quarta-feira, abril 07, 2004

BBB, FRIENDS E TELEVISÃO

BBB, FRIENDS E TELEVISÃO


A final do BBB 4 teve a maior audiência, em relação às finais das edições anteriores. Eu e Carissa assistimos (ou melhor, escutamos) o último capítulo da novela Big Brother no “Mania”. Acredito que como eu (Carissa é anti-BBB), todas aquelas pessoas que ocupavam as mesas do lugar – com exceção das que não permitiam ver a TV – também estavam pela rua naquele horário e preferiram não ir pra casa, só pra não correr o risco de perder um pedacinho da final.

Assim que saiu o resultado, convidei a Carissa para irmos embora – acho que, alguém mais imaginativo, pensaria que eu estava torcendo para o Thiago. Antes que eu chegasse à moto, um carro parou ao meu lado. Uma mulher de rosto cheio colocou o carão para fora e perguntou, ansiosa: “Quem ganhou? Quem ganhou?”. “A Cida”, respondi. A mulher abriu um sorriso aliviado, contou ao marido, que dirigia o carro, e os dois se foram. Carissa chegou perto de mim com os olhos arregalados. “Cara, eu não acredito! Ela parou pra perguntar quem ganhou? Eu não disse? Isso tá parecendo da seleção! Quanto ficou o jogo do Brasil?”, disse Carissa, entre indignada e incrédula. Ao contrário dela, eu não comparo a comoção geral em torno do Big Brother com a catarse que representa um jogo do Brasil em Copa do Mundo. Contudo, que é surpreendente como um programa de televisão pode tornar-se parte da vida das pessoas, lá isso é!


Ontem, estava conversando com Mira e ela me contou uma coisa que me deixou bolado por um bom tempo. O preço da inserção de um comercial no intervalo do último episódio de Friends (a série acabou) estava saindo pela bagatela de 3 milhões de dólares. Com essa primeira informação, foi não foi difícil deduzir o nível de audiência da série. Um “ibope” medíocre (Oh!) nunca justificaria um preço desses, nem o cachê de 1 milhão que a Jeniffer Aniston ganha por cada episódio gravado (o cachê dos outros cinco Friends eu não sei ao certo, perguntem à Mira).

Acho que o exemplo de Friends ilustra bem a mina-de-ouro que é a televisão. As norte-americanos, principalmente, têm controle total sobre todos os mecanismos, todas as etapas, todos os processos que fazem a indústria cultural funcionar bem – ou seja, dar lucro. A Globo, tornou-se especialista em aprender com os norte-americanos os “meandros desse processo”. Tome-se como exemplo a Globo Filmes. Ao contrário do que a massa acredita, os melhores filmes brasileiros dos últimos anos não foram produzidos pelo braço “global”. Contudo, foram eles que atingiram as maiores bilheterias e, sobretudo, foram eles que chegaram a todos os cinemas do Brasil. A distribuição sempre foi o calcanhar de Aquiles do cinema nacional. Atualmente, só a Globo ou as distribuidoras norte-americanas conseguem vencer a barreira dos “blockbusters” e do império Severiano Ribeiro para passar filmes nacionais em grandes salas.

A estrutura construída pelos grandes meios de comunicação de massa – sejam as TVs ou os grandes estúdios de cinema – é sólida demais para ser destruída assim, de uma hora para outra. Por mais discursos que se faça, por mais “outsiders bem intencionados” que se infiltrem nessa estrutura, por mais projetos de lei que se votem, uma coisa é certa: a Indústria Cultural é um réptil que, por mais que rasteje, regenera-se sempre; os meios de comunicação de massa – e, sobretudo, as pessoas por trás deles e suas ideologias – são suficientemente organizados e fortes para dar a volta por cima e encontrar um ou outro “circo” que divirta/iluda/engane as pessoas. Para mudar isso, seria preciso radicalismo em seu sentido etimológico. Precisaríamos ir à raiz do problema. Precisaríamos ir ao sistema. E, convenhamos, alguém ainda acredita em revolução?

(No próximo texto, Psico falará sobre Big Brother e sobre “a revolução possível” ou “alternativas ao sistema”).

|