quarta-feira, julho 28, 2004

JORNALISMO ON-LINE



Estava lendo há pouco uma matéria do Observatório da Imprensa sobre jornalismo on-line e um trecho me chamou a atenção (clique
aqui para ler o texto)
. Falando sobre direitos autorais, o autor do texto escreve: “Uma reportagem virtual é submetida a um vertiginoso processo de desmembramento e recombinação a partir do momento em que é publicada”. E escreve mais, no parágrafo seguinte: “Este processo deverá se tornar ainda mais intenso na medida que aumentar o uso de narrativas não-lineares em textos jornalísticos. A não-linearidade dá a cada leitor a chance de organizar a leitura da matéria segundo seus interesses ou necessidades. Como a narrativa não-linear na web permite o uso simultâneo de várias mídias (caráter multimídia), o roteiro final seguido pelo leitor pode ser bem distante daquele originalmente concebido. Nestas condições, a autoria original perde muito da relevância e torna-se peça de um processo de criação em novos moldes”.

Impossível não lembrar de Rayuella (O jogo da amarelinha), livro do escritor argentino Júlio Cortazar. Em O Jogo da Amarelinha Cortazar inovava, compondo o livro com uma série de capítulos aos quais ele chamava “prescindíveis”. Eram capítulos que, se não fossem lidos, não comprometiam o andamento da narrativa. Contudo, deixar de ler os capítulos, era fechar-se a uma série de possibilidades que eles abriam pois tratavam-se, basicamente, de reflexões perspicazes sobre filosofia, arte e estética.

Na Internet, o hipertexto dá uma idéia dos caminhos possíveis. Para um texto que utiliza-se dos linkas para contar uma história no formato não linear, os caminhos a serem tomados são inúmeros, proporcionais, geralmente, ao interesse do leitor. E o melhor: isso tudo sem os enormes gastos que um veículo convencional, impresso, exige.

Talvez por essas e por outras características, a Internet seja hoje o espaço ideal para tudo aquilo que é alternativo transmitir sua mensagem. Talvez por isso os Fanzines percam, dia a dia, mais espaço para os blogues.

Como fala o texto do Observatório, a informação da Internet torna-se mais valiosa na medida em que circula. Isso escapa, inclusive, à lógica capitalista do consumo, da compra, da posse do objeto para deleite exclusivo. A Internet funciona mais em termos de fluxos do que em termos de apropriação.

Vale a pena dar uma conferida no texto e refletir um pouco sobre a possibilidade de se utilizar tecnologias como essa para reinventar a forma de conhecer. Para pensarmos num saber menos individualizado (aquele do pensador solitário, lendo e escrevendo em seu escritório) para algo mais intersubjetivo, mais próximo à razão comunicativa.

Não dá pra deixar de lembrar o “post” sobre o setor hippie do Ministério da Cultura e seu representante otimista, falando que, com as novas tecnologias, cria-se a partir da obra do outro o tempo inteiro. Essa é uma questão que assustaria os românticos e seus gênios, mas algo que merece ser pensado com carinho e que exige até mesmo uma auto-análise de nossa parte: o que vale mais, a glória de ter o NOSSO trabalho reconhecido (a lógica das patentes tão cara aos capitalistas norte-americanos) ou contribuir para uma obra coletiva, que resulte num bem para um número incontável de pessoas? O que é mais importante, ser Bill Gates, com mais dinheiro do que é possível gastar em 20 vidas, ou colaborar para que o Linux se torne cada vez melhor e todas as pessoas tenham o direito de usar um sistema operacional gratuito, contribuindo, de verdade assim, para a inclusão digital?

Sei que a discussão sobre tecnologia do Psicotópicos acontece em outro âmbito, mas não poderia deixar de falar nessas coisas, pegando carona – e criando em cima de – no texto de Carlos Castilho.

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Para ler mais sobre tecnologia e sobre a batalha de Bill Gates contra o software livre (Linux e afins), dêem uma olhada em outro artigo do Observatório: Questões
para "abrir a cabeça"
, de Antônio de Pádua Melo Neto.

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