FOLHAS CAEM
As demissões na Folha de São Paulo mereceram destaque especial no site do Observatório da Imprensa, esta semana. Para quem acompanha o universo do jornalismo diário brasileiro (e nem precisa ser tão de perto), não é novidade dizer que a Folha pretende ser (ou pelo menos pretende parecer ser) o jornal mais sério, respeitado e que trata os temas com maior profundidade no Brasil. Essa veia analítica do jornal, que o aproxima um pouco do modo francês de fazer jornalismo (pensemos no Le Monde) sempre foi suficiente para transformar em verdade absoluta o que saia na Folha . O jornal era (e ainda é) leitura obrigatória para os “formadores de opinião” no Brasil.
Caracterizado por seu publisher, o liberal Otavio Frias, como uma empresa acima de tudo, o jornal nunca conseguiu esconder a quem mantivesse os olhos um pouco abertos que o anunciado jornalismo sério da Folha tinha muito de estratégia de marketing. Assegurar um status de imparcialidade (por mais frágil que seja este argumento) era (e é) bom para os negócios da Folha . Como acusa Juremir Machado da Silva em seu livro A miséria do jornalismo brasileiro, a cientificidade do Caderno Mais!, por exemplo, só existe porque existem intelectuais, de direita e de esquerda, que vão às bancas no domingo, pra acompanhar a nata da intelectualidade brasileira, que desfila no Mais! – e ajudar a Folha a vender 1 milhão de exemplares de sua edição dominical.
Não podemos, contudo, demonizar a Folha por ser uma empresa: ela simplesmente atua com a lógica do capitalismo e, enquanto não se fizer nada melhor, ela continuará sendo o jornal menos pior do Brasil. Respeitando sua própria lógica, a do mercado, ela acaba sendo interessante, na medida em que atende razoavelmente à fatia de mercado que escolheu. Desde que se acompanhe o jornal com os olhos bem abertos, é possível transforma-lo numa ótima fonte de pesquisa e conhecimento.
A questão principal aqui passa pela fragilidade de uma empresa que trabalha com conhecimento, com formação de subjetividades, e continua refém de fatores externos. A independência da Folha é garantida pelo mercado. E não precisamos recorrer a longos discursos pra dizer que se nossa independência depende de algo além de nós mesmos, ela é um simulacro de independência, uma pseudo-independência.
É esta pseudo-independência que começa a cair por terra com a crise financeira com a qual se depara a Folha . Forçada a demitir pessoal para cortar gastos (e pagar suas dívidas), a Folha corre sério risco de perder qualidade e, com isso, ver ameaçada sua posição de modelo de jornalismo sério no Brasil.
Casos como este da Folha fazem pensar. Será que vale a confiar a um jornalismo tão frágil a responsabilidade social que se espera da imprensa? Será que não está na hora de revermos nossos modelos, de repensarmos o jornalismo a partir de suas bases? São questões que ficam no ar...
***
Os textos do Observatório que abordam a questão Folha de São Paulo são: O BOCEJO DO JORNALISMO, de Cláudio Júlio Tognolli e A LONGA TRAVESSIA, de Marcelo Beraba, o Ombudsman da Folha .
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home