DEBATE - Parte I - Resumo
Bom, tentemos sintetizar aqui as quase 4 mil palavras que renderam as discussões sobre o primeiro fragmento do texto de Bustamente, sobre tecnologia. Embora o “grande” debate não tenha acontecido, o diálogo estabelecido entre mim e o Zé foi de grande valia e chegou a terrenos que eu – confesso! – não esperava.
O ponta-pé inicial da discussão foi dado por mim. No “post”, reforcei a necessidade apontada por Bustamante de pensarmos mais sobre a tecnologia. Zé, em seu primeiro comentário, entrou de sola. “Acho que pensar os usos tecnólogicos diz muito mais da necessidade de crítica de que de adesão”, opinou. Em seguida, apontou a associação entre tecnologia e capitalismo: “Muitas vezes a gente paga para ver. Noutras a gente não tem dinheiro. Armadilhas que o capitalismo renovado dispara a partir das engenhocas que hoje nos conectam”. Se por um lado, Zé reconheceu algumas a vantagens da tecnologia dizendo “acho ótimo falar com alguém distante sobre mil e uma coisas”, por outro, atacou a falta de vida do universo virtual, dizendo “acho péssimo saber, que muitas vezes esse encontro não será com sons, cheiros, toques e o que mais seja”. Entre os petardos do Zé, sobrou até pro Levy: “Lévy prega uma adesão a um meio que ele mesmo desconhece, posto que é potencialmente um meio ininteligível”.
Após este primeiro comentário do Zé, comentei eu, tentando ater-me às críticas do comentário anterior. Sobre a ausência de sons, cheiros e toques apontada pelo Zé como um defeito das relações mediadas pela tecnologia eu disse: “Acho que realmente elas [as novas tecnologias] são incapazes de substituir a intensidade do relacionamento "carneossal", o contato direto entre dois seres humanos. Sempre defendi isso com unhas e dentes”. E completei: “Prefiro pensar nas tecnologias como possibilidade de extensão do homem, como algo capaz de acrescentar, nunca de substituir”. Em seguida, apontei uma série de usos possíveis para a tecnologia, como forma de libertação/liberação do homem, dentre eles, os softwares livres e os sistemas abertos, que abrem grandes possibilidades criativas ao usuário de tecnologia que, com eles, poderia tornar-se produtor de tecnologia. (Citei também os programas de compartilhamento de arquivos, os blogues, o Linux etc., como caminhos interessantes).
No comentário seguinte, Zé insinuou apontou o exagero de termos técnicos ou, como ele definiu, “sublinguagens da parafernália tecnológica” citados no comentário anterior, mas ateve-se a um ponto de meu último comment, a saber, aquele no qual eu digo perceber a tecnologia como possibilidade de extensão do homem, capaz de acrescentar à vida e não de substituir. A este argumento, Zé contrapôs o seguinte: “Eis um dilema terrível, pois no uso o que se acresce, muito geralmente substitui. É triste, mas é uma constatação. Por mais informado que se seja, a forma mais elevada que se presta ao homem na tecnologia é de usuários. O Virilio identifica isso. Eu tendo a concordar com ele, principalmente naquilo que ele coloca em A máquina da visão”. À frente, ele faz uma concessão: “mas usuários produzem também e isso é verdade. Nós aqui, tendo essa impagável conversa. Ótimo, muito bom mesmo. Estamos burlando, semeando, dissipando, etc, no uso”.
Na continuação do comment, Zé vem com artilharia pesada: “A questão se coloca antes. A captura é anterior ao uso. Se dá no desejo e acho que Virilio não faz essa análise. Ela se encontra nos processos de produção da subjetividade. Aí é Deleuze, Guattari (...). Uma apropriação Psi a distribuir possibilidades numeráveis de tópicos. Alguns novamente burlam e a maioria embarca e outra onda se apresenta e outra maioria embarca. Na microexistência, no microcomputador”.
(Confesso que agora, relendo o comentário acima, sinto não ter me detido por mais tempo na análise dele. Talvez tenha corrido do desconhecido (Deleuze e Gattari) e, pra não deixar a discussão esfriar, tenha deixado de pedir ao Zé maiores explicações. Captura de quem por que? Da tecnologia pelo homem ou o inverso? E o desejo em questão é no sentido de fazer o homem desejar a tecnologia para incentivar o consumo? E de quais processos de formação de subjetividade estamos falando? O que é, exatamente, essa “apropriação Psi”? E as possibilidades numeráveis de tópicos? Ficam aí as dúvidas, pra uma outra hora).
Retomei, no comentário seguinte, à questão da microexistência, aceitando-a como possibilidade, mas não como regra. Possibilidade sempre aberta a um ser humano que classifiquei (um erro, pois rotular é sempre arriscado) de “problemático, complexado, incompleto”. Citei pesquisas que apontam que a maioria das pessoas serve-se da tecnologia e não se torna refém dela. Quanto à acusação do Zé (e do Virilio) de estarmos condenados à condição de usuários, defendi-me citando exemplos que derrubam (ou abalam) essa tese (citei o Linux novamente e apontei as vantagens de se investir no ensino de tecnologia para liberar, realmente, o potencial benéfico que ela guarda). Terminei o comentário com um emocionado “Rejeitar a tecnologia, abrir mão dela, é deixá-la nas mãos dos que gostam e não tem intenções assim tão nobres”.
Depois do comentário acima, a discussão “se sofisticou”, como disse o Zé e entramos no campo do filosófico. A pendenga se deu em torno da (in)definição de ser humano usada por mim, que colocava os homens como seres incompletos. A discussão foi bela, mas saímos ou pouco do tema central do debate, que era a tecnologia. Mas foi gratificante ver o debate tomar esses rumos. Vale a pena retomar os caminhos percorridos noutra ocasião, mas não é o caso de faze-lo aqui. Este “post”, já grande demais, serve apenas para resumir o que foi falado sobre tecnologia. A discussão filosófica que surgiu daí, está nos psicomentários e pode ser acompanhada lá. (E vale a pena).
Voltando à tecnologia, Zé escreveu: “Bom a outra questão diz da tecnologia, linux e essas demais paradas. Acho fantástico a produção de linguagens coletivamente. Uma grande saída ou entrada, como queira. Mas é apenas um encaminhamento para os usuários. Há um problema que precede esse contexto, apesar de invariavelmente aparecer no mesmo. Essa coisa do desejo produzido no capitalismo, digo esse ideal de desejar.”
E continuou: “Creio que essa discussão pode ser feita dentro ou fora do ambiente de uso da tecnologia. Isso porque nela não parece haver fora. Quem não quer? É muita angustia não querer. Não sei se você percebeu, mas lá no Blog do Zé, muita gente deu uma sumida quando o assunto saia do Zé e ia para a Padaria, por exemplo. Quando se tenta quebrar o EU, a coisa complica. O blog é EU o tempo todo. Ou melhor é a manifestão de Eus desesperados para serem visualizados, consumidos, ingeridos mesmos. Pode-se até vomitar depois. Índices os pontuam, etc e coisa e tal. A competição marca também a experimentação dos blogs. E isso é minha maior preocupação.”
Reproduzi o comment na íntegra, porque na ocasião em que foi escrito, houve uma confusão. Eu e o Zé, por coincidência, respondíamos ao mesmo tempo (estávamos ambos on-line) aos comentários anteriores, o que causou certa confusão. O comentário acima só foi encontrado há pouco, quando (re)consultei os comments para escrever este resumo. Pena que não pude me deter com mais calma nessas últimas observações. Gostaria de retoma-las qualquer dia desses.
A verdade é que se esse erro de percurso não tivesse acontecido, não teríamos discutido a “incompletude” ou “completude” do ser humano... Mas isso, como disse, está nos Psicomentários...
Esta primeira discussão ficou assim, com muita coisa em aberto. O que é bom! Se alguém quiser conferir, meter a colher ou criticar, dê uma passada nos psicomentários do “post” Debate – Parte I.
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