terça-feira, setembro 05, 2006

"Vai ser engraçado voltar a escrever no Psicotópicos"

Foi o que pensei antes de começar este texto. Há um quê de idiotice nisso, eu sei, mas não havia modo de se esquivar. O último texto postado data de 12 de fevereiro. Nossa! É muito tempo. De lá pra cá muita água passou por debaixo da ponte de Guarapari. Água que, de julho pra cá, deixei de acompanhar. A ponte mais próxima de mim agora é a Rio-Niterói. Minha casa, agora, é o Rio.

Casa algo bagunçada, mas sem dúvida encantadora. O Rio é um ótimo lugar para perder-se, só pra se achar numa das vielas, num dos botecos ou mesmo nas areias de Ipanema.

O engraçado de escrever não é simplesmente voltar a fazê-lo. O cômico (surreal?) tem a ver com o lugar de onde saem os discursos. Já não cabem aqui as lamúrias de outrora e muitos dos protestos e imprecações contra o sistema precisam ser vistas sob um novo prisma. Nada a ver com mudança de valores. O que mudou - e muito - foi o ponto do qual passei a observar o mundo. Mudou o lugar do observador. Mudaram os objetos observados. Meu mundo -- meu mundo mudou horrores. Salto, giro, vertigem. É o novo.

Sim, agora eu estou do outro lado. O outsider de outrora, sob vários aspectos, fez-se insider: há em mim um quê de invasor, um sentimento complexo de estranhamento e inadequação que vem acompanhado de um sorriso de deboche: "Aí, seus merdas, fodeu! Eu entrei! Já era! Perdeu!".

Tá bom, talvez seja preciso explicar às pessoas, afinal, tanto ostracismo fez do Psicotópicos (como de mim) um espaço outro, com nova cara, com novas regras e descaminhos outrora impensáveis. Vamos lá, sem mais embromações: agora eu sou funcionário da Petróleo Brasileiro SA, vulgarmente conhecida como Petrobras.

Sim, eu sei, quem diria, né? O frequentador do Fórum Social Mundial, o crítico severo da Folha, o anti-imperialista!

O fato é que não mudou muita coisa nesse campo. Continuo com uma série de convicções muito bem sedimentadas aqui dentro. Hoje acredito que há um trecho da vida em que certas coisas são tatuadas na gente. Grudam na pele para seguir conosco até o fim de nossos dias. Muitas dessas tatoos foram feitas aqui, no Psicotópicos, letra por letras, frase por frase, texto por texto. A nova realidade impõe apenas mudanças táticas, reposicionamentos, readequação de discursos. O novo ponto de observação possilita um olhar mais apurado das entranhas do business world. As brechas sistêmicas de outrora surgem agora como rombos, crateras, fendas geológicas que clamam por intervenções. Daqui, a sensação de impotência é bem menor. O mundo parece mais maleável. E os "vencedores" ainda mais tolos. (Não cabe aqui a discutir a apatia que viabiliza esse domínio do reles mortal pelo tolo mor, mas é um assunto que sempre merecerá ser (re)pensado).

O Psicotópicos volta, enfim, com outra cara, num outro tempo, num outro espaço. Enquanto houver sol, ainda haverá energia renovável!

E é issaí.

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