sexta-feira, julho 30, 2004

ALGUNS TEXTOS



Pra quem quiser se situar melhor na discussão sobre tecnologia (e sobre porque minha insistência em falar sobre isso), vai aí o link pra dois textos interessantes: Ministério da contra cultura (texto que citei em outro "post" de forma sutil mas que, depois das discussões em torno das idéias de Bustamente, merece uma atenção especial) e Democratização da Informação, que traz o resumo de uma palestra com Frei Beto sobre esse assunto.

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CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA HÁ MUITO TEMPO...

Morreu anteontem o mendigo Chico Tabaculê, que há anos era parte do folclore de Guarapari. Tabaculê foi morto com uma paulada na nuca. Algumas pessoas sondam a possibilidade de vingança, pois há pouco tempo Chico agredira um cego que esbarrara nele por acaso.

No enterro, anunciado por em carros de som, figuras carimbadas, como a do compositor de “Meu pequeno Coroado” e “Peroá”, o maratimba Lingüinha – figura tão errante quanto Tabeculê nas ruas da cidade.

Reza a lenda, que Tabaculê não gostava de tomar banho. Vez ou outra, alguém lhe dava um banho meio que à força. Quando isso acontecia, ele gritava, dizia que morreria, que o médico o proibira de tomar banho. Era mentira, mas parece que ele levava a sério. O mau cheiro – junto com os gritos – costumavam anunciar sua chegada, informar, como um localizador arcaico, em que ponto da cidade ele se encontrava. Desta vez, os gritos que tantas vezes salvaram Tabaculê banho, não o salvaram da morte.

O apelido Tabaculê, ninguém sabe ao certo de onde vem. O fato é que era esta alcunha que fazia Tabaculê xingar palavrões sem conta -- na linha do “seusfeladaputa” -- e emitir grunhidos, muitas vezes assustadores, que faziam eco nos prédios do centro. Quando ele passava, logo alguém mexia: “Tabaculê! Tabaculê!”. Era, geralmente, um coro, que Tabaculê revidava, segundo alguns com prazer.

Esse é, por sinal, um detalhe interessante na história oral que foi sendo contada em torno do mito de Tabaculê: segundo alguns, Chico gostava que o chamassem de Tabaculê. Ser provocado e revidar com palavrões e pedradas seria, teoricamente, sua forma de continuar existindo em sua inexistência. Isso não o livrava de ser mendigo, mas o tirava da invisibilidade. Assim como as composições de Lingüinha ou o carrinho de Pedro Doido os tornam visíveis, os gritos de Tabaculê faziam com Chico.

Tem gente que diz que ele tinha família. Outros, que era funcionário da Escelsa e enlouquecera após cair de um poste e bater a cabeça (ou depois de levar um choque?). Outros afirmam que era um homem lúcido, com o qual se podia conversar normalmente depois que se chegava perto. Os seus, diz-se por aí, estão em algum lugar no interior do estado e -- testemunhas afirmam -- seu irmão compareceu ao enterro.

E tem gente que nem sabe o que diz.

Se Tabaculê queria ser visto, conseguiu. Abriu mão da vida – a vida toda – para entrar na história de Guarapari. O destino tragicômico faz pensar sobre como nos tornamos insensíveis para certas coisas. Como temos facilidade para coisificar o outro, tratá-lo como aberração: o “freak show” que nos faz acreditar que somos melhores. Tabaculê deixou de ser Chico, pra ser Tabaculê. É uma maneira enviesada de existir, de estar no mundo. Uma modo de ser não-sendo, de ser descendo ao fundo do poço. Um modo se fazer ver o quanto nossa indiferença pode ser letal.

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quinta-feira, julho 29, 2004

FOLHAS CAEM



As demissões na Folha de São Paulo mereceram destaque especial no site do Observatório da Imprensa, esta semana. Para quem acompanha o universo do jornalismo diário brasileiro (e nem precisa ser tão de perto), não é novidade dizer que a Folha pretende ser (ou pelo menos pretende parecer ser) o jornal mais sério, respeitado e que trata os temas com maior profundidade no Brasil. Essa veia analítica do jornal, que o aproxima um pouco do modo francês de fazer jornalismo (pensemos no Le Monde) sempre foi suficiente para transformar em verdade absoluta o que saia na Folha . O jornal era (e ainda é) leitura obrigatória para os “formadores de opinião” no Brasil.

Caracterizado por seu publisher, o liberal Otavio Frias, como uma empresa acima de tudo, o jornal nunca conseguiu esconder a quem mantivesse os olhos um pouco abertos que o anunciado jornalismo sério da Folha tinha muito de estratégia de marketing. Assegurar um status de imparcialidade (por mais frágil que seja este argumento) era (e é) bom para os negócios da Folha . Como acusa Juremir Machado da Silva em seu livro A miséria do jornalismo brasileiro, a cientificidade do Caderno Mais!, por exemplo, só existe porque existem intelectuais, de direita e de esquerda, que vão às bancas no domingo, pra acompanhar a nata da intelectualidade brasileira, que desfila no Mais! – e ajudar a Folha a vender 1 milhão de exemplares de sua edição dominical.

Não podemos, contudo, demonizar a Folha por ser uma empresa: ela simplesmente atua com a lógica do capitalismo e, enquanto não se fizer nada melhor, ela continuará sendo o jornal menos pior do Brasil. Respeitando sua própria lógica, a do mercado, ela acaba sendo interessante, na medida em que atende razoavelmente à fatia de mercado que escolheu. Desde que se acompanhe o jornal com os olhos bem abertos, é possível transforma-lo numa ótima fonte de pesquisa e conhecimento.

A questão principal aqui passa pela fragilidade de uma empresa que trabalha com conhecimento, com formação de subjetividades, e continua refém de fatores externos. A independência da Folha é garantida pelo mercado. E não precisamos recorrer a longos discursos pra dizer que se nossa independência depende de algo além de nós mesmos, ela é um simulacro de independência, uma pseudo-independência.

É esta pseudo-independência que começa a cair por terra com a crise financeira com a qual se depara a Folha . Forçada a demitir pessoal para cortar gastos (e pagar suas dívidas), a Folha corre sério risco de perder qualidade e, com isso, ver ameaçada sua posição de modelo de jornalismo sério no Brasil.

Casos como este da Folha fazem pensar. Será que vale a confiar a um jornalismo tão frágil a responsabilidade social que se espera da imprensa? Será que não está na hora de revermos nossos modelos, de repensarmos o jornalismo a partir de suas bases? São questões que ficam no ar...

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Os textos do Observatório que abordam a questão Folha de São Paulo são: O BOCEJO DO JORNALISMO, de Cláudio Júlio Tognolli e A LONGA TRAVESSIA, de Marcelo Beraba, o Ombudsman da Folha .

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quarta-feira, julho 28, 2004

PARA ENTENDER MELHOR O PSICOTÓPICOS



Excesso de “posts” merece explicação sumária, então vamos lá.

Nos últimos três dias a produção foi intensa por aqui, portanto, organizemos a coisa com base na afinidade entre os textos.

Os textos COLAGENS DO DIA, JORNALISMO ON-LINE e ORKUT
MADE IN BRAZIL
falam todos de tecnologia, mas os dois primeiros relacionam-se mais diretamente um com o outro do que o terceiro com os demais. Todos eles oferecem links para textos do Observatório da Imprensa que serviram de ponto de partida para as questões desenvolvidas por estes cantos. Os três texto complementam, de certa forma, as discussões ocorridas nos “post” DEBATE- Parte II (que para ser compreendido exige a leitura de
DEBATE - Parte I e de DEBATE - Parte I - Resumo, que lhes deram origem).

O “post” POETAS E BURGUESES divaga sobre uma frase do Cazuza (“Enquanto houver burguesia não vai haver poesia), de forma descompromissada. E, falando em poesia, o “post” POEMA
DO DIA
traz um trecho de Leminski. Na linha dos devaneios poéticos, também estão os textos 1º ATO e 2ª Ato(a), bem como os comentários de Orlando Lopes (reproduzidos no “post” MURAL - Orlando Lopes) deixados nos Psicomentários do “post”
FRASE DO DIA, que traz um texto de Carisse Lispector. No mural (“post” MURAL - Convidados do Psicotópicos) também está o texto do Zé, sobre o Lula. Este texto, extraído do blogue do Zé.

Para entender melhor alguns dos últimos “posts” de caráter mais pseudo-teóricos, é bom dar uma lida em Até que ponto?, "AS RAZÕES DO ILUMINISMO": idéias suscitadas e nos debates sobre tecnologia, citados acima.

Se alguém quiser seguir nas leituras esdrúxulas, o caminho é o “post” FIM DE SEMANA.

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COLAGENS DO DIA



“Quando constatamos o fato de que milhares de pessoas, desempenhando funções diferentes, unem-se, através do ciberespaço, com o objetivo de produzir não só programas de computador, mas conhecimento na forma, efetiva, de propriedade social, então, não se trata mais de troca mercantil e nem mesmo de mercadoria. Não se trata mais da separação entre os produtores diretos e os produtos e os meios do seu trabalho, não se trata mais do trabalhador existente apenas como mera subjetividade coisificada a serviço de outrem. As novas relações entre os diferentes trabalhadores (o programador, os diferentes programadores, os tradutores, os desenvolvedores, no caso do software livre), relações de cooperação ampliada e potencializada pelos novos meios de comunicação virtual, garantem novas relações entre esses diferentes trabalhadores e seus produtos e meios de trabalho. Esses produtos aparecem desde já, desde a sua gênese, como produtos sociais de uma coletividade. E o seu trabalho também aparece como atividade dotada de sentido, atividade livre, auto-atividade.
Atividade dotada de sentido e produto do trabalho não mais afastado de quem o produziu são sinais muito claros de mudanças radicais em relação à sociedade generalizada de mercadorias. Isso significa uma espécie de desentranhamento progressivo dos trabalhadores a partir da construção de novas relações sociais. Esse é, sem dúvida, um arranjo produtivo muito diferente da produção em bases capitalistas, na qual as mercadorias assumem o caráter de seres sociais e as pessoas assumem o caráter de coisas materiais. Eis, portanto, o grande desafio posto para movimentos como Software Livre e Wikipedia: será possível copiar esse modelo para as outras esferas da vida social?
Se a resposta, na prática muito mais do que na teoria, for "sim", então, a sociabilidade do capital está com os seus dias contados...”

(Antonio de Pádua Melo Neto , Economista, mestrando em Sociologia pela Unicamp)

O perfil do universitário hoje é de alguém que lê o menos possível, foge de debates sobre quaisquer assuntos e, na maioria, é incapaz de construir uma crítica consistente.
((Fábio Davidson, Estudante do 2º ano de Jornalismo, São Paulo))

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JORNALISMO ON-LINE



Estava lendo há pouco uma matéria do Observatório da Imprensa sobre jornalismo on-line e um trecho me chamou a atenção (clique
aqui para ler o texto)
. Falando sobre direitos autorais, o autor do texto escreve: “Uma reportagem virtual é submetida a um vertiginoso processo de desmembramento e recombinação a partir do momento em que é publicada”. E escreve mais, no parágrafo seguinte: “Este processo deverá se tornar ainda mais intenso na medida que aumentar o uso de narrativas não-lineares em textos jornalísticos. A não-linearidade dá a cada leitor a chance de organizar a leitura da matéria segundo seus interesses ou necessidades. Como a narrativa não-linear na web permite o uso simultâneo de várias mídias (caráter multimídia), o roteiro final seguido pelo leitor pode ser bem distante daquele originalmente concebido. Nestas condições, a autoria original perde muito da relevância e torna-se peça de um processo de criação em novos moldes”.

Impossível não lembrar de Rayuella (O jogo da amarelinha), livro do escritor argentino Júlio Cortazar. Em O Jogo da Amarelinha Cortazar inovava, compondo o livro com uma série de capítulos aos quais ele chamava “prescindíveis”. Eram capítulos que, se não fossem lidos, não comprometiam o andamento da narrativa. Contudo, deixar de ler os capítulos, era fechar-se a uma série de possibilidades que eles abriam pois tratavam-se, basicamente, de reflexões perspicazes sobre filosofia, arte e estética.

Na Internet, o hipertexto dá uma idéia dos caminhos possíveis. Para um texto que utiliza-se dos linkas para contar uma história no formato não linear, os caminhos a serem tomados são inúmeros, proporcionais, geralmente, ao interesse do leitor. E o melhor: isso tudo sem os enormes gastos que um veículo convencional, impresso, exige.

Talvez por essas e por outras características, a Internet seja hoje o espaço ideal para tudo aquilo que é alternativo transmitir sua mensagem. Talvez por isso os Fanzines percam, dia a dia, mais espaço para os blogues.

Como fala o texto do Observatório, a informação da Internet torna-se mais valiosa na medida em que circula. Isso escapa, inclusive, à lógica capitalista do consumo, da compra, da posse do objeto para deleite exclusivo. A Internet funciona mais em termos de fluxos do que em termos de apropriação.

Vale a pena dar uma conferida no texto e refletir um pouco sobre a possibilidade de se utilizar tecnologias como essa para reinventar a forma de conhecer. Para pensarmos num saber menos individualizado (aquele do pensador solitário, lendo e escrevendo em seu escritório) para algo mais intersubjetivo, mais próximo à razão comunicativa.

Não dá pra deixar de lembrar o “post” sobre o setor hippie do Ministério da Cultura e seu representante otimista, falando que, com as novas tecnologias, cria-se a partir da obra do outro o tempo inteiro. Essa é uma questão que assustaria os românticos e seus gênios, mas algo que merece ser pensado com carinho e que exige até mesmo uma auto-análise de nossa parte: o que vale mais, a glória de ter o NOSSO trabalho reconhecido (a lógica das patentes tão cara aos capitalistas norte-americanos) ou contribuir para uma obra coletiva, que resulte num bem para um número incontável de pessoas? O que é mais importante, ser Bill Gates, com mais dinheiro do que é possível gastar em 20 vidas, ou colaborar para que o Linux se torne cada vez melhor e todas as pessoas tenham o direito de usar um sistema operacional gratuito, contribuindo, de verdade assim, para a inclusão digital?

Sei que a discussão sobre tecnologia do Psicotópicos acontece em outro âmbito, mas não poderia deixar de falar nessas coisas, pegando carona – e criando em cima de – no texto de Carlos Castilho.

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Para ler mais sobre tecnologia e sobre a batalha de Bill Gates contra o software livre (Linux e afins), dêem uma olhada em outro artigo do Observatório: Questões
para "abrir a cabeça"
, de Antônio de Pádua Melo Neto.

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ORKUT MADE IN BRAZIL



A invasão brasileira no Orkut está dando o que falar. O serviço, criado no início do ano por um turco chamado Orkut Buyukkokten, é formado por 43% de usuários brasileiros, contra 23,5% de estadunidenses, apesar de haver apenas 20 milhões de usuários de internet no Brasil contra 150 milhões nos EUA.

A avalanche de brasileiros incomoda o pessoal do Tio San porque os brasileiros escrevem em português no Orkut e os yankees se sentem excluídos.

Para saber mais, clique aqui e leia a matéria do Observatório da Imprensa sobre o assunto.

Cá entre nós...

Como usuário recente do Orkut, devo dizer que acho bom e natural os brasileiros se comunicarem em português. Se o objetivo é conversar com brasileiros, nada mais normal do que falarmos em nossa própria língua. Nem todos por aqui têm condições de estudar inglês e, mesmo que tivessem, ninguém é obrigado a fazê-lo! Antes mais pessoas fossem estudar alemão, francês, italiano, mandarim! Seria uma forma de evitar que o “american way of life” se torne o único caminho.

Só pra retomar aqui aquela discussão sobre tecnologia, acho que o exemplo do Orkut deve ser levado em consideração para pensar nas possibilidades de resistência que uma coisinha tão inofensiva quanto o Orkut pode oferecer. Dá pra lembrar de Chiapas, dos Zapatistas, utilizando a web pra pedir socorro.

Outra fato interessante é que, mesmo em se tratando de um ato inconsciente da parte dos brasileiros, a atitude mostrou o quanto os norte-americanos se sentem acuados quando perdem a posição central que SEMPRE ocupam.

Se eles se sentem por fora, excluídos das nossas discussões, às quais têm “tanto interesse” em acompanhar; se dão tanto valor a isso; se isso é tão fundamental; se é assim, que aprendam nossa língua, que busquem entender melhor a nossa cultura, nosso modo de ser. Quanto queremos lê-los, temos que fazer isso!

Eu não queria entrar nesse tipo de discurso, mas é que é impossível não se sentir indignado diante da arrogância desse povo. Parece-lhes insuportável a idéia de não poderem ocupar TODOS os espaços. Dapois da lua, o Iraque. Depois do Iraque, o Orkut. Depois do Orkut, o que? Nossos corpos?

Ceder nessa pendenga seria idiotice. Seria curvar-se, mais uma vez, à vontade deles, à vontade da minoria poderosa. Em poucos momentos temos a possibilidade de resistir, de garantir nosso espaço. Este parece-me ser um desses momentos. E aqui quem fala é o meu lado que ouve Mundo Livre S/A e que acompanha o José Arbex Jr. Meu lado que cantou “Pra não dizer que não falei das flores” ao lado de 8.000 pessoas no Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Aquele lado que fica puto com os EUA ou com qualquer outro país de merda quando vê situações desse tipo. Fica puto não porque ame o Brasil cega e doentiamente, mas porque odeia a arrogância de quem só consegue ver o próprio umbigo. Quando esse comportamento diz sobre o país que é a maior potência do mundo, pior ainda!

Lutemos pela diversidade, por nosso direito de falar em português e aprendermos a língua que quisermos e de procurar saber da cultura que nos interessar. Não é uma questão de amor à pátria, mas de gotas de amor próprio.

E pronto! Fui panfletário mesmo! Dane-se!

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terça-feira, julho 27, 2004

PSICOTÓPICOS VIRA OBJETO DE ESTUDOS



Suspeito que fui tocado por Narciso, pois não consigo controlar a vontade de escrever aqui que a discussão sobre tecnologia que eu e o Zé (e quem mais quiser) estamos desenvolvendo por estas bandas vai virar objeto de estudos na disciplina de Comunicação Comparada, no 2º período de Comunicação Social da J.Simões.

É importante ver que o Psicotópicos está dando certo e que, se não todos, pelo menos alguns diálogos, começam a fazer algum sentido.

Ver que uma discussão começada num “post” pode ultrapassar os limites do blogue me deixa feliz, pois aponta para novas possibilidades. O mais curioso disso tudo é que o texto que chamou a atenção de Luziane, a professora de Comparada, tem o título de “O Inútil”.

Mas já que comentamos possibilidades de ampliar a conversa, queria dizer que é possível que consigamos articular por estes lados, uma palestra do Zé, O Outro – atualmente, meu interlocutor mais ativo aqui no Psicotópicos – sobre tecnologia. A proposta, devo dizer, partiu dele e – ele mal sabe – já comecei a sondar aqui qual a possibilidade disso vir a acontecer de verdade. Percebi hoje que há grandes chances de rolar uma debate não-virtual antes mesmo do que a gente esperava. Aí, vai depender da disponibilidade dele, do Zé.

São boas notícias que, vez ou outra, dão as caras. Sempre utilizei aqui uma “filosofia do pé atrás”, pra evitar empolgações exageradas e, conseqüentemente, posteriores frustrações. Mas, apesar disso, acho que na hora de comemorar, a gente comemora, porque se não for pra fazer festa, a vida perde um pouco da graça. Entonces, parabéns pro Psicotópicos!

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E Zé, só pra constar, suas aparições foram fundamentais para que o Psicotópicos ressurgisse das cinzas. Interação é fundamental pra impedir que as coisas que “posto” aqui não voltem para a gaveta.

Para Luziane, Stella, Orlando, Layla, Docinho, João... e pra todo mundo que passa por aqui e ajuda a manter a conversa nos Psicomentários: um abraço! Valeu, galera!

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POETAS E BURGUESES



Ontem estava discutindo com uma amiga a seguinte frase de Cazuza (é, ta certo, Cazuza anda em alta por aqui e por outros cantos, mas vá lá): “Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”. A frase soa estranha quando lembramos que a poesia de Cazuza veio, em boa parte, das experiências suscitadas pela burguesia da qual ele – por mais que rejeitasse – saíra.

Fiquei matutando sobre isso o resto da tarde e fui longe. Lembrei dos primeiros burgueses, que compravam as obras dos pintores renascentistas. Lembrei de grandes nomes da poesia como Baudelaire, Fernando Pessoa, Blake e esse povo, que viveram no auge da sociedade burguesa, mesmo quando marginalizados por ela. Acho que não dá pra negar que tanto do seio da burguesia quanto do seu oposto – seus críticos – surgiram grandes poetas. Saindo deste campo, chegamos a nomes como Flaubert e Balzac, que construíram suas obras com base na crítica à sociedade burguesa.

Acho que a burguesia pode até feder (apesar dos perfumes franceses), mas dizer que ela é incompatível com a poesia, acho exagero. Talvez excesso de liberdade poético-panfletária – e paradoxal – da parte da Cazuza.

Mas só gente chata – ou em momentos de chatice – pára para cobrar coerência de Cazuza. Esses paradoxos ajudam a construir a figura que ele foi e não devem ser levados muito a sério. Ajudam a recolocar os mitos em seus devidos lugares: o de seres humanos, perfeitamente imperfeitos, complexos e inexplicáveis.

A vida não deve ser posta em altares, para ser venerada. Veneremos o ato de viver enquanto dinamismo. A vida não é estática, não cabe em esquemas. Os pedestais exigem estátuas e, se há uma coisa que Cazuza não foi, esta coisa é uma estátua.

Obserrvação para os mais próximos

E chega de Cazuza por uns tempos. Carissa e Layla: vamos pegar The Doors pra assistir, vamos falar de Led Zeppelin, Ramones, Beatles, Janis Joplin, Jimi Hendrix... vamos falar de outra coisa: já tem gente demais falando do Cazuza... e é isso...

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DEBATE - Parte II


Apresentação das Armas

Começa a partir deste “post” o segundo round do debate sobre tecnologia, com base no texto de Bustamente. Abaixo, o trecho do texto a se discutido.

Combate
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO SOB A ÓTICA DE JAVIER BUSTAMANTE


ROUND 2

A outra ponte

Os cientistas foram educados principalmente para desenvolver teoria e inovação, mas nem sempre têm uma percepção ética da responsabilidade que implica uma mudança gigantesca da realidade humana. Falava-se antes que as idéias mudavam o mundo. Hoje, a forma de mudar o mundo é através da técnica e da tecnologia. Robert Moses, o arquiteto que deu à cidade de Nova York o desenho que tem atualmente, idealizou uma cidade para as classes mais ricas e favorecidas. Projetou então 300 pontes em Long Island para dar uma imagem especial da metrópole. Quando essas edificações foram analisadas, constatou-se que faziam uma discriminação importante, já que tinham uma altura livre de apenas três metros. Foram feitas apenas para carros, não para o transporte público - quem não tinha carro, não entrava na área. Assim, muitas vezes, quando achamos que temos que reagir contra uma política de discriminação, percebemos que a tecnologia é um elemento neutro, uma coisa que não encarna opções religiosas, políticas, ideológicas etc. Por isso temos que prestar uma atenção especial aos projetos técnicos. Eles são tão políticos quanto as próprias leis.

O Gongo

Se pegarmos a primeira frase do texto, podemos pensar no exemplo clássico de Frankstein, a criatura que perde o controle, a ciência que fica pequena diante de sua obra. Acredito que a necessidade de manter o olhar crítico sobre a tecnologia foi apontada neste trecho por Bustamente. O exemplo de Nova York mostra isso: é um alerta. Contudo, Bustamente reconhece também o importante papel que a técnica e a tecnologia exercem nas modificações da sociedade contemporânea. O sociólogo Michel Maffesoli tem uma idéia interessante para representar o período pelo qual passamos. Para ele, vivemos uma fase de retorno do arcaico, de ressurgimento dos comportamentos e formas de relacionar-se com o mundo que marcavam a realidade pré-moderna. Seria um período no qual a razão perde espaço para o que ele chama de “imaginal”. Maffesoli acredita que os grupos hoje se formam especialmente por um repertório imagético comum e não pela convergência de idéias. Apesar desse arcaísmo no modo de ser e relacionar-se, Maffesoli diz que as conquistas técnicas da modernidade são aproveitadas. Simplificando muito, é como se fôssemos aborígines que usam laptops. O pensamento de Maffesoli pode ser atacado de diversas maneiras e ângulos – até porque, sua análise toma por base, primeiramente, o contemporâneo, o contingente, que muitas vezes nos escapa e inviabiliza uma análise mais aprofundada. Contudo, gostaria de deter-me nesse aspecto da perda do status privilegiado da razão na organização do mundo e da importância da técnica nesse contexto. Ousando um pouco – porque aqui não temos tantos compromissos assim – eu arriscaria aproximar Habermas de Maffesoli para dizer que a razão que perde espaço é a razão comunicativa, já que as esferas do mundo vivido, o espaço público, foram colonizadas pela razão instrumental, a razão da técnica e da tecnologia. Pensando com Habermas, nosso dever, de certa forma, seria lutar por recolocar a razão comunicativa no seu devido lugar, tendo a razão instrumental a seu serviço, e não o contrário. Há uma necessidade, como aponta Bustamente (e como eu tenho enfatizado aqui) de colocar a tecnologia no centro da discussão do espaço público.

Só que aqui surge um paradoxo aparente que tem me incomodado bastante nestas minhas leituras mais recentes de Habermas. Não há como negar que hoje há uma perda da capacidade/competência lingüística nas pessoas. Muitas coisas deixam de existir porque não podem ser ditas/explicadas/descritas (e aqui nos aproximamos do segundo Wittgenstein). Para que o diálogo aconteça é preciso haver um consenso sobre um certo número de pressupostos aceitos por todos os envolvidos no diálogo. Pressupostos comuns são difíceis de encontrar no mundo contemporâneo, mas existem. Parece-me que muitas vezes a dificuldade das pessoas está em conseguir afinar os discursos, encontrar intersecções -- “nós” -- entre eles. E aí chegamos, novamente, ao “querer dizer” do Wittgenstein, e voltamos a um tema já repisado aqui no Psicotópicos que é a necessidade de buscar compreender o outro, ver/sentir como o outro. O texto sobre Dança com Lobos (Dança com o Outro) apontava nessa direção.

A minhas questões passam, então, por dois caminhos: 1) como conseguir devolver à razão comunicativa seu espaço se primeiro é necessário aprendermos a compreender e fazer-se compreender para exercer essa razão comunicativa?; 2) como a técnica – que hoje pode funcionar como elo de ligação entre diferentes “tribos” – pode ajudar a diminuir as distâncias entre um discurso e outro, decifrando o que cada um “quer dizer”?

Só lembrando, esses foram os pensamentos/dúvidas que o texto em discussão suscitou em mim. Há outros caminhos a serem tomados a partir dele, façam suas escolhas.

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segunda-feira, julho 26, 2004

POEMA DO DIA



isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
(Paulo Leminski)

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2ª Ato(a)



Hoje é segunda-feira. Abandonem os livros e as bolas pois a história agora é outra e começa assim: o ato não me pertence porque neste caso meu agir seria um não-ato -- quase um desacato.

Segunda, dia de feira: saber-fazer desvalorizado, trabalho alienado, saudades do feriado (referências a Drumond) e rimas em “ado”.

E por falar em “ado”, a segunda é dia de ter cuidado. Brigas nos esperam na esquina da frase atravessada – ou da má fase. Bad trip: sonhos interrompidos pelo despertador – que nos anuncia a hora de adormecer, de anestesiar-se, de fechar os olhos. O corpo se cala, se rende: serve agora ao desprazer.

Segunda é dia de silêncios, de ressacas, de beijos de despedida. Dia de “cafés sem açúcar”, de danças sem par”: os átomos se espalham, apesar do frio.

Bom seria falar da segunda até gastá-la, até transformá-la em terça... mas já não há tempo: é hora de fechar os olhos e adentrar ao mundo do não-sentir. É hora! É hora! É hora, é hora, é hora!!!...

E assim termina o não-ato de hoje: quase um non-sense.

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sexta-feira, julho 23, 2004

1º ATO



Hoje estou a fim de escrever sobre nadas. Falar de coisas aleatórias, apontar lápis velhos para escrever em linhas tortas – ou mortas. Não preciso de um mote, um início, uma finalidade. Só vale o que é ato. Escrever, e é só.

Não importam os leitores, os sentidos ou as releituras. Não importam forma ou conteúdo. Não importa a exportação, a economia, a balança comercial: importam as bolsas de mulher, levando o caos para bares e boates. Caos que é porto seguro: garantia de que o belo pode ser refeito: o renascer em frente ao espelho.

Hoje, sou – quero-quero: acordo prendas em noite de lua. Hoje sou minuano, fazendo parceria com os campos cobertos de geada: o fim da festa – o começo do nascer do sol.

Hoje, só importa a língua que, à míngua, resseca e pede água – poesia do corpo. Poesia nos corpos: a vida, obra de vanguarda: estende-se nas desalinhas de tempo – presente presente, aproveitando os segundos: primeiros momentos; preliminares.

Hoje, só vale o que é ato.

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DEBATE - Parte I - Resumo



Bom, tentemos sintetizar aqui as quase 4 mil palavras que renderam as discussões sobre o primeiro fragmento do texto de Bustamente, sobre tecnologia. Embora o “grande” debate não tenha acontecido, o diálogo estabelecido entre mim e o Zé foi de grande valia e chegou a terrenos que eu – confesso! – não esperava.

O ponta-pé inicial da discussão foi dado por mim. No “post”, reforcei a necessidade apontada por Bustamante de pensarmos mais sobre a tecnologia. Zé, em seu primeiro comentário, entrou de sola. “Acho que pensar os usos tecnólogicos diz muito mais da necessidade de crítica de que de adesão”, opinou. Em seguida, apontou a associação entre tecnologia e capitalismo: “Muitas vezes a gente paga para ver. Noutras a gente não tem dinheiro. Armadilhas que o capitalismo renovado dispara a partir das engenhocas que hoje nos conectam”. Se por um lado, Zé reconheceu algumas a vantagens da tecnologia dizendo “acho ótimo falar com alguém distante sobre mil e uma coisas”, por outro, atacou a falta de vida do universo virtual, dizendo “acho péssimo saber, que muitas vezes esse encontro não será com sons, cheiros, toques e o que mais seja”. Entre os petardos do Zé, sobrou até pro Levy: “Lévy prega uma adesão a um meio que ele mesmo desconhece, posto que é potencialmente um meio ininteligível”.

Após este primeiro comentário do Zé, comentei eu, tentando ater-me às críticas do comentário anterior. Sobre a ausência de sons, cheiros e toques apontada pelo Zé como um defeito das relações mediadas pela tecnologia eu disse: “Acho que realmente elas [as novas tecnologias] são incapazes de substituir a intensidade do relacionamento "carneossal", o contato direto entre dois seres humanos. Sempre defendi isso com unhas e dentes”. E completei: “Prefiro pensar nas tecnologias como possibilidade de extensão do homem, como algo capaz de acrescentar, nunca de substituir”. Em seguida, apontei uma série de usos possíveis para a tecnologia, como forma de libertação/liberação do homem, dentre eles, os softwares livres e os sistemas abertos, que abrem grandes possibilidades criativas ao usuário de tecnologia que, com eles, poderia tornar-se produtor de tecnologia. (Citei também os programas de compartilhamento de arquivos, os blogues, o Linux etc., como caminhos interessantes).

No comentário seguinte, Zé insinuou apontou o exagero de termos técnicos ou, como ele definiu, “sublinguagens da parafernália tecnológica” citados no comentário anterior, mas ateve-se a um ponto de meu último comment, a saber, aquele no qual eu digo perceber a tecnologia como possibilidade de extensão do homem, capaz de acrescentar à vida e não de substituir. A este argumento, Zé contrapôs o seguinte: “Eis um dilema terrível, pois no uso o que se acresce, muito geralmente substitui. É triste, mas é uma constatação. Por mais informado que se seja, a forma mais elevada que se presta ao homem na tecnologia é de usuários. O Virilio identifica isso. Eu tendo a concordar com ele, principalmente naquilo que ele coloca em A máquina da visão”. À frente, ele faz uma concessão: “mas usuários produzem também e isso é verdade. Nós aqui, tendo essa impagável conversa. Ótimo, muito bom mesmo. Estamos burlando, semeando, dissipando, etc, no uso”.

Na continuação do comment, Zé vem com artilharia pesada: “A questão se coloca antes. A captura é anterior ao uso. Se dá no desejo e acho que Virilio não faz essa análise. Ela se encontra nos processos de produção da subjetividade. Aí é Deleuze, Guattari (...). Uma apropriação Psi a distribuir possibilidades numeráveis de tópicos. Alguns novamente burlam e a maioria embarca e outra onda se apresenta e outra maioria embarca. Na microexistência, no microcomputador”.

(Confesso que agora, relendo o comentário acima, sinto não ter me detido por mais tempo na análise dele. Talvez tenha corrido do desconhecido (Deleuze e Gattari) e, pra não deixar a discussão esfriar, tenha deixado de pedir ao Zé maiores explicações. Captura de quem por que? Da tecnologia pelo homem ou o inverso? E o desejo em questão é no sentido de fazer o homem desejar a tecnologia para incentivar o consumo? E de quais processos de formação de subjetividade estamos falando? O que é, exatamente, essa “apropriação Psi”? E as possibilidades numeráveis de tópicos? Ficam aí as dúvidas, pra uma outra hora).

Retomei, no comentário seguinte, à questão da microexistência, aceitando-a como possibilidade, mas não como regra. Possibilidade sempre aberta a um ser humano que classifiquei (um erro, pois rotular é sempre arriscado) de “problemático, complexado, incompleto”. Citei pesquisas que apontam que a maioria das pessoas serve-se da tecnologia e não se torna refém dela. Quanto à acusação do Zé (e do Virilio) de estarmos condenados à condição de usuários, defendi-me citando exemplos que derrubam (ou abalam) essa tese (citei o Linux novamente e apontei as vantagens de se investir no ensino de tecnologia para liberar, realmente, o potencial benéfico que ela guarda). Terminei o comentário com um emocionado “Rejeitar a tecnologia, abrir mão dela, é deixá-la nas mãos dos que gostam e não tem intenções assim tão nobres”.

Depois do comentário acima, a discussão “se sofisticou”, como disse o Zé e entramos no campo do filosófico. A pendenga se deu em torno da (in)definição de ser humano usada por mim, que colocava os homens como seres incompletos. A discussão foi bela, mas saímos ou pouco do tema central do debate, que era a tecnologia. Mas foi gratificante ver o debate tomar esses rumos. Vale a pena retomar os caminhos percorridos noutra ocasião, mas não é o caso de faze-lo aqui. Este “post”, já grande demais, serve apenas para resumir o que foi falado sobre tecnologia. A discussão filosófica que surgiu daí, está nos psicomentários e pode ser acompanhada lá. (E vale a pena).

Voltando à tecnologia, Zé escreveu: “Bom a outra questão diz da tecnologia, linux e essas demais paradas. Acho fantástico a produção de linguagens coletivamente. Uma grande saída ou entrada, como queira. Mas é apenas um encaminhamento para os usuários. Há um problema que precede esse contexto, apesar de invariavelmente aparecer no mesmo. Essa coisa do desejo produzido no capitalismo, digo esse ideal de desejar.”

E continuou: “Creio que essa discussão pode ser feita dentro ou fora do ambiente de uso da tecnologia. Isso porque nela não parece haver fora. Quem não quer? É muita angustia não querer. Não sei se você percebeu, mas lá no Blog do Zé, muita gente deu uma sumida quando o assunto saia do Zé e ia para a Padaria, por exemplo. Quando se tenta quebrar o EU, a coisa complica. O blog é EU o tempo todo. Ou melhor é a manifestão de Eus desesperados para serem visualizados, consumidos, ingeridos mesmos. Pode-se até vomitar depois. Índices os pontuam, etc e coisa e tal. A competição marca também a experimentação dos blogs. E isso é minha maior preocupação.”

Reproduzi o comment na íntegra, porque na ocasião em que foi escrito, houve uma confusão. Eu e o Zé, por coincidência, respondíamos ao mesmo tempo (estávamos ambos on-line) aos comentários anteriores, o que causou certa confusão. O comentário acima só foi encontrado há pouco, quando (re)consultei os comments para escrever este resumo. Pena que não pude me deter com mais calma nessas últimas observações. Gostaria de retoma-las qualquer dia desses.

A verdade é que se esse erro de percurso não tivesse acontecido, não teríamos discutido a “incompletude” ou “completude” do ser humano... Mas isso, como disse, está nos Psicomentários...

Esta primeira discussão ficou assim, com muita coisa em aberto. O que é bom! Se alguém quiser conferir, meter a colher ou criticar, dê uma passada nos psicomentários do “post” Debate – Parte I.

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quinta-feira, julho 22, 2004

MURAL - Orlando Lopes

Mestre Orlando passou pelo Psicotópicos depois de um bom tempo sem dar as caras. A passagem meteórica rendeu o texto abaixo, registrado nos Psicomentários da frase de Clarisse.

"Defeitos são o quê, e para quem? Mas a frase é boa... Se o que eu "sou" depende de "como" eu sou, o que eu seria, se não fosse assim? Quereria eu ser outro? Mas, se outro, como saberia de mim? Desexistiria? Ah, os claricínios...

Orlando Lopes
(http://industriatextil.blogspot.com)

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quarta-feira, julho 21, 2004

MURAL - Convidados do Psicotópicos

ENTRE HERÓIS E COMPANHEIROS

Alguém me falou que o Lula num dos seus últimos discursos reclamou da falta de heróis no Brasil. Parece ter dito que faltam referências à juventude. Por mais que suas intenções permaneçam as melhores, não posso deixar de lamentar por sua opinião. Herói é tudo que o Brasil não precisa e o Lula - sua história - é prova cabal disso. Heróis salvam o povo do padecimento e Lula já deve ter percebido a inviabilidade dessa missão. Então porque ainda fala em heróis? Talvez por não ter o que dizer. Por que então não cala? Ah, mas o presidente tem que se pronunciar sempre e tal, diria alguém. Penso que não. Até porque regra presidencial no Brasil é algo para jamais se repetir. O que lamento é que naquilo que mais aparece, esse governo tem guardado semelhanças com o anterior. E aquilo que pouco aparece, a gente quase não fica sabendo. Deveria talvez o Lula dizer mais das suas dificuldades, suas limitações e nos chamar novamente de companheiros. Olhando o que temos sido, hoje eu ainda lhe responderia. E você?

Zé, o outro
(http://zeooutro.zip.net/)

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terça-feira, julho 20, 2004

FRASE DO DIA



"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro"
(Clarisse Lispector)

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segunda-feira, julho 19, 2004

(RE) VISÕES

As frases ditas já foram ditas, feitas e desfeitas noutros tempos. Já saíram de outras bocas, já compraram outras brigas. Se há jogo, aqui, é de linguagem. Crer em algo é apostar nesse algo - no amor, no desconhecido, no Outro. Se há um caminho a seguir, são os descaminhos da vida – para perder-se nela. Teorias estão aí para serem criadas, descobertas, destruídas, descamadas – não para serem seguidas. Lugar de coração é no peito, batendo e apanhando, pois é esse o ritmo do viver. O sonhador sabe pouco – quase nada – além de seus sonhos. Vez ou outra, sonha junto – mas sobre “sonho que se sonha junto”, Raul fala melhor. A mente rebuscada, mente. Vida não se copia, se vive – sempre buscando ser livre (embora nem sempre conseguindo). Fome, dor e gozo são para serem sentidos: a teoria não dá conta desses universos. A verdade é furta-cor, camaleônica: nos engana o tempo todo. Se encontrar a verdade é crime, crime maior é acreditar que a encontramos. A utopia não é um mal, pois impulsiona: o coração pulsa com ela. A morte acompanha o relógio: versões de nós mesmos morrem minuto após minuto. Mas algo sobrevive e “a vida segue com ou sem você”. A poesia fala de um outro que, embora faça parte de mim, não SOU eu, porque eu ESTOU. No terreno do humano, toda simplificação é precipitada. Mas a vida também acontece nas precipitações: aceitemo-las então. De resto, paz e amor para todos.

(Zé, se puder postar este texto no teu blogue. Ia colocar como comentário, mas ficou grande demais...)

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sexta-feira, julho 16, 2004

"AS RAZÕES DO ILUMINISMO": idéias suscitadas



HABERMAS E FOUCAULT

Num “post” anterior, citei o pensador alemão, da Escola de Frankfurt, Jürgen Habermas para falar sobre a invasão da justiça à vida privada das pessoas – às esferas do “mundo vivido”. Curiosamente, após ter escrito o texto em questão, iniciei a leitura de “As razões do iluminismo”, livro de ensaios de Sérgio Paulo Rouanet. Num dos capítulos do livro, está um ensaio que trata das afinidades e distâncias entre os pensamentos de Habermas e Foucault, dois autores sobre os quais Rouanet já publicara livros indepentes, a saber: “O homem e o discurso - a arqueologia de Michel Foucault”, sobre Foucault; e “Habermas”, sobre Habermas, este escrito com a colaboração de Bárbara Freitag, uma das maiores especialistas sobre a Escola de Frankfurt no Brasil.

Há algum tempo tentei – com bem menos competência – aproximar Habermas de Foucault. Na época, pretendia mostrar como as “interdições” do discurso, das quais Foucault fala em “A ordem do discurso”, podem ser obstáculos à realização plena da “ação comunicativa”, que pressupõem um diálogo aberto, que vise o entendimento mútuo. Além dos conceitos de interdição e de ação comunicativa, eu usava também o conceito de “campo”, de Pierre Bourdieu. Enfim, uma verdadeira salada teórica que muitas vezes se aproxima e noutras, se afasta.

Os ensaios Rouanet caíram como uma luva em meus delírios e apontaram caminhos para aproximar estes pensadores de forma mais organizada, sem os “buracos”, os “calcanhares de Aquiles” que permitiriam aos críticos acabarem comigo (nem tanto por terem razão, mas por faltar a mim condições de demonstrar meu ponto de vista).

Num dos ensaios, intitulado “Poder e Comunicação”, Rouanet dedica-se, exclusivamente, a apontar as intersecções entre os pensamentos do alemão e do francês. Um dos primeiros pontos de afinidade encontrados por Rouanet são as leituras comuns entre os dois: Hegel, Kant, Nietzsche e Weber. Outro fator eram as temáticas semelhantes trabalhadas por ambos, como fala Rouanet: “enquanto pensadores críticos, ambos denunciaram a modernidade social e, enquanto herdeiros da modernidade cultural, de algum modo se relacionaram com ela, seja para completá-la, como Habermas, seja para desmascará-la, como Foucault”. Para Rouanet, vale resumir um pouco a história, as principais intersecções entre Habermas e Foucault eram: a crítica da sociedade, a crítica do saber e a crítica do sujeito.

Na crítica da sociedade, Foucault identifica os mecanismos de poder, de repressão, de controle, de vigilância e punição que permeiam toda a sociedade: é a “microfísica do poder”. Embora admita que essa vertente de crítica da modernidade em Foucault aproxime-o mais da “velha” Escola de Frankfut (Adorno e Horkheimer), é necessário dizer – e ele diz – que Habermas não ignorou esse aspecto da modernidade. Grosso modo, a invasão do “mundo vivido” (do cotidiano) pela racionalidade técnico-instrumental é basicamente isso: controle, repressão, vigilância e – digo eu – perda de espontaneidade por parte do ser humano.

Com relação à crítica do saber, Foucault denuncia as bases “não-científicas” da ciência, demonstra como por trás de todo o discurso científico se esconde uma vontade de poder – de conquista ou manutenção do poder. Habermas, por sua vez, também percebe isso, como mostra Rouanet, “para Habermas as ciências sociais podem ter uma função objetivante quando se relacionam com o mundo social segundo o interesse técnico, do mesmo modo como as ciências empíricas se relacionam com a natureza, segundo o mesmo interesse técnico. Deformadas pelo interesse técnico, as ciências sociais podem tratar as pessoas como se fossem coisas e nesse sentido ser apropriadas por estratégias de poder”.

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O último ponto das intersecções entre os pensamentos de Habermas e Foucault, a crítica so sujeito, deixarei para abordar num próximo “post”. Essa é uma parte que merece um pouco mais de atenção e, no momento, disponho de pouco tempo para isso.

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quarta-feira, julho 14, 2004

DEBATE - Parte I



Apresentação das Armas

O Professor Javier Bustamante, da UCM (Universidade Complutense de Madrid) dará aulas na Unicamp, nos próximos quatro “meses no Instituto de Geociências (IG) dentro do programa "Cátedra Ibero-Americana/Unicamp- Universidades Espanholas", implantado pela Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) em parceria com o Banco Santander.” O professor espanhol ministrará as seguintes disciplinas: "Ciência, tecnologia e sociedade: estratégias de pesquisa", e "Integração digital e novas formas de cidadania: direitos humanos na Internet".

Sei que para quem visita o Psicotópicos – e está longe de Campinas – a informação pode parecer irrelevante. E seria, se não fosse pelo fato do Jornal da Unicamp ter publicado, além dessa informação, uma entrevista com Bustamente, na qual ele aborda, especialmente, temas relacionados a tecnologia e “sociedade da informação”.

Bom, como estou escrevendo (e você lendo) em um blogue, acredito que discutir este meio nunca é perda de tempo. Partindo desse pressuposto, gostaria de propor aqui uma discussão um pouco mais organizada sobre os temas que surgirem na entrevista de Bustamante.

A discussão aconteceria da seguinte forma. A cada semana, eu publicaria no blogue um trecho da entrevista, com o professor falando sobre um determinado assunto. A partir das declarações de Bustamante, eu disparo o primeiro comentário e vocês, os visitantes do Psicotópicos, dão continuidade à coisa, pra gente ver onde podemos chegar.

Os comentários feitos durante a semana, seriam reunidos num post só, tentando amarrar as diversas opiniões emitidas a respeito do tópico levantado por Bustamante.

Não sei se a experiência vai funcionar, pois todas as tentativas de seguir um método que tentei aqui no blogue fracassaram. (Às vezes desconfio que o ciberespaço rejeita qualquer tipo de regra -- o que não deixa de ser positivo em alguns aspectos, deve-se dizer). Espero que dessa vez de certo, até porque o método proposto não é marcado por rigidez alguma. A idéia, plagiando o Zé, o outro, é “cuspir conversa”.

É... acho que explicadas as regras do “combate”, podemos começar o primeiro “round”. Vamos à entrevista de Bustamante.

Combate
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO SOB A ÓTICA DE JAVIER BUSTAMANTE

Round 1

A urgência: “Ciência e tecnologia são elementos modernos, mas não clássicos do pensamento. São coisas que não identificam o ser humano nessa vida plena, que é, entre outras coisas, metafísica e religiosa. Às vezes, os próprios humanistas - sobretudo os filósofos -, deixam de refletir sobre as coisas que são urgentes, e nada é mais urgente hoje do que refletir sobre o papel da ciência e tecnologia em nossas vidas, e como isso muda qualquer área da atividade humana”.

O gongo
by Psico

Queria destacar aqui a necessidade, apontada por Bustamante, de se prestar mais atenção às urgências, ao que Boaventura de Souza Santos chamaria de perplexidades da contemporaneidade. Há na academia, muitas vezes, um tradicionalismo excessivo, um olhar preso demais ao passado que faz com que os intelectuais se tornem, muitas vezes, alienígenas, perdendo o laço que os une à realidade do momento. Edgar Morin e Michel Maffesoli parecer rebelar-se um pouco contra essa tendência, fixando suas análises no contemporâneo, situando-se no centro do furação e tentando apreender o que salta aos olhos para entender de que forma isso caracteriza o atual. A tecnologia é uma dessas coisas que salta aos olhos e que merece ser discutida. Por isso comentei com tanto entusiasmo, dia desses, o setor “hippie” do MinC. Não sou tecnomaníaco, nem rato de computador, mas tenho cá minhas afinidades com a turma do Pierre Levy. Acho que ninguém é obrigado a dominar as novas tecnologias (aliás, ninguém é obrigado a nada), mas seria interessante tentar fazer com que as pessoas se interessassem, ao menos, em acompanhar e discutir os rumos da evolução tecnológica. Por esse e por outros motivos, essa é uma discussão que sempre retomo por aqui. Pra mim, não basta usar o blogue, mas é preciso pensá-lo o tempo inteiro. É preciso pensar a “blogosfera”. Mas acho que já falei demais... Alguém???

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segunda-feira, julho 12, 2004

Até que ponto?

Em minhas leituras de Habermas, um dos temas que mais me fascinou foi a necessidade, apontada por ele, de “descolonizarmos” o “mundo vivido” (lebenswelt). O que o teórico alemão chama de “mundo vivido” são esferas como arte, política e ética, entre outros. Esferas genuinamente humanas, que só podem existir por meio de e em função do homem. O “mundo vivido” é o espaço do diálogo, da “conversa cuspida”, da verdade processual estabelecida no espaço público.

Para Habermas, esferas como economia e administração seriam regidas pela racionalidade técnico-instrumental, da burocracia. Impessoal, próxima às “letras mortas” do judiciário, essa racionalidade caracteriza-se pela eficiência na conquista de certos objetivos (sempre práticos ou, como o nome diz, instrumentais).

Tudo lindo, se essa racionalidade burocrática se limitasse às esferas nas quais tem utilidade. Mas isso não acontece. Habermas aponta que, aos poucos, todas as esferas da vida foram dominadas por ela. Os espaços de diálogo foram se extinguindo. O homem passou a ser cada vez mais comandado por leis, papéis e regras que, muitas vezes, perdiam a conexão com o humano e com a realidade do “mundo vivido”.

Estava lendo hoje à tarde um artigo de Muniz Sodré, no site do Observatório da Imprensa. No artigo, Sodré comenta uma decisão da justiça mineira que demonstra claramente como se dá essa colonização do “mundo vivido” pela racionalidade técnico-instrumental. A justiça puniu um pai separado por não dar “afeto e carinho” a seu filho. O fato de pagar a pensão em dia, não foi suficiente para livrar o pai da condenação.

Não entrarei -- como o articulista também não entrou -- nos (des)méritos do pai ausente. O que importa discutir aqui (ou pelo menos pensar) são os limites da justiça. Até que ponto a lei pode deliberar sobre a nossa vida, nosso dia-a-dia, nossas relações afetivas? Até que ponto nossa subjetividade pode ser violentada e nosso modo de vida avaliado/julgado por este ou por aquele magistrado? Será que somos incapazes de pensar, discutir, escolher? Será que os juízes e advogados são mais capazes de fazê-lo? Eu, na minha insignificância, acho que não...

(Para ler o artigo do Muniz Sodré, clique AQUI. Vale a pena. A questão envolve questões bem mais sutis, que não cabe discutir aqui, mas que merecem ser pensadas com cuidado).

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sexta-feira, julho 09, 2004

Nada

Ahhhhhhh!!!!!!1

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Um texto sem mais nem menos

Aceitei o convite de John para participar do Orkut, uma rede virtual de relacionamentos baseada no princípio dos 6 graus de separação. Seguindo uma linha quase maçônica, só pode fazer parte da rede quem for convidado por algum membro da rede. A princípio parece “grande coisa”, mas acredito que esta regra funciona mais como “marketing” (no sentido mais genérico da palavra) do que como tentativa de restringir a coisa. Se a idéia era manter os imbecis afastados, não vale. Todos nós conhecemos um ou dois imbecis que, por sua vez, conhecem outros tantos... e assim sucessivamente.

Mas tudo bem: a imbecilidade (como a barbárie, a estupidez, babaquice) também faz parte do gênero humano. (Por mais que séculos de pensamento iluminista tenham tentado reverter essa situação, há coisas difíceis de mudar). (É, só pra não deixar dúvidas, também eu tenho cá minhas imbecilidades, algumas já identificadas e combatidas com ferocidade, outras ocultas demais, agindo no submundo e me colocando em situações esquisitas sem que eu possa evitar ou, pelo menos, me dar conta disso, mas tudo bem: that´s the game).

Essa conversa toda sobre Orkut e imbecilidade é só pra poder comentar que ontem visitei um blogue bem interessante, de uma pessoa que encontrei numa das comunidades do Orkut. No blogue, o cara aborda o conceito de “Eumídia” que é, grosso modo, pensar o indivíduo como emissor e, muitas vezes, meio da mensagem. O “Eumídia”, de certa forma, seria uma coisa que nasceu (ou cresceu?) junto com os blogues, fotologues e outros “ogues” aos quais a Internet deu a luz.

Desde que entrei em contato com a Internet e, especialmente, com o universo dos blogues, não consigo deixar de ver na Internet um potencial libertador. Se se mantivesse anárquica, a coisa poderia tomar rumos bem interessantes (a questão é que às vezes duvido disso, pois, infelizmente, o capitalismo transforma quase tudo em merda. (Não é discurso panfletário não, viu? É que realmente penso que o capitalismo da forma como está organizado hoje não pode trazer muita coisa boa para o ser humano, à exceção de uma minoria blá blá blá... e não é preciso ser comunista-leninista-stalinista ou sei-lá-o-quê para perceber isso). (De uns temos para cá, tenho olhado com bons olhos para a anarquia, modelo que parece, a meu ver (até então, isso pode mudar), parece o mais alinhado com a autonomização da sociedade civil, por meio das ong´s e dos movimentos sociais. Acredito, com mais gente, que assuntos como responsabilidade social e terceiro setor irão ganhar mais fôlego daqui pra frente, por mais que se pense que eles padecem. Acredito que essa pode ser a fase boa, quando, depois de uma moda em que só se falava nisso, entramos num período de sedimentação das iniciativas realmente sérias).

Hoje à tarde, li uma matéria da revista Tela Viva sobre o “setor hippie” do MinC. Um departamento do ministério no qual um grupo de pessoas antenadas com o nosso tempo fica só estudando os impactos sociais e culturais das novas tecnologias. Entre as leituras dos estudiosos, Levy, De Masi, McLuhan e, pasmem, Timothy Leary – ele mesmo! –, o “papa” do LSD. Segundo a matéria, nosso Ministro da Cultura, o Gil, vê conexões entre as novas tecnologias e os movimentos de contra-cultura dos anos 60/70. Não sei até onde os “hippies” do MinC vão chegar, mas devo dizer que a matéria me encheu de esperanças. É bom saber que, num meio tão arcaico quando os modelos tradicionais de política, algumas iniciativas começam a tentar compreender a contemporaneidade de forma mais profunda, para pensar o futuro com menos discurso vazio e com uma visão mais apurada do de onde viemos e do para onde vamos.

Não sei quanto a vocês, mas a mim tranqüiliza muito saber que há mais gente no mundo interessada em tentar se afastar do caos que o cotidiano impõem para pensar as coisas de um outro ângulo.

E por falar em caos do cotidiano, o dia-a-dia, novamente, tem me passado a rasteira. Não tenho conseguido atualizar o blogue. Quanto tenho tempo, não tenho vontade. Quando tenho vontade... Essa situação é desoladora, devo admitir. É nessas horas que o conceito de “Òcio criativo” do Domenico de Masi, soa bizarra para mim. Um sonho distante, quase um delírio LSDeico.

Foi em busca de mais tempo e de uma vida mais Zen que decidi mudar o tema de meu projeto de TCC. Em vez de tentar ciscar em terreiros de galos de rinha, onde não tenho nada mais do que a curiosidade para tentar entender, decidi brincar com as minhas coisinhas: vou ficar na área de jornalismo mesmo, aproveitando os dois anos de leitura que acumulei desde o começo da faculdade. Se não é idéia brilhante, é funcional. E, pra falar a verdade, gostei muito de ler alguma coisa do pragmatismo...

Olhando para o texto acima, percebo que lá se vão uns bons parágrafos. Um texto grande que, provavelmente, não será lido, mas que pra mim tem grande utilidade. Purgar é preciso! Expulsar para a tela/blogue alguns pensamentos que têm me incomodado durante esta semana.

Sei que não é esse o melhor lugar para falar dessas coisas, mas se tem uma coisa que me deixa muito infeliz é o fato de não ter conseguido fazer iniciação científica até agora. Lá se vão dois anos de muita energia desperdiçada. A vocês isso não interessa. A quem deveria interessar, também não interessou.

Acho que o próximo passo agora é a ruptura. Partir em busca de novos universos. Estabelecer contatos com novos povos, novas civilizações. Navegar é preciso! Já dizia o atleta do iatismo. (Piadinhas, piadinhas: o diminutivo diz o que vocês são).

Mas está na hora de partir, procurar um boteco e tomar umas biritas com a galera. Como diria Renato Russo, “sempre mais do mesmo”. Mas que fazer. É a roda do infortúnio.

Para os que clicam, um abraço. Fui.

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segunda-feira, julho 05, 2004

SONO



Estou com muito sono. Não consigo escrever nada. Frases curtas. Telegráficas. Agradeço às visitas. Espero que voltem. Espero que leiam. Espero que vivam (felizes para sempre). Espero que não esperem por muito tempo para ter o que querem. Desespero. Sono. Saudades. Quero casa, quero colo, quero assistir a alguns filmes e dormir dormir, "pro dia nascer feliz", afinal, "faz parte do meu show", pois "o nosso amor a gente inventa pra se distrair", mesmo com "café sem açúcar", quero "todo o amor que houver nessa vida - e algum remédio anti-monotonia". Se não for assim, "deixa ser como será", vamos aindo, até topar com um Chorão no caminho. Um texto onírico, bizarro, recheado de referencias musicais fresquinhas. Voltando às frases curtas. Curto circuito. Sono. Sonho. Doce. Chocolate. Beijo. Ciao e a até amanhã.

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UM BOM FIM DE SEMANA

E egocentrismo me obriga a dizer: ontem foi meu aniversário. Quatro de julho, o dia da independência dos Estados Unidos da América (grande coisa!). Por aqui, faço vinte três anos e não vejo muitos sinais de independência. Mas nesse mundo, quem consegue ser independente?

Além da festa norte-americana, em 4 de julho comemora-se também o nascimento de Fernandinho Beira-mar. Bem, a julgar pelos que compartilham comigo essa data, creio que não devo ser coisa muito boa. Mas tudo bem! Bola pra frente, que o Grêmio precisa ganhar alguma nesse campeonato.

Aliás, por falar em futebol, Portugal perdeu pra Grécia. Qual será a filosofia da equipe Grega? A melhor defesa é o ataque? A Lei Gerson? A piada do português? Não sei, não sei. O Tas deve estar infeliz...

Neste final de semana, coisas boas aconteceram. Velhos sentimentos foram resgatados e o riso parece ter voltado ao nosso grupo de amigos.

Fui a Vila Velha no sábado, para o aniversário da Luziane e acabei indo ao Praia da Costa com o povo, pra assistir Cazuza – o tempo não pára. O filme não me fez colocar “o cara” num pedestal, para ser cultuado, mas me ajudou a compreender melhor sua figura e suas atitudes. Se muita coisa não é elogiável na vida de Cazuza, muita coisa também é explicável e pode ser compreendida. Mas sobre Cazuza, basta de choro.

Hoje não estou aqui para escrever textos complexos, ou pseudo-intelectuais. Estes parágrafos são apenas psicotópicos de alguém que sabe que teve um fim de semana feliz.

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