quarta-feira, julho 14, 2004

DEBATE - Parte I



Apresentação das Armas

O Professor Javier Bustamante, da UCM (Universidade Complutense de Madrid) dará aulas na Unicamp, nos próximos quatro “meses no Instituto de Geociências (IG) dentro do programa "Cátedra Ibero-Americana/Unicamp- Universidades Espanholas", implantado pela Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) em parceria com o Banco Santander.” O professor espanhol ministrará as seguintes disciplinas: "Ciência, tecnologia e sociedade: estratégias de pesquisa", e "Integração digital e novas formas de cidadania: direitos humanos na Internet".

Sei que para quem visita o Psicotópicos – e está longe de Campinas – a informação pode parecer irrelevante. E seria, se não fosse pelo fato do Jornal da Unicamp ter publicado, além dessa informação, uma entrevista com Bustamente, na qual ele aborda, especialmente, temas relacionados a tecnologia e “sociedade da informação”.

Bom, como estou escrevendo (e você lendo) em um blogue, acredito que discutir este meio nunca é perda de tempo. Partindo desse pressuposto, gostaria de propor aqui uma discussão um pouco mais organizada sobre os temas que surgirem na entrevista de Bustamante.

A discussão aconteceria da seguinte forma. A cada semana, eu publicaria no blogue um trecho da entrevista, com o professor falando sobre um determinado assunto. A partir das declarações de Bustamante, eu disparo o primeiro comentário e vocês, os visitantes do Psicotópicos, dão continuidade à coisa, pra gente ver onde podemos chegar.

Os comentários feitos durante a semana, seriam reunidos num post só, tentando amarrar as diversas opiniões emitidas a respeito do tópico levantado por Bustamante.

Não sei se a experiência vai funcionar, pois todas as tentativas de seguir um método que tentei aqui no blogue fracassaram. (Às vezes desconfio que o ciberespaço rejeita qualquer tipo de regra -- o que não deixa de ser positivo em alguns aspectos, deve-se dizer). Espero que dessa vez de certo, até porque o método proposto não é marcado por rigidez alguma. A idéia, plagiando o Zé, o outro, é “cuspir conversa”.

É... acho que explicadas as regras do “combate”, podemos começar o primeiro “round”. Vamos à entrevista de Bustamante.

Combate
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO SOB A ÓTICA DE JAVIER BUSTAMANTE

Round 1

A urgência: “Ciência e tecnologia são elementos modernos, mas não clássicos do pensamento. São coisas que não identificam o ser humano nessa vida plena, que é, entre outras coisas, metafísica e religiosa. Às vezes, os próprios humanistas - sobretudo os filósofos -, deixam de refletir sobre as coisas que são urgentes, e nada é mais urgente hoje do que refletir sobre o papel da ciência e tecnologia em nossas vidas, e como isso muda qualquer área da atividade humana”.

O gongo
by Psico

Queria destacar aqui a necessidade, apontada por Bustamante, de se prestar mais atenção às urgências, ao que Boaventura de Souza Santos chamaria de perplexidades da contemporaneidade. Há na academia, muitas vezes, um tradicionalismo excessivo, um olhar preso demais ao passado que faz com que os intelectuais se tornem, muitas vezes, alienígenas, perdendo o laço que os une à realidade do momento. Edgar Morin e Michel Maffesoli parecer rebelar-se um pouco contra essa tendência, fixando suas análises no contemporâneo, situando-se no centro do furação e tentando apreender o que salta aos olhos para entender de que forma isso caracteriza o atual. A tecnologia é uma dessas coisas que salta aos olhos e que merece ser discutida. Por isso comentei com tanto entusiasmo, dia desses, o setor “hippie” do MinC. Não sou tecnomaníaco, nem rato de computador, mas tenho cá minhas afinidades com a turma do Pierre Levy. Acho que ninguém é obrigado a dominar as novas tecnologias (aliás, ninguém é obrigado a nada), mas seria interessante tentar fazer com que as pessoas se interessassem, ao menos, em acompanhar e discutir os rumos da evolução tecnológica. Por esse e por outros motivos, essa é uma discussão que sempre retomo por aqui. Pra mim, não basta usar o blogue, mas é preciso pensá-lo o tempo inteiro. É preciso pensar a “blogosfera”. Mas acho que já falei demais... Alguém???

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