quinta-feira, fevereiro 09, 2006

MELHOR GUARDAR, NÃO?



Queria ter dito a ela o quanto aquele nada foi importante. Tinha pra mim que o segredo do existir é encontrável na fugacidade de certos instantes: cabe saber fotografá-los: a revelação acontece no escuro, na calada da noite, no silêncio da cama vazia. Não deu tempo pra articular todo o sentido em palavras. Não me cabia mais aquele sentir. Pulava de mim, do osso, do peito. Não consegui dar outra forma ao meu querer que não fosse esta: a da insônia. E converti em pulsões mil – só pra complexificar tudo – aquela linha pura que se estendia na verticalidade de nosso encontro. Naquele ponto onde nos cruzamos, no ponto xis: quando fomos juntos. Onde? Ontem, sim, lembro como se fosse hoje. A receptividade (o convite) surgiu espontâneo, como quem pega pela mão e diz: “vem”. Eu fui, fomos, o quê? Aquilo, sim, sim, aquilo que não cabe – não coube, não é – em palavras. Aquilo que era em si o inarticulado. De articulado, apenas o que nos ia, nos arrastava. Foi ali, sim, ali no parapeito (nada mais apropriado pra conter um coração!). Na hora, nem entendi direito. Espécie de torpor. Visão, visagem, satori: o que estava entre a gente nos escapava. Fugimos. Perdemo-nos. Agora, o negativo – este negativo aqui – revela o que foi (e já não é). Não sei como entregar a ela o sentido, o vivido. Melhor guardar isso aqui, guardar comigo. Pras gerações futuras, quem sabe?! Se nestes corpos (celestes) houver perenidade suficiente pra tanta vida! Se houver vida! Se houver vida! Viva!

Melhor guardar isto aqui. Não?

|