terça-feira, fevereiro 07, 2006

DA ARTE DO À VONTADE



A arte do à vontade consistia em esfregar nas fuças da esfinge o grosso de nossa ignorância, só para, ao final, ter o prazer de deixar-se devorar por ela. Lembro agora dos maus modos, aquele jeito desleixado de percorrer a casa de calcinhas (era bom o contado da língua e do algodão: saliva, água, boca: a santíssima trindade: nosso dogma: nossa profanação). O percurso todo foi percorrido sem que ela se desse por conta (o corpo, a trilha do corpo, os cheiros do corpo: um corpo é um corpo é um corpo). A apoteose silenciosa do despir-se toda. E a língua, grávida de obscenidades renascidas entrementes e claro claro claro corpos, sempre os corpos: zona proximal fonte infinita de nossas ciências. A arte do à vontade consistia em esfregar nas fuças da esfinge o grosso de nossa ignorância, soprar no final – e descobrir o que nasce pelo meio: nosso único fim.

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