terça-feira, junho 08, 2004

VIOLÊNCIA TARANTINESCA

Gosto muito de Alberto Dines, mas acho que o excesso de nacionalismo o fez errar a mão ao comentar o resultado do Festival de Cannes deste ano. A bronca de Dines é com a vitória de Moore e com a presença de Tarantino no jure, ao que parece (clique aqui e leia o texto de Dines no Observatório da Imprensa). A Tarantino, mais uma vez, coube a alcunha de violento e eu, cá na minha ignorância, continuo sem conseguir pensar em Kill Bill como um filme violento. Pra mim, paras pálidas, nem Pulp Fiction é violento. A “estetização da violência” termina por esvaziá-la, acaba por torná-la outra coisa, esvaziando seu potencial de causar efeitos. Não é banalização, mas transformação em OUTRA coisa (que eu não sei definir ao certo – aqui entra a ignorância). Creio que Irreversível, de Noe, é um filme violento. A forma “seca” como o filme é filmado potencializa isso, torna tudo mais real. Os filmes de Tarantino permitem ao expectador um distanciamento fácil. É possível parar, durante o filme e pensar em diversas aspectos da cena sem ser o sangue “fake” que brota dos ferimentos dos personagens. Em Irreversível, por exemplo, o processo é outro. O filme é áspero, incômodo. A violência ali violenta o próprio expectador. São diferentes os caminhos tomados. Diferentes são, também, os efeitos.

Há que se concordar com Dines, talvez, quando ele se refere ao oportunismo político de Moore e de sua obra que, embora, creio eu, funcione como crítica, não deixa de ter muito disso mesmo: oportunismo. Aqui, cabe pensar qual os critérios para as escolhas em Cannes. Se o festival tem mesmo um caráter político, envolver-se com a discussão em torno dos EUA é mais do que natural.

Dines é esperto ao pensar em Moore e Tarantino como o mal recalcado que retorna em forma de sintoma. A violência estadunidense cresceria na medida em que a ela se dá mais evidência – mesmo tendo como intenção criticá-la (só pra deixar claro, Tarantino nem passa perto da crítica , alguém discorda disso?). Contudo, há aqui boa dose de retórica. Acho que, no fundo, nada seria dito se Diários da Motocicleta ganhasse a Palma de Ouro.

No más, é isso...

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