terça-feira, junho 15, 2004

MUROS, JORNALISMO E PESSIMISMO

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O sonho começou a ir por água abaixo. Para os felizes, que acreditavam que a Internet seria o caminho para a democratização da informação (eu fui um deles), vão aparecendo as primeiras decepções.

Os jornais diários já começam a restringir o acesso. O Estado de São Paulo segue a trilha da Folha de São Paulo/UOL e começa agora também só permite aos assinantes do jornal visitarem seu conteúdo. Para os pobres, nada feito. Sem pagar, o internauta só tem acesso às migalhas do jornalismo on-line, superficial e conciso como ele só.

O Globo, Jornal do Brasil, Zero Hora e A Gazeta, não chegaram ainda ao cúmulo da cobrança pelo acesso, mas exigem nossos dados. CPF, endereço, telefone, toda e qualquer informação que possa ser vendida para os departamentos de marketing das grandes empresas. A idéia de privacidade no mundo digital aproxima-se cada vez mais da utopia.

Fazendo um esforço, é possível até ver um lado positivo nisso tudo. Com os grandes fechando as portas, a saída para os nanicos (sem referencia à imprensa alternativa dos anos 70 e 80, apesar das semelhanças) é tentar abrir os próprios espaços. Os blogues, por enquanto, continuam sendo um canal interessante para a divulgação de notícias. Além deles, sites variados e páginas à deriva no mar digital que a Web se tornou, são outros caminhos.

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Infelizmente, os nanicos tem um raio de ação muito limitado. Sem a legitimidade que o nome garante, fica mais difícil chegar aos grandes temas com maior profundidade. Caminha-se muito no campo da especulação. O sonho bom do jornalismo investigativo, vai por água abaixo. Primeiro, porque os grandes não tem mais interesse em bancá-lo; segundo, porque os nanicos não tem força pra arcar com empreitadas do tipo.

O jornalismo investigativo é dispendioso. O jornalista que o faz precisa de proteção, de grana pra correr atrás da notícia, de experiência e, sobretudo, de coragem e ambição. O caso de Tim Lopes é sintomático, pois demonstra como o jornalista se torna vulnerável ao tentar enfrentar certas estruturas. Reza a lenda que o envio de Caco Barcelos para Londres tem muito mais a ver com a necessidade de tirar o jornalista daqui para proteger sua vida, após o lançamento de seu livro sobre o tráfico, do com o reconhecimento global ao mérito do gaúcho. Caco Barcelos era um dos melhores repórteres da Globo. Deixá-lo em Londres, mesmo em época de guerra, é um grande desperdício.

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Quando vejo portas se fechando na Web, temo pelo futuro da informação. Querendo ou não, a liberdade que a Internet oferece é instável. Somos reféns dos provedores. Se o Blogger (ou a Globo.com) resolver tirar centenas de blogues do ar, sem mais nem menos, eles tiram. Está no contrato que aceitamos quando criamos nossos blogues. Por enquanto, tudo são flores. Mas até quando?

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