sábado, outubro 29, 2005

TOXINAS



As marcas ficaram no corpo, nos quilogramas perdidos, na carência lacrimal daqueles dois meses eternos. Sentia-se ainda habitada por aquela presença, por aquele corpo grande – aquelas mãos, aquelas mãos – passeando eternamente pela pele, pelo vão das coxas, pelas reentrâncias, pela sinuosidade de seu querer. Fez-se necessário um radical processo de desintoxicação – realizado na raiva fina e elegante com que ela queimou as velhas cartas de amor.

|

A DANÇA



Servia-se da dança para sacá-lo do mutismo intelectualóide no qual ele se enfurnava. O corpo, nu, deslizava pelo quarto entre rodopios e risos agudos, infantis. Ele impunha pouca resistência, cedia logo aos apelos inarticulados daquela figura que escorria líquida pelas paredes, pela cama, pelas dobras do lençol e, sobretudo, pelos escassos pêlos de seu corpo adolescente. Fundiam-se numa mistura alcoólica, embriagavam-se um do outro, gozavam e dormiam assim, tendo por melodia o ressonar discreto próprio dos seres saciados.

|