sexta-feira, junho 25, 2004

O 13º APÓSTOLO



Jabor é nosso profeta, quem tem olhos de ler, sabe disso. Já sem câmera na mão, mas com muitas idéias na cabeça, ele é nosso 13º Apóstolo e parece disposto a reescrever nosso o apocalipse. Ao contrário de João (o da bíblia), Jabor não segue nem Jesus (nem Deus, nem Marx) e suas previsões não são de um visionário, mas de alguém que sabe VER o mundo (resquícios, talvez, de um passado como cineasta).

Os sinais estão aí, mas nem todos conseguem decifrá-los. Jabor consegue e segue gritando para uma multidão surda, que abafa. A avalanche de blá-bla-blás soterra os textos do profeta

O mundo novo de Jabor, ao contrário do de Huxley, não tem nada de admirável, mas, pelo contrário: tem muito de desprezível. É o futuro do irracionalismo, das “Invasões Bárbaras”, dos fanatismos e da glorificação dos nadas tecno-não-lógicos. Quem observar, verá. A modernidade ruiu. O iluminismo foi pego de surpresa pelo apagão. A democracia - Millôr estava certo - é o sistema de governo do inferno: só funcionou nos estreitos – e excludentes – limites da Polis grega. O Estado-Nação foi um sonho, uma brincadeira de intelectuais que foi levada a sério. O ser humano é um animal de duas patas. Diálogo é passatempo. Compreensão e liberdade são meras utopias. O “Mal estar na civilização” é uma realidade. O real é excessivamente real para ser suportado. É mais cômodo aceitar o simulacro. No fundo, é só o que resta a fazer.

Agradeçamos a “O Globo”, que deixa o Jabor falar, mesmo sabendo que isso só acontece porque, no fundo, é sabido que ele fala para ninguém, que não é levado a sério. Jabor tem o discurso do louco, ao qual se pode fechar os ouvidos e anular quando começa a tornar-se incômodo. Ele expõem nossas feridas e nossa podridão. O texto de Jabor é a escatologia (em sua relação com as doutrinas apocalípticas) estetizada. Cada linha de seus textos dariam uma dissertação de mestrado. Mas isso seria também seria inútil. Então, melhor dizer assim, de qualquer jeito, prezando apenas pela forma, teimando em sustentar um estilo. Talvez seja esta também uma forma de resistir.

Escutem/leiam o Jabor. Tentem ver um pouco do que ele vê. É uma maneira de se olhar no espelho.

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