sexta-feira, janeiro 30, 2004

Recortes Psíquicos
Projetos sociais são alternativas mais baratas
Folha de S. Paulo (Folha OnLine)
22/01/2004 - 08h09


Professores especializados, turmas pequenas, plantão de dúvidas. Tudo isso custa caro. Mas quem não tem como pagar um cursinho comercial pode encontrar nos alternativos e nos projetos sociais uma opção viável.

É o caso de Evandro Queiroz Cordeiro, 17, que está no terceiro ano do ensino médio e quer fazer cursinho simultaneamente. Aluno de uma escola particular em Mauá (Grande SP), ele pretende conseguir uma vaga em educação física na USP e está matriculado no Cursinho Popular Henfil, uma organização não-governamental com sede em Mauá e em Diadema. A ONG contrata professores de cursinhos comerciais e tem a mesma estrutura e material didático.

"Apesar de ter gostado muito dos professores e do material, como eu já pago a escola, o preço menor foi decisivo", afirma.

Além do preço mais baixo, os chamados cursinhos alternativos têm outro diferencial em relação aos outros: trabalham com o conceito de cooperação e esperam ter, além do sucesso no vestibular, influência na formação pessoal do aluno.

É o caso do Educafro, que funciona em 126 núcleos no Estado de São Paulo e realiza um "vestibular de cidadania", e do Cursinho dos Universitários, que foi criado por estudantes de 14 entidades de ensino superior, com o apoio de uma ONG.

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Recortes Psíquicos
Maioria dos formandos reclama dos cursos de graduação
Folha On Line
13/01/2004 - 14h56


A maioria dos estudantes que fez o Exame Nacional de Cursos, o Provão, em 2003 não gostou do resultado da graduação. Para 56% dos alunos, eles deveriam ter sido mais exigidos pelas instituições. Outros 38% consideraram que a dificuldade foi na medida certa, enquanto 6% queriam menos exigência.

O levantamento foi feito a partir do questionário socioeconômico do Provão, respondido por 390 mil formandos e divulgado hoje (13/1) pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), órgão do Ministério da Educação. Participaram da avaliação 26 áreas de graduação.

O curso que teve o maior índice de queixa foi jornalismo: 73% dos alunos queriam ter sido mais exigidos; o menor nesse tópico foi engenharia mecânica, com 37,5%.

Apenas uma área teve maioria na opção "medida certa": fonoaudiologia, com 50,7%.

"Essa é uma pesquisa de percepção. Não necessariamente todos esses alunos não estão bem preparados", comentou o diretor do Inep, José Marcelino de Rezende Pinto.

"O estudante, no momento da avaliação, está saindo da nobre área dos graduandos e pode vir a ser mais um desempregado", apontou o diretor.

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Frases Psíquicas

"Temos que construir uma universidade não apenas que ensine, mas que mude a realidade"
Ex-ministro Cristovam Buarque, em discurso na posse do novo reitor da Ufes,Sérgio Rasseli, no dia 12 de janeiro de 2003)

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Psico Tópicos
Reforma Universitária


Que o Brasil precisa de uma reforma universitária, acho que ninguém duvida. Que a universidade, no país, tem cada vez menos força, autonomia e, ao mesmo tempo, continua extremamente elitista, acho que grande parte da sociedade também está de acordo.

Um grupo coordenado pela filósofa Marilena Chaui vai entregar ao governo em fevereiro (logo, logo) uma proposta de reforma universitária. Segundo matéria da Folha (on line), a proposta defende uma maior autonomia para as universidades como saída para superar a crise enfrentada pelo ensino superior do país. Entre as medidas propostas para aumentar a autonomia está no repasse dos fundos para pesquisa (Capes, CNPq, etc.) para serem administrados pelas universidades, bem como a redução dos poderes do MEC na definição das Grades Curriculares dos Cursos

Talvez a proposta do grupo ajudasse a diminuir a burocracia que impede a realização de muitas pesquisas no país. Mas eu disse talvez porque há outros olhares possíveis para essa questão. É algo que vale a pena discutir (ou pelo menos acompanhar de perto o que os outros estão discutindo).

A matéria da folha está disponível na versão on line do jornal (clique aqui).
(Se alguém não conseguir acessar por meio do link, deixe o e-mail no comments que eu envio o texto).

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Recortes Psíquicos
Assimetrias

cerca de 46% dos recursos do governo para o ensino superior beneficiam "apenas indivíduos que se encontram entre os 10% mais ricos da população".

[Folha de São Paulo, citando documento do Governo Federal sobre a Educação no Brasil]

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Psicoses
Calma, calma

"De onde vem a calma daquele cara?"
(Los Hermanos)


De onde? De onde vem, para onde vai?
Será que dá pra apreendê-la usando a filosofia,
a amizade, o saber?

E o ser da calma, o que é?
E o que não?
E no meio dela, o que há?
Um vão, uma vida (ou sua negação),
uma pedra?

Ou há uma regra,
um método,
uma dura lex,
um tiranossauro de dentes cariados,
irritado e com artrite
(ou artrose, que é de bom tom)?

***

A calma é pura docilidade,
dizem os alfarrábios:
por isso é atropelada -
pára, desatenta, no meio da estrada,
para observar a paisagem e,
vez ou outra,
perde-se a si mesma
(por conta própria),
num mundo-todo-seu de imagens e
res-presentation.

De onde? De onde vem? Para onde cai?

(Não, não, não!...
Vaiprodiabo!
Cansei!
Hei de vencer na marra,
desamarrado e armado
até aos pentes).

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quinta-feira, janeiro 29, 2004

Frases Psíquicas
O visível - para ressemantizar

"É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê"
(Los Hermanos)

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Psico Tópicos
Repórter por um dia

Não quero fazer injustiça, nem ser acusado de preconceituoso, por isso, antes ler este texto, responda uma pergunta: a Feiticeira Joana Prado, por acaso, estudou jornalismo? Se a resposta for afirmativa, por favor, desconsidere as linhas abaixo. Mas se não for, vá em frente e, como no Telecurso 2000, ´´vamos pensar um pouco´´.

Hoje pela manhã, quando almoçava (almoçamos cedo lá em casa) a TV estava ligada na Record. O programa que passava era Note e Anote. Num determinado ponto do programa, entrou uma matéria sobre reciclagem de lixo, que é sempre um tema interessante. Mas dessa vez o assunto não me interessou, mas sim a repórter, nada mais, nada menos do que a Feiticeira (vulgo Joana Prado)!

Agora eu pergunto, meus caros: por que - diabos! - a Joana Prado anda fazendo reportagem? Aliás, por que pessoas que não sabem nem o que é um lide fazem reportagens televisivas (independente ou não do diploma)?

Como ninguém responde, respondo eu: porque na televisão, um rosto (ou outras partes do corpo) bastam para tornar uma pessoa interessante, para habilitá-la a fazer reportagens, a entrevistar, a dar informações às pessoas! Na TV, o que importa, cada vez mais, é o visual. O conteúdo (já existiu - e existe - conteúdo em algumas ilhotas televisivas, não sejamos tão cruéis) se torna algo cada vez mais dispensável, algo que pode ser trabalhado nos bastidores. Importante, é o produtor saber. O repórter, é só a embalagem! E, sendo assim, é bom que a embalagem seja ´´boa´´.

Mas, paremos por um momento de queimar a Feiticeira (afinal, quem garante que ela não é jornalista? Afinal, a Tiazinha estudava Comunicação, e as duas são crias do terrível Huck). Citemos mais exemplos.

Lembram do Adriano, ex Big Brother? Se não me engano, ele era artista plástico, não? Pois é, a mesma Bandeirantes, o mesmo Note e Anote colocou o Didi (apelido carinhoso de Adriano) para fazer reportagens.

Lembram da Pipa, ex No Limite? Ela já fez matérias (???) para a Globo. Assim como a Tina e quase todos os ´´anônimos´´ promovidos pelos reality shows globais.

Fico me perguntando se aquele quadro Repórter por um dia, que passava (ou passa?) no Fantástico veio depois dessa onda de colocar leigos famosos para fazer jornalismo (???) ou se o quadro foi a legitimação - a abertura da porteira - que todos esperavam para começar o espetáculo e tornar o diploma (e, mais do que isso, o saber-fazer jornalístico) cada vez mais dispensável.

Parece corporativismo, mas não se trata disso. Querendo ou não, o jornalismo ainda tem uma função social, por mais desacreditada que ela esteja. Mesmo as grandes redes devem satisfação ao espectador e, embora muitos não saibam, ninguém é dono de uma TV (pelo menos pela lei - que no Brasil, no fundo, não diz muita coisa). Televisão é concessão do Estado, assim como as faculdades; é um bem público. Precisa ser não apenas vista, mas vigiada observada.

Assim como o jornalista precisa ser observado. Mas como cobrar ética profissional de alguém que exerce (???) a profissão porque tem um corpo bonito, ou porque emplacou duas ou três música nas paradas de sucesso? (Vale a pena visitar o Site do Observatório da Imprensa, pra ver que há gente se preocupando com isso).

Não quero dizer aqui que a televisão deveria ser constituída apenas por jornalistas, mas que há espaços onde esse profissional não pode ser substituído, como se troca um item que atrapalha a composição do cenário. Feiticeiras, Tiazinhas, Big Brothers têm seu lugar - afinal, a TV aceita quase tudo. Mas uma coisa é certa: o lugar desse povo todo não é fazendo matérias ou reportagens, por mais ´´lights´´ que elas sejam. É uma comparação simplista, mas serve neste caso: se todo mundo acha estranho um advogado fazer cirurgias, porque aceitam que artistas plásticos, dançarinas ou sei lá o que façam matérias jornalísticas?

A agora, o discurso panfletário: Jornalistas do mundo, uni-vos! Ocupem seus lugares! Lutem por seus direitos (e cumpram seus deveres).

E quanto ao público, que prestem mais atenção no tipo de informações que lhe estão enfiando goela abaixo. Será que dá, realmente, para pensar o mundo a partir das matérias da Feiticeira? Espero, sinceramente, ser convencido de que isso é possível. Mas no momento, duvido muito.

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Psicoses
Cobertores

A relação descompromissada
do escritor
com um texto sem leitores:
sono livre e protegido de quem,
no frio,
tapa a cabeça com a coberta -
e encobre o sol com peneira.

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Psicoses
rupturas

há linhas que se rompem
abruptamente
antes de chegar a um ponto.

final precipitado,
mudança de rumo:
descurso.

esse viver perigoso,
esses pactos mal feitos,
esses rastros,

e esses pastos
verde esperança
que a gente rumina

para engordar,
para tornar-se apetitoso
antes de ser engolido

(o problema é digerir
e dirigir
sem saber pra onde

ir e vir
hipnótico
notas?

e referências
(des) encontradas
no tempo

e no senhor
do vento
minuano-frio-frio).

rio
mas não sei de que
(de lagrimas, talvez).

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quarta-feira, janeiro 28, 2004

Psico Tópicos
Cidade de Deus

Cidade de Deus foi (re)descoberto pelos norte-americanos (com uma ajudinha da Miramax, que investiu pesado e alavancou o relançamento do filme, que no ano passado não conseguiu concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro).

Fernando Meirelles está de parabéns pela indicação à estatueta de melhor diretor. É um avanço. Junto com Fernanda Montenegro (e as outras três indicações de Cidade de Deus), conseguiu romper as barreiras do filme estrangeiro. Somos menos outsiders agora.

Loas pra lá, loas pra cá, viva viva Cidade de Deus. Em meio a tanta comemoração, uma pergunta fica noir, obscurecida em meio à festa: o que significa, de verdade, o Oscar?

Uma coisa é certa: não é o Oscar que premia os filmes de arte. Essa é uma consagração que tem um lugar específico no universo cinematográfico, mas não é nenhum ´´selo de qualidade´´. Geralmente, os filmes premiados em Cannes ou em Berlin são melhores que os premiados pela Academia.

Mas outro ponto importante é que Cidade de Deus não se propõe a ser um filme de arte, mas um bom (com toda a subjetividade que caracteriza o termo) filme (bem dirigido, bem montado, bem editado, etc.) e com conteúdo. A proposta, deve-se dizer, encaixa-se perfeitamente com o padrão cinematográfico da Academia.

***

Eu, particularmente, gostei muito do filme. Não sou do tipo que faz recortes tão contundentes para separar cinema de arte e cinema comercial. Cidade de Deus é um filme agradável. As interpretações são excelentes (assim como as da série Cidade dos Homens, que, se não for herético dizer, é uma espécie de obra complementar ao filme de Meirelles). A narrativa tem um dinamismo interessante. O conteúdo crítico perdura, apesar da estetização da violência (muito menor que em Tarantino, por exemplo). Enfim, gostei do filme.

***

Pegando carona - nada mais justo! - nas indicações tardias, Cidade de Deus será relançado nas salas brasileiras. Mais um empurrão para aquele que já é o maior sucesso de bilheteria da história do cinema tupiniquim.

Se por um lado fico triste por ainda ficarmos tão eufóricos com as migalhas de reconhecimento ´´ianque´´, por outro, fico feliz porque o cinema brasileiro, de maneira geral, sempre colhe os louros de um sucesso internacional como esse. (De certa forma, embora muitos discordem, até o sucesso (???) do Santoro acaba ajudando).

Parabéns a Cidade de Deus!

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Psico Tópicos
Guarapari, turismo e construção
Reflexos de Guarapari - Parte I


Se há uma coisa que caracteriza Guarapari, é a falta de uma característica. Bom, esse é o ´´ lugar comum´´ básico pra quem não consegue definir alguma coisa direito. Foucault, em As palavras e as coisas, ao analisar o Dom Quixote, de Cervantes, mostra como a falta de pensamento analítico - a busca incessante da semelhança - acaba (ou acabava, naquele caso) sendo um identificador da loucura. Se Foucault estiver certo, acredito que preciso providenciar algumas coisas antes de minha internação.

Mas vamos lá: na realidade (não sei ao certo qual), o topoi da multiplicidade como característica de uma coisa da qual as especificidades não são tão claramente delimitadas, é um dos mais antigos. Há anos, articulistas de jornais (nós, os jornalistas, amamos a superficialidade) utilizam esse argumento para definir o Brasil. (Usam também a descendência lusitana, a miscigenação, o carnaval, o futebol e a afirmação (?) ufanista famosa: ´´O Brasil é o país do futuro´´).

Teoricamente, aproximar-se do que seria a identidade - sem esquecer de seu caráter dinâmico, mutante - de Guarapari seria tarefa mais fácil do fazê-lo com o Brasil. Contudo, o procedimento, deveria ser semelhante. É preciso aproximar-se de forma lenta, gradual, separando, parcimoniosamente, as parecidíssimas camadas.

Como o Brasil, Guarapari também foi, de certa forma, colonizado. Nordestinos - baianos - atraídos pela explosão da Construção Civil, mineiros, sedentos de praia, cariocas e paulistas (em menor número), em busca de paz... e pessoas de todos os cantos do país, que talvez tenham vindo em busca da saúde que a cidade prometia.

Criou-se aqui um mosaico. Como a industria cultural, segundo alguns teóricos da comunicação, fez um estrago na América Latina, por ter-se infiltrado com todo seu poder num lugar onde a identidade era um rascunho ainda, uma cultura em formação, a imigração tornou Guarapari uma cidade sem rosto. Noções como a de cidadania, cultura e tradição foram se perdendo, mais ou menos como no resto do Brasil.

Nunca é demais lembrar a semana de arte moderna e o Manifesto Antropofágico, de Oswald Andrade. Nesses sete anos que moro aqui, a impressão que tenho é que, para descobrir-se, Guarapari precisa ser antropofágica mesmo, como os modernistas.

Contudo, para que isso aconteça, acredito ser preciso, antes de qualquer coisa, acabar com essa apatia que toma conta da cidade, ou, pra usar um termo mais comum aos guaraparienses, do município.

***

Há uma espécie de lenda que ouço há anos. Diz essa lenda que quem mora à beira da praia não gosta de trabalhar. Embora saiba que esse barulho de onda quebrando, esse sol, esse calor, essas águas, tudo isso dá na gente uma vontade de ´´deixar rolar´´, de levar a vida devagar, pra não faltar amor; embora saiba disso, sei que há, como em toda lenda, uma boa dose de exagero - e de preconceito - nessa ´´crença´´. Não acredito que haja uma incompatibilidade entre o viver a vida e agir para tornar esse viver ainda melhor.

A arte e a cultura são duas coisas que ajudam a tornar o levar a vida mais rico - no sentido menos capitalista do termo. Pensar formas de tornar Guarapari uma cidade mais aprazível nesse sentido - com maior oferta cultural, para seu povo, em primeiro lugar, e, de quebra, para o turista - seria um dos caminhos - talvez o mais agradável - para tornar Guarapari uma espécie de referência para outras cidades litorâneas do país.

O turismo, como acontece hoje na cidade, tem um caráter extremamente predatório e as ruínas deixadas pelo turista a cada ano deixam a cidade cada vez menos interessante e cada vez mais incapaz de atrair turistas. Como uma nuvem de gafanhotos (cada vez menor, é verdade) - perdoem a dura analogia -, o turista que vem hoje a Guarapari apenas como forma de extravasar, consumindo - a palavra é essa mesma - o que a cidade tem - e o que não tem - para ser extraído, é um turista que não deveria interessar mais aos guaraparienses.

É preciso pensar em formas de atrair para a cidade turistas que a fluam, vivam com ela por um período, e saiam daqui deixando-a, se não intacta, pelo menos não em ruínas.

Essa Guarapari sem rosto que oferecemos ao turista é mais ou menos como o paraíso encontrado pelos portugueses, mais ou menos como Arthur Miler definiu o Hotel Chelsea, uma "casa da tolerância infinita", um lugar onde se pode fazer tudo, usar tudo, sem repor (o dinheiro que fica na cidade é insignificante em relação ao desgaste gera esse tipo de turista).

O leitor já deve ter visto num ou noutro Filme B, um assassino - um matador de aluguel ou figura afim - dizer que não se deve olhar no olho da vítima, para não sentir pena. Quando Guarapari tiver um rosto, poderá encarar seu algoz de frente, mas não para fazê-lo sentir pena e sim respeito.

(Não quero aqui demonizar o turista, muito pelo contrário. A troca cultural que o turista possibilita, é extremante enriquecedora, mas tudo depende de como se dá a relação entre o turista e o nativo (ou o morador da cidade turística). No caso de Guarapari, a troca não tem acontecido. É isso que precisamos corrigir. E o fato dessa troca não acontecer hoje, está em grande parte relacionada ao fato de Guarapari não ter o que oferecer (ou não saber como oferecer)).

***

Mas esqueçamos o turismo, por hora, e voltemos à discussão acerca da cultura guarapariense. Que cultura é essa? O que representa Guarapari? A realidade praiana? A Música? A vida noturna? O artesato? O que, afinal de contas, é referência na cidade?

Eu, sinceramente, ainda não sei responder.

Assim como os prédios que lançam sombra nas praias da cidade, acredito que as referências de Guarapari precisam ser construídas. E talvez os turistas que ajudaram a erguer (ou povoar) os prédios do município, sejam úteis também na construção desse referencial.

Às perguntas que surgiram neste texto, não apresentarei respostas. Deixo a questão em aberto. Que este texto seja um dos muitos pontos de partida possíveis para uma discussão que vise (re)pensar esta cidade.


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terça-feira, janeiro 27, 2004

Frases Psíquicas
Detalhes

''o amor é um milhão de pequenas coisas (...), uma flor murcha, um marcador amarelo de textos, um disquete de computador, uma chave de fenda, um quadro de avisos onde se espeta um bilhete, um peso de papel azul que reproduz o globo terrestre, uma cama desfeita ao meio-dia e um copo d'água pela metade, folhas secas que o vento varreu para dentro de casa, um vulto sombrio nos olhos por causa de uma discussão com alguém, a pequena escultura mexicana de um pássaro, guardanapos de papel sobre a mesa-de-cabeceira, alguém que martela um prego em outro apartamento, uma lista telefônica aberta, mais nada''.
(Adriana Lisboa)

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Um Diálogo

UM BICHO
Muito ousadia sua o post abaixo!

UM CARA
Deixa o cara, maluco!

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Psicoses
Lua Nova

Pô, é dia D
poesia,
de lua nova
e dos ovos de Clarisse.

Dia D
mergulhar nas palavras,
de orgulhar-se da incompetência des-
atenta que semeia ventos, mas não colhe:
encolhe.

O (des)ato de dobrar-se sobre si mesmo,
espiralar-se,
cair no laisses faire da livre associação -
e no abuso da deZassociação
imperativa.

Sigamos a ordem do discurso alheio
e boiemos de formas walternativas,
deixando ser a descontínua idade da incon-
seqüência

(Idade insegura: abusa dos sufixos que
(se) ressentem (d)o sentido,
que e é atributo
heraclitico
das palarvas).

Deixemos fluir a ex piração
que inspira e pira conosco
(compilação,
conspiração,
complicação:
ressignificação).

O texto,

solto,

é assim assim aos
pe-

da-

ços:

ressalta os pontos
significantes e esconde as vírgulas
relutantes.

(Transgressões comportadas:
não vão muito além do vão,
não vão muito além do Zen.

Desfaz C
e dá lugar a
tal x:
revezes descacterizantes).

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Aqueles Bichos e Aqueles Caras - Episódio I


Preciso apresentar-lhes umas pessoas. Na verdade, preciso apresentar-lhes dois grupos: o grupo dAqueles bichos e o grupo dAqueles caras. Eles são, respectivamente, nomes carinhosos que dei à parte racionalizada de meu Superego e meu Id. Aqueles Bichos são os responsáveis pela crítica autodestrutiva. São eles quem me chamam a atenção quando meu texto está uma porcaria. São eles que me impedem de escrever mais ou de tentar certas coisas em minha vida. São, mais ou menos, como o Lobo da Estepe, do Hesse. Meu lado niilista, desiludido com a existência. Aqueles Caras são meu Id. Representam minhas (im)pulsões. São eles que me permitem mandar Aqueles Bichos pro inferno e escrever coisas sem qualidade, fazer coisas das quais me arrependo - ou que geram conseqüências que me tomam muito tempo até serem solucionadas. Aqueles Caras são quase alcoólatras, me fazem encher a cara de vez em quando ou me apaixonar loucamente num fim de semana - a função deles em mim é, basicamente, embriagar-me, muitas vezes de felicidade.

Não preciso dizer que disso tudo eu, o Psico, sou o mediador. Freudianamente falando, sou o Ego que procura manter o equilíbrio entre esses pólos opostos.

Daqui para frente, no Psicoblog, vocês poderão acompanhar alguns diálogos (ou deveria chamá-los triálogos?) entre o Aqueles Caras, Aqueles Bichos e eu, na versão Psico. Não se trata de esquizofrenia declarada - não há nenhum Tyler (ver Fight Club) por aqui -, mas de uma coisa mais suave. Mais menorpoético/literária. Mais ou menos...

Antes que alguém me acuse de parcialidade, aviso logo que nem passa pela minha cabeça tentar enganá-los com essa falácia: sou declaradamente fã dAqueles Caras. Na verdade, os últimos anos foram uma tentativa de dar Àqueles Caras mais espaço no trabalho de constituição do Psico, lógico.

UM BICHO
Você vai tentar mesmo convencer seus improváveis leitores de que você criou esse texto aí espontaneamente?

O que você quer dizer com isso? Aliás, porque você está me interrompendo?

UM BICHO
É a minha função (e dos outros bichos) te criticar. Acabaste de escrever isso aí em cima.

Hum

UM BICHO
Mas não tente fugir do assunto, não, meu caro! Vou reformular a pergunta: você quer mesmo convencer as pessoas, com esse textinho aí, de que você simplesmente sentou e essa idéia de escrever sobre nós e sobre Aqueles Caras surgiu agora?

Não, bicho. Acontece que escrita é algo linear, esqueceu. Eu trabalho com a linha do tempo, as palavras precisam vir uma após a outra...

UM BICHO
Chega, chega! Poupe-me das tuas demonstrações narcisísticas de falsa erudição: eu sei que você anda lendo Foucault (com muita dificuldade, vale dizer)...

O que eu não escondo...

UM BICHO
... mas não estou interessado nisso. O fato é que você já nos usou em outra ocasião e está omitindo esse detalhe de seus leitores. Você já tentou escrever um blog usando essa idéia, lembra?

Eu sei, bicho, eu sei, mas é...

UM BICHO
Pois então, pois então. E pra variar você não deu continuidade à idéia, né? Enrolou-se todo com questões aleatóreas, não conseguiu situar-se, manter um foco. Admita que você é um fracassado! Admita! Conte a eles a sua experiência anterior.

...

UM CARA
Relaxa, Psico. Esse Bicho se acha o tal. Ele não entende que a idéia do blog é privilegiar o processo, que é uma espécie de rascunho virtual (às vezes desconfio que nem ler ele sabe), que a idéia é utilizar isso como um laboratório de criação?

UM BICHO
Criação de quê? De incompletudes? Quer saber de uma coisa, eu estou até te fazendo um bem, Psico. Eu sei que você completou algumas coisas na tua vida (com sucesso até), mas já reparou que todas às vezes precisou alguém ficar te cobrando? A liberdade te faz mal, Psico. Você precisa de disciplina. Teu pai é que estava certo, você deveria ter prestado serviço militar, pra aprender a cumprir ordens, prazos, hierarquia. A liberdade te faz muito mal!

UM CARA
Não dá ouvidos pra esse babaca não, Psico. Bicho, escuta aqui: se você é um conformado ], beleza. O Psico é sonhador, entendeu? Você é um amargurado. A única pessoa que te conhece é o Psico, porque você é fruto da consciência dele. Essa única pessoa no mundo (se é que dá pra chamar isso de mundo) que te conhece é ele, e ele te odeia.

Não precisa falar assim com ele não, Cara.

UM CARA
Claro que precisa, Psico. O Bicho fica te tirando o tempo inteiro. Sabe muito bem onde você vai chegar se ficar dando ouvidos a esse mané. Vai chegar à mediocridade. Vai terminar tua vida seguindo ordens, aceitando os males inexoráveis da vida, olhando pro céu e lamentando o triste destino. Ô, Psico! Você sabe melhor que eu que o grande mal dAqueles Bichos é a covardia. No fundo essa precaução toda é medo de ser criticado. Eles te agridem porque sabem que, se você aparece, eles aparecem juntos. E eles tem medo. São uns bichos do mato, não sabem lidar com gente, têm a estima lá embaixo.

UM BICHO
Já ouviu falar em senso crítico, Cara? Acho que não, né? Você e esse teu discursinho de meia tigela. O Psico sabe muito bem do que eu estou falando. Só ele sabe quantas vezes ele quebrou a cara por querer aparecer antes da hora. Ele ainda não está pronto, e sabe disso.

UM CARA
Ele pode até saber, mas você não tem o direito de dizer isso a ele.

Galera, galera. Vão embora! Agora! Preciso ficar sozinho.

UM BICHO
Eu sabia. Não agüenta ouvir a verdade: seu mal é esse

UM CARA
Você sabe muito bem o que ele pensa sobre a verdade, ô babaca. Psico, é isso mesmo que você quer? Tem certeza que não quer que eu fique mais um pouco?

Não. Quero ficar sozinho. O Bicho me interrompeu. Preciso terminar este post, organizar a suruba que vocês fizeram, amarrar as frases desencontradas de vocês.

UM CARA
Beleza então, Psico. Fica na paz.

UM BICHO
Eu vou, mas eu volto. Você é nada sem mim. Hahahahahahaha (ecos)

Galera, era desse pessoal que eu estava falando. O que o Bicho aí tava querendo dizer é que eu já tentei fazer um blog, em outra ocasião, que usava essa idéia como central. O objetivo era discutir, utilizando Aqueles Bichos e Aqueles Caras o ato de criação em si. Só que, daquela vez, como ele disse, eu não dei continuidade ao projeto. Eu espero estar me libertando desse vício, acho que agora consegui organizar algumas coisas e ando mais `livre´ para escrever.

Só um detalhe: Aqueles Caras, às vezes, são otimistas demais. Encarem com cautela suas declarações.

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Fala sério!

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Hoje é aniversário da minha irmã. Está fazendo 16 anos.
Tempo e fatos no tempo.

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Comentários

Aos poucos, vou acertando os ponteiros por aqui. Há poucos minutos, compreendi como é que funciona o sistama de comentários do Blogger.com. Não era tão complicado, o problema é que antes eu nunca tinha tempo de fuçar direito.
Agora não estou mais incomunicável!

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terça-feira, janeiro 20, 2004

Psico Indica
Charge

Estou criando uma espécie de Portal Psicotópico. Como o PsicoBlog, ele também está em formação. Mas já tem lá um desenho/charge do Psico, o mascote do Site. O desenho é de Werley Krohling (Show!), estudante de Publicidade e Propaganda da Faculdade J.Simões, de Guarapari-ES. A pinta do cara do desenho já foi a minha, mas não sei até quando esse magrelo aí, com cara de Salsicha, vai durar. Mas foi uma época importante, logo perecerá como boa lembrança.

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Psicoses
Tilt

Esta é uma tentativa de explicar este Blog que assim como os rios de Heráclito não é possível visitar duas vezes, ele muda muda muda...

Como diria Lulu Santos (e suas referências) "tudo muda o tempo todo no mundo", inclusive o texto, "as palavras e as coisas".

Segundo uma concepção orlândrica, o Psicotópicos será uma espécie de rascunho virtual, cheio de pensamento quente - mais ou menos inconseqüente...

Pensamento em formação - formando ações,criando laços, abrindo espaços e deixando rastros (mesmo que de rimas mal feitas).

Aliás, tudo aqui será refeito: é uma eterna refeição.

Só os mortos não mudam. O psiquismo é vivo. Logo, os psicotópicos vivem. Se vivem, mudam. Se mudam...

...atualizam lingua morta.

E fazem, assim, uma horta cheia de legumes.

Voltamos à refeição, só pra rimar outra vez, pois o Psicotópicos está aberto à visitação - e à re-visitação e à revisão e às frases sem vírgulas a la Ivan Castilho e às referências obscuras e aos repolhos.

Mas a Pandoríase é um conceito novo que Tao te king (logicamente) explica tudo e nada (porque nada é tudo e tudo é nadar nos rios de Heráclito)

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Este Blog é novo, só tem o Esqueleto, por enquanto. Nada de He-man.

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O INÚTIL

Queria acompanhar aqui um texto de Arnaldo Jabor, tocando, de leve, alguns conceitos de pós-modernidade desenvolvidos pelo sociólogo francês Michel Maffesoli e relacionando isso, mais ou menos, à finalidade desse blogue.

Em texto publicado no Jornal “O Globo”, “Nunca a burrice fez tanto sucesso”, Arnaldo Jabor faz um breve resgate histórico dos anos 70 pra cá, para explicar o que, depois de ter visto o filme de Denis Arcand, tenho chamado de “Invasões Bárbaras”. Antes do filme, eu usava a idéia do “retorno do arcaico”, que Maffesoli usa para explicar alguns fenômenos comuns em nosso tempo (a fragmentação da realidade, a “tribalização”, o fortalecimento do que ele chama de “imaginal”, em detrimento do racional que norteara a modernidade, em outra época) para definir (ou pelo menos entender melhor) a “Condição Pós-moderna”, como diria David Harvey, ou a contemporaneidade, como eu prefiro dizer.

No texto, Jabor escreve:

“Nos anos 60, parecia que o mundo ia descobrir um reencantamento laico, com a glória da juventude, a alegria da democracia criativa, que a inteligência teria um lugar no poder, que a ciência e a arte iam nos trazer uma nova beleza de viver. Em 68, não foram apenas as revoltas juvenis que morreram; começou a nascer uma vida congestionada, sem espaço para sutilezas de liberdade. Os anos 70 foram inaugurados com a frase de Lennon de que o sonho acabara e com a morte sintomática de Janis Joplin e Hendrix, com o fim dos Beatles e com a chegada dos caretas ´embalos de sábado à noite´”.

Tudo isso de que fala Jabor foi determinante na configuração do mundo como o conhecemos hoje. A crítica da modernidade (por gente como Nietzsche, Foucault, Freud, Derrida e outros) desmontou muitos conceitos considerados estáveis para a ciência, da mesma forma como o iluminismo destruíra conceitos religiosos que durante idade média serviram de apoio para toda uma sociedade. Sem pontos de referência, o homem parece ter caminhado para o niilismo (e para o hedonismo) a passos largos. Caminhada que foi acelerada pelo desenvolvimento do capitalismo que culminou no neoliberalismo que quebrou a Argentina e privatizou até o ar dos brasileiros.

Os movimentos citados por Jabor, foram encampados pelo mercado, tornando-se meros simulacros, fazendo nascer o “punk de butique” e o “hippie-chique”, entre outras tantas formas esvaziadas de ideologias ou movimentos.

O “reencantamento laico” não veio. O ser humano parece não ter conseguido adaptar-se à liberdade sonhada pelos jovens dos anos 60. Nem Marcuse, nem Gabeira, nem Glauber nem Godard... ninguém conseguiu manter vivo aquele espírito. O homem, com suas crenças “iluminadas” com holofotes, começou a buscar novos “deuses” para se apoiar. Como fala Jabor, “uma falsa “liberdade” jorrou do mercado de massas e a volta da burrice foi triunfal. O mercado e o poder começam a programar nosso desejo por simplismos e obviedades. Cresceu na sociedade uma sede da burrice, como mostra a declaração de muitos jovens austríacos que disseram há tempos: ´Votamos no Haider (o neonazista) porque não agüentamos mais a monotonia da ‘política’, o tédio do ‘bem’, do ‘correto’, do ‘democrático’!´”.

O mesmo discurso que aproxima os jovens dos neonazistas, para Jabor, parece aproximar outros jovens, adultos e velhos das igrejas evangélicas, dos cultos imbecilizantes, dos persamentos formatados, com diretrizes rígidas que indicam o caminho a seguir. “Outro dia, vi na TV um daqueles “bispos” de Jesus de terno-e-gravata clamando para uma multidão de fieis: ´Não tenham pensamentos livres: o Diabo é que os inventa!´”, conta Jabor. Para ele, a prova de que caminhamos para o reino da estupidez é o presidente norte-americano, o Bush. Falando sobre ele, Jabor escreve:

“Ele se orgulha de sua burrice. Outro dia, em Yale, ele disse: “Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidente dos USA”. É a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola, explica. O bom asno é bem-vindo, enquanto o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice, não há dúvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia — o erro é sempre do outro. A burrice dá mais ibope, é mais fácil de entender. A burrice até dá mais dinheiro; é mais “comercial”. A burrice ativa parece até uma forma perversa de “liberdade”. A burrice é a ignorância ativa, a burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se “fascismo””.

Maffesoli, de certa forma, concordaria com Jabor. Para o francês, a pós-moderniade, como dito acima, não se pauta pelo racional, mas pelo imagético. A velha oposição entre forma e conteúdo parece ter sido resolvida na pós-modernidade. A preferência pela primeira é nítida, seja pela forma dos corpos, das imagens ou dos discursos. O conteúdo, remete à modernidade, ao iluminismo. A forma remete ao Barroco, ao pré-moderno, períodos nos quais a razão também não era o ponto principal.

Maffesoli, apesar disso, é otimista com relação à pós-modernidade. O sociólogo consegue ver pontos positivos no período (que para ele é de transição). De certa forma, a pós-modernidade representaria uma ruptura com o pensamento único, verticalizante e aproximaria o homem da visão multiculturalista que a nova antropologia nos trouxe. Pensar a modernidade enquanto transição, aproximao francês de Boaventura de Souza Santos, o sociólogo português. Este, por sua vez, defende um sujeito (conceito moderno) ativo, capaz moldar a disforme pós-modernidade para construir “um mundo melhor” que ele acredita “possível”. Boaventura, para quem não sabe, é um dos organizadores do Fórum Social Mundial.

Nenhum desses pensadores (Jabor também é um pensador, o nosso profeta louco), discorda completamente com relação a o que seja a contemporaneidade. As divergências aparecem mais na hora de definir para onde vamos. É aí que a coisa complica.

Se seguirmos com Jabor, temos o cinismo ao nosso lado. Poderemos olhar o mundo com desprezo e levar a vida, sabendo que ela não vale lá grande coisa. Se seguirmos com Maffesoli, precisaremos fechar os olhos para uma série de coisas, concentrando-se, basicamente, em nosso próprio umbigo. Se optarmos por Boaventura, o caminho é o da luta, da utopia, dos murros em ponta de faca.

Por aqui, oscilo constantemente entre Jabor e Boaventura, impregnado de Maffesoli. Não acho que escrever, pensar ou espernear terá muita utilidade, mas sigo fazendo. Fico com João Cabral de Melo Neto: "Fazer o que seja é inútil. Não fazer nada é inútil. Mas entre fazer e não fazer mais vale o inútil do fazer"!

Entre as inutilidades das quais me ocupo, está o Psicotópicos. Aqui, tento estabelecer diálogos, refletir um pouco contribuir, de alguma forma, para preservar ilhas virtuais (e reais) onde o pensamento possa ser buscado sempre -- e, vez ou outra, possa ser exercido. Como já disse em outros textos, o que importa aqui é o processo e, quando falo disso, não posso deixar da famosa frase de Riobaldo, o herói de Grande Sertão: veredas: “O real não está na saída, nem na chegada – ele se apresenta pra gente é no meio da travessia”.

Nenhum dos pensamentos e idéias que surgem aqui pretendem afirmar-se enquanto verdade. Por mais que a retórica seja uma constante e sirva para amarrar o discurso, muitas vezes essa atitude passa mais pela busca de um estilo para tornar o texto agradável (e compreensível) do que por uma estratégia de persuasão. Em vez de convencimento, o que se busca aqui é o diálogo. Em vez de consensos, a multiplicidade das visões (e é aqui que me aproximo novamente dos teóricos da pós-modernidade).

Sei que estou me estendendo demais, mas creio que esse texto é importante para elucidar alguns pontos que caracterizam o blogue enquanto veículo de comunicação (em micro-escala, mas vá lá!).

O Zé, freqüentador assíduo do blogue, citou Nietzsche ao comentar um post do Psicotópicos. Esse alemão bigodudo tem uma obra marcada pelas incompreensões de seus leitores. Antes de ser um filósofo (e um filólogo), Nietzsche era um escritor. Parecia ser alguém que escrevia por prazer, sorvia as palavras com gosto. Em “Além do bem e do mal”, livro de Nietzsche que li no ano passado, isso ficou muito claro pra mim. Wittgenstein se destaca entre tantos por destacar em seus textos a incapacidade das palavras para expressar de forma correta o pensamento. Talvez por isso, o pensamento do segundo Wittgenstein seja constituído basicamente por “insights”, fragmentos de grandes idéias que o filósofo nem sempre completava, mas que para os leitores apareciam como ótimos pontos de partida para uma (ou muita) reflexão.

Como rascunho virtual, o Psicotópicos é repleto de incompletudes e, muitas vezes, incorpora o erro como parte do processo. Ao mesmo tempo, essa é uma pseudo-reação à exigência capitalista de “competência”, de “eficiência”, de “perfeição” – palavras sempre repetidas nos discursos de empresários e administradores. Não me oponho a essas “qualidades”, mas não acho que perfeição seja um atributo do ser humano. Muitas vezes, a busca pela perfeição aproxima o homem da máquina, ou de algo desumano. Citando um termo de Habermas, o interesse do Psicotópicos é também descolonizar o “mundo vivido” e não permitir que a lógica técnico-intrumental invada este espaço que, embora muitas vezes pareça “sério”, é de lazer. O Psicotópicos é o meu “inútil do fazer” que vale a pena.

Este texto mesmo, embora se aproxime, em sua forma, dos discursos científicos, é apenas um exercício estilístico, cheio de buracos, de falhas, de lacunas. O sentido dele existe muito mais para mim – e assim, já faz diferença – do que para qualquer outra pessoa. Se das lacunas, algum diálogo surgir, alegria alegria! Se não, paciência: já recebi a minha recompensa.

De resto, é isso aí. O texto ficou grande demais e provavelmente não será lido. Mas repito, se algum Jo conseguiu chegar até aqui e se alguma coisa aqui causou incômodo ou deu vontade de criticar, vá em frente. Estamos aqui (eu e minhas máscaras) para isso...

(E texto escrito em junho de 2004, substituiu um antigo post)

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quinta-feira, janeiro 08, 2004

Inconsciente Psíquico
Uma explicação (ou uma divagação intimista)

Este blog está em gestação, em formação, em fase de teste, num momento onde todo o tipo de erro pode ser cometido. Este é um momento de liberdade total. A diferença entre os textos que escrevo aqui e os que escrevia durante a adolescência ¿ para ficarem guardados, a sete chaves, sabe-se lá porque (no fundo sei, mas essa é uma discussão que fica para mais tarde) ¿ é muito pouca.
Não dei o endereço do blog pra ninguém. A possibilidade de algum web-náufrago chegar aqui com sua jangada é remotíssima. Sou, ou melhor, o blog é uma ilha - ´a milhas e milhas e milhas de qualquer lugar´ (Engenheiros do Haway) - fora do mapa em uma Oceania de proporções cósmicas. Somos ¿ eu, meu blog, aqueles bichos e aqueles caras um nó minúsculo ¿ e egocêntrico ¿ na rede. Quero, um dia, usar esse nó para amarrar pessoas (falarei sobre isso mais tarde). Mas por enquanto, nem os meus próprios pensamentos ele consegue amarrar. Tudo é solto, perdido, ´bicho solto, cão sem dono´, ´à flor da pele´ (Zeca Baleiro), extremamente impulsivo.
Gostaria que mais pessoas acompanhassem esse processo. Na verdade, o esse blog está me permitindo fazer uma coisa que há tempos venho adiando: refletir sobre a escrita, algo com o qual tenho uma relação muito tensa, conflituosa, almodovariana. Eu e o texto brigamos. Aqueles bichos exigem de mim mais auto-crítica. Exigem que eu me encare de frente e veja o tanto de besteira que escrevo e o quão pretensioso sou, pensando em ser escritor num mundo onde escrever se torna algo cada vez mais piegas. Isso pra não falar na falta de habilidade pra coisa...
Mas escrever vicia. Se torna questão de sobrevivência, ou, parafraseando Bukowski, nos tira da completa loucura (a frase está no blog da Clarah Averbuck). Aqueles caras, que são a parte mais legalzinha, mais condescendente de minha personalidade, dizem que isso basta; que vale a pena seguir em frente e fazer do ato de escrever uma espécie de bengala, algo que me impeça de lembrar a todo o momento que viver nesse mundo estúpido (e lindo-lindo!) não faz sentido algum.
A cada dia simpatizo mais com aqueles caras.
Mas, voltando ao caráter anônimo do blog. De certa forma, os blogueiros anônimos constituem uma espécie de sociedade não constituída de viciados em escrever. São um espécime curioso, que se diferencia dos egocêntricos que escrevem porque acreditam que sua vida, por mais medíocre que seja, pode interessar a alguém (e o incrível é que sempre interessa a alguém). Os blogueiros anônimos convivem com a expectativa e o medo. Querem ser lidos por alguém, mas ao mesmo tempo o medo de serem criticados os corrói. São tipos introspectivos, geralmente, com personalidade pendendo mais para o ânima, para o yin. Não são do tipo que se destacam em vida (e nem sempre se destacam após a morte). São gente cheia de vida interior. Vida que, aos poucos, vai se perdendo, como as idéias que eles têm o tempo todo e esquecem; os projetos que eles começam hoje (como se fossem a razão primeira de suas vidas) e abandonam amanhã.
No momento, estou nesse estágio.
Mas não pretendo parar por aí.
Ultimamente tenho ouvido com mais carinho os conselhos daqueles caras. Acho que está na hora de maneirar na auto-crítica. Afinal, é preciso fazer alguma coisa. Algo que sirva para alguma coisa. Escrever. Escrever nem que seja para servir de exemplo de como não se deve escrever. É preciso viver.
Esse blog é um marco. Esse texto também.

[Texto escrito para explicar Blog extinto. Hoje, útil pra perceber o que mudou e o que não]

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quarta-feira, janeiro 07, 2004

Inconsciente Psíquico
Governator



A cada dia fico mais convencido que, no mundo pós-moderno, tudo pende para o lado do entretenimento. O que dizer de Schwarzenegger governador da Califórnia?! Realizando um ´´California Dreaming´´ (um prelúdio do American Dream que ele almeja)!!!
Sem preconceito, claro, mas austríacos assumindo o poder fora de sua terra natal é algo que me assusta um pouco. Nossa esperança é que chegue a hora do pesadelo para o sonho americano do Terminator. Se um republicano como o Bush deixa o mundo em polvorosa, que dizer de um republicano que consagrou-se como Exterminador do Futuro?
A propósito, o Terminator reúne características dos dois últimos imperadores, digo, presidentes dos EUA. É tarado como o Clinton, republicano, belicoso (um cara com tanto músculo não pode ser pacifista!!!) e algo Forrest Gump como o Bush.

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Inconsciente Psíquico
O Universo e o Grêmio


A cada dia fico mais convencido que, no mundo pós-moderno, tudo pende para o lado do entretenimento. O universo tem a forma de uma bola de futebol, cientistas (e a Folha) afirmam!!! Olhem só que coisa. Quem poderia imaginar (esqueçam Einstein, pensemos nos simples mortais)? Ronaldinho deve estar eufórico: basta um pouquinho de esforço e ele domina o universo!
Suspeito que, de alguma forma, os jogadores do Grêmio descobriram isso antes dos cientistas e sucumbiram ao peso da responsabilidade. É, porque não é tão simples assim descobrir tal coisa e continuar encarando a vida (e a bola) da mesma forma. Pensem bem, sabendo disso, toda a vez que chutasse uma bola, o jogador pensaria no universo, na física quântica, na sabedoria einsteiniana, na... ops, perdeu a bola...
Tenham mais paciência com o pessoal do Grêmio, meu povo...

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Inconsciente Psíquico
Gabeira e o PT



E o Gabeira, heim? Cansou do PT! Sempre desconfiei que esse casamento não ia durar muito. Aqueles barbudos todos (o bigodudo do Olívio), a fidalguice do Suplicy, o marxismo do Genro, o Palocci... nunca daria certo. É muita caretice num só lugar. Ouvi dizer que o deputado pretende criar outro partido: depois do PV, vem aí o PED, Partido da Erva Daninha (acharam que ia dizer danada, né? Seus preconceituosos!). O partido pretende fazer oposição à facção pró-transgênicos do governo. Para a próxima eleição a idéia é lançar o Marcelo D2 para senador, que é pro pessoal ´´manter o respeito´´, e prestar atenção no partido, porque com ele ´´portas se abrem e aumenta o poder da visão´´. Segundo meus informantes, segundo o amigo, do primo do tio do segurança do vizinho do Gabeira (fonte segura!), o deputado disse que esse é o seu compromisso e se ele é ecologista ninguém tem nada com isso.

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Inconsciente Psíquico
Matrix Revolutions



Matrix Revolutions vêm aí, pessoal. Com as máquinas cada vez mais poderosas, o Neo cada vez mais bichinha e o agente Smith cada vez mais gente boa. Parece que nessa última parte da trilogia, Neo descobre que é filho de Morpheus e do Oráculo. O arquiteto estava certo, ele é uma anomalia, filho de uma garota de programa e um humano (o Morpheus).
Na verdade, o herói era negro teve uma infância muito sofrida e pobre ao lado de seus irmãos. Seu pai, Morpheus, era opressor, queria que o filho fosse um super-homem, mas Neo se recusava, pois tudo o que ele queria era ser cantor, como o Michael Jackson. Revoltado, Neo fugiu de casa com os irmãos e montou uma banda cover dos Jackson´s Five: o Neo´s Jacksons Five. Mas um dia Neo bateu a cabeça, perdeu a memória e descobriu que tinha Vitiligo. Ficou branco e, frustrado, começou a mexer com computadores. Morpheus o descobriu, então, escondido na Matrix, e, de maneira sórdida, decidiu que o filho seria herói, custasse que custasse. O primeiro filme começou a partir daí.

No Matrix Revolutions, sabe-se que uma revolução acontecerá. Mas a grande dúvida do filme está no nome: o que eles querem dizer com Revolutions???

No filme novo, Neo recuperará a memória (no tempo que ele perdeu, só haviam aqueles pentes de 8 mb) e fará as pazes com Morpheus, que assume sua homossexualidade (por isso escolhera o Oráculo para ter seus filhos), e foge com o filho para Idaho, uma cidade no interior dos EUA. Smith fica perdido, pois a vida sem Neo não tem nenhuma graça e começa a ler Baudelaire e cometer poemas escondido dos outros clones criados por ele. Trinity decide mudar de sexo aprender a tocar Guitarra. Encontra Smith em Manchester e, juntos, os dois decidem montar uma banda. Chamam os clones de Smith para fazer backing vocal e montam o The Smiths, que faz o maior sucesso em Zion, onde todos dançam pelados. O arquiteto decide fazer História, pois descobre que não se dá bem com exatas e a Matrix vira jogo de vídeo game, comercializado pelos capitalistas de Zion.

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Insconsciente Psíquico
Sardinhas

Escrever um pouco, pra vomitar just a litle dessa coisa toda que me aperta. Sair. Fora. Daqui. De mim. Fora do eixo, Rio e São Paulo são metas - metáforas tolas que a gente faz pra esquecer a própria pequenez. É isso mesmo.

Ela tem sardas: nem eu nem meu texto temos lógica. É lógico. Do contrário, estaríamos fazendo matemática ou programas - de computador, calma!

Onde vai parar essa brincadeira toda? Nem eu, nem meu texto sabemos. Somos nós dois agora: eu e ele. Eu e os eles de lá. Será que ela se tranca no banheiro? Com quem? Consigo? Me, mi, comigo. Ter-te para contigo estar perdido, indo e vindo. Ai, ai. Quanta auto-destrutiva crítica. Quase mítica. Não métrica, mas talvez rítmica. E mística. Esticando os braços para pegar meus próprios pensamentos: eles não gostam do teclado. Brigaram, dia desses.

Brincar de roda. Roda da fortuna. O intelectual de virtù. Ai, ai. "Os pecados são todos meus". Só Deus, só Deus. Há deuses e deusas novas no Olimpo. Ai, ai. Quanta incompreensão! Também, o que se pode esperar de alguém assim, tão hermeticamente fechado ado ado a ponto de causar ecos?... Ssssssssss: alguém pode acordar com tanto barulho.

Antes o monstro acordasse para devorar as criancinhas maiores de idade. Ai, ai. Quen derrá. Ai, ai...

Chega de suspiros: se o negócio é doce, prefiro os beijinhos. Mas de quem? Onde? Os escondidos. Ai, ai. Hermeticamente fechado.

(In) fluência total. O out não funciona legal, mas a frase rima.

[Texto escrito no princípio de 2003, numa fase de entressafra (aquele período entre o término de um namoro e a volta). A musa - inspiradora, outrora - perdeu os encantos, foi ao vento, perdeu o assento. O texto - alguém duvida da perenidade da palavra escrita? - aí está, novo em monitores. Atualizado, ressemantizado - e sussurrando baixinho que a vida muda, mas nem tanto]

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