy, de neutras ou negativas” (Agência Carta Maior).

Depois da associação entre o indiciamento de Maluf pela PF e o seu apoio à candidata do PT, Marta Suplicy (ver “post” IMPRENSA SERRISTA NA ELEIÇÃO PAULISTA), a bola da vez é Duda Mendonça, marketeiro que coordena a campanha da petista, preso em flagrante quando participava de uma rinha de galo, num sítio entre Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, zona oeste do Rio (ver matéria da Folha Online sobre o assunto).

Além de destacar a prisão de Duda Mendonça, que é sócio do local onde as rinhas eram promovidas, a imprensa deu ênfase à presença de outro petista que acompanhava o "evento": o vereador reeleito no Rio, Jorge Babu. Das 200 pessoas presas, apenas os nomes daquelas que de alguma forma estavam relacionadas ao Partido dos Trabalhadores foram mencionados.

Vale dizer que o envolvimento de Duda Mendonça (sua paixão) com rinhas de galo é conhecida há muito tempo. Em seu livro “Casos e Coisas”, publicado há mais de dois anos, o publicitário já fazia referência ao hobby. O estranho, pra mim, é a PF resolver investigar este assunto justamente agora, em época de eleição. Mais estranho ainda é a mídia insistir em relacionar o assunto ao PT.

Quem está acompanhando o horário eleitoral do segundo turno, em Vitória, deve ter percebido que o PSDB decidiu apelar. Insinuações maldosas, associações sórdidas e manipulação de informação têm se tornado lugar comum. Os ataques não se limitam ao candidato petista, João Coser, mas se estendem a todo o Partido dos Trabalhadores de uma forma geral. A capa da Folha de São Paulo, com a matéria sobre o indiciamento de Maluf está sendo exibida nos programas de Colnago, mostrando que não entávamos enganados quando destacávamos a distorção dos fatos provocada manchete do jornalão paulista. Se continuar seguindo as linhas tortas do PSDB nacional, rabiscadas por Nizan Guanaes na última eleição presidencial, em breve o programa de César Colnago em breve terá Regina Duarte dizendo: “eu tenho medo do PT”.

A história se repete

No caso de São Paulo, é impossível não lembrar da eleição presidencial de 1989, e da sórdida armação que relacionou os seqüestradores de Abílio Diniz ao PT: uma mentira deslavada que, na época, colou e tirou muitos votos de Lula. Mais tarde, a verdade apareceu. A polícia obrigara os seqüestradores a vestirem camisas do PT antes de permitir que a imprensa os fotografasse. Como se não bastasse, espalharam material da campanha petista pelo cativeiro. Quem não lembra, dê uma folheada no livro “A Síndrome da Antena Parabólica”, do jornalista Bernardo Kucinski.

Como daquela vez, a imprensa força a barra para ligar fatos que não têm muita relação entre si. Tudo é válido na indústria da produção de sentidos. São estratégias sutis de manipulação. Tão sutis que na maioria das vezes não se consegue (ou não se quer) perceber, por mais óbvias que sejam.

As campanhas do PSDB, por exemplo, tentam trazer à tona o velho estereótipo do PT como um partido de "baderneiros". Aparentemente, o artifício já não cola mais, mas tenho cá minhas dúvidas. Até que ponto vai a capacidade (e a vontade) das pessoas para discernir a realidade da ficção?

Com certeza, nem tudo que acontece no mundo da política é “mera coincidência”.

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