MAIS DESABAFOS
Muitas vezes dar uma olhada no mundo que nos cerca faz a gente pensar que está tudo perdido. Talvez a bíblia estivesse certa mesmo: somos vítimas do pecado original, "pobres diabos" expulsos do paraíso, condenados à danação. Ideais de solidariedade, de fraternidade, de liberdade parecem ser apenas simples abstrações. Dá a impressão de Hobbes estava certo e que o homem é mesmo o lobo do homem. Parecemos bestializados, incapazes de pensar coletivamente. No centro do mundo está o umbigo.
Pensar dessa forma é, até certo ponto, conveniente. Atribui-se a toda humanidade a culpa pela imbecilidade, pelo barbarismo. Tudo parece irreversível, o que nos desobriga de qualquer movimentação no sentido de uma transformação do mundo.
Às vezes acho que seria mais interessante pensar assim, de forma bem reacionária. Mas aí lembro o quanto pensar o mundo sob essa ótica favorece a manutenção deste sistema, a perpetuação das injustiças, da corrupção e da violência.
Não, não e não. Se há uma coisa da qual me recuso a abrir mão é da crença no ser humano, na vida. Se isto que está aí é ruim, é ruim porque é desumano, é não-vida. Se a razão já não dá conta humanizar o homem, se o projeto moderno era uma fraude, cabe aos sobreviventes – nós – repensarmos o mundo, redescobri-lo, re-encantá-lo.
Se a razão não se presta a esse fim, que busquemos a sensibilidade, a poesia dos gestos, a harmonia das relações: qualquer coisa capaz de nos devolver a vida ou, se ela nunca se realizou de fato, que sejamos capazes de buscar formas de realizá-la.
Se há algo que me entristece é o dogmatismo, a simplificação: se desistirmos do ser-humano, o que resta?
Antes de culparmos o outro pelos males do mundo devemos olhar para nós mesmos. Se fizermos isso com atenção vamos perceber que, na base de todo nosso desprezo pelo mundo, há sempre uma boa dose de covardia.
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Tenho andado afastado do Psicotópicos, mas não parei de escrever. Quem quiser me acompanhar com mais regularidade, pode visitar a Praca do Zé. Várias discussões estão acontecendo lá. Diálogo é sempre importante.
De resto, obrigado pela visita.
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