domingo, dezembro 25, 2005

AS RUAS VAZIAS E O TAL ESPÍRITO



Procurei refúgio nas ruas para escapar à viscosidade do espírito natalino. Queria só um boteco razoável, quiçá a companhia de um ou dois seres humanos sem rumo – no direction home. Quem sabe uma cerveja gelada ou uma dose dupla de vodka com gelo e limão. Quem sabe um pouco de neutralidade. Um lugar qualquer – a nowhere – onde não houvesse luzes piscando ou bons velhinhos lançando risos bonachões na atmosfera.

Procurei refúgio nas ruas e encontre-as vazias, quase desertas. À meia noite – à hora dos gatos (todos) pardos – o mundo confraternizava ao redor de mesas bem decoradas e pratos típicos. Eu rodava, sobre duas rodas, pelos descaminhos desta cidadezinha meia-boca.

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Cansei deste espírito, desses cumprimentos efêmeros. Aos caros e às caras, desejo uma vida feliz. Que todos possam ser felizes durante os 364 dias do ano, assim o natal vai ter menos importância (e talvez os bares fiquem abertos e talvez a TV deixe de transmitir a Missa do Galo e talvez todos os filmes bíblicos sejam substituídos por reprises de A Vida de Brian).

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Estranho este sorriso no rosto das pessoas. Estanhas essas campanhas por um natal sem fome. É como se, por um momento, todo mal do mundo deixasse de existir – até o próximo “dia útil”.

E tomem musiquinhas alegres!

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O Dylan, o vodka, o gelo, a companhia ideal: eis-me aqui, imbuído de outro espírito. Melhor assim, melhor assim. E que São Nicolau nos livre da pieguice!

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