POETAS E BURGUESES
Ontem estava discutindo com uma amiga a seguinte frase de Cazuza (é, ta certo, Cazuza anda em alta por aqui e por outros cantos, mas vá lá): “Enquanto houver burguesia, não vai haver poesia”. A frase soa estranha quando lembramos que a poesia de Cazuza veio, em boa parte, das experiências suscitadas pela burguesia da qual ele – por mais que rejeitasse – saíra.
Fiquei matutando sobre isso o resto da tarde e fui longe. Lembrei dos primeiros burgueses, que compravam as obras dos pintores renascentistas. Lembrei de grandes nomes da poesia como Baudelaire, Fernando Pessoa, Blake e esse povo, que viveram no auge da sociedade burguesa, mesmo quando marginalizados por ela. Acho que não dá pra negar que tanto do seio da burguesia quanto do seu oposto – seus críticos – surgiram grandes poetas. Saindo deste campo, chegamos a nomes como Flaubert e Balzac, que construíram suas obras com base na crítica à sociedade burguesa.
Acho que a burguesia pode até feder (apesar dos perfumes franceses), mas dizer que ela é incompatível com a poesia, acho exagero. Talvez excesso de liberdade poético-panfletária – e paradoxal – da parte da Cazuza.
Mas só gente chata – ou em momentos de chatice – pára para cobrar coerência de Cazuza. Esses paradoxos ajudam a construir a figura que ele foi e não devem ser levados muito a sério. Ajudam a recolocar os mitos em seus devidos lugares: o de seres humanos, perfeitamente imperfeitos, complexos e inexplicáveis.
A vida não deve ser posta em altares, para ser venerada. Veneremos o ato de viver enquanto dinamismo. A vida não é estática, não cabe em esquemas. Os pedestais exigem estátuas e, se há uma coisa que Cazuza não foi, esta coisa é uma estátua.
Obserrvação para os mais próximos
E chega de Cazuza por uns tempos. Carissa e Layla: vamos pegar The Doors pra assistir, vamos falar de Led Zeppelin, Ramones, Beatles, Janis Joplin, Jimi Hendrix... vamos falar de outra coisa: já tem gente demais falando do Cazuza... e é isso...
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