domingo, setembro 11, 2005

ESPASMOS

Uma das vantagens de se manter um blogue é poder acompanhar o próprio desenvolvimento (ou a própria involução) ao longo do tempo. Como aqueles pais que acompanham o crescimento do filho fazendo marcas na parede. Quem acompanha o blogue sabe que antes prevaleciam aqui os textos pseudo-teóricos, as especulações, a obsessão pelo pensar com, pelo pensar junto. A idéia era dialogar, promover encontros e tal. Criei o blogue pra isso. Pra ser um registro das revoluções de meu próprio pensamento e o papel do pensamento alheio (os afetos) nesse processo. Hoje – hoje as coisas mudaram. O número de textos de ficção só faz crescer...

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Andei pensando sobre isso nas últimas semanas. Acredito que a mudança do blogue, mais uma vez, diz minha mudança. A impessoalidade é presa difícil. Mesmo nos textos mais teóricos e frios, sempre estiveram lá pedaços de mim (e uma das minhas principais discussões aqui era justamente no sentido de tornar explícito que é sempre assim). Doce ilusão a dos formalistas que acreditam na possibilidade de separar biografia e obra (seja artística ou teórica). Não dá. (O que também não significa que as conexões entre uma e outra coisa sejam tão imediatas e simplistas como muitas vezes se pensa). A vida, quando pensada, não tem nada de simples. Simples é o viver – mas isso é outra história. Uma história que tem pouco a ver com o blogue, enquanto ferramenta para a construção de sentidos, enquanto tecelagem.

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Vi e revi vários filmes de Martin Scorsese. Comecei pelo Aviador, passei por Bons Companheiros, joguei com Cassino e descobri que Alice não mora mais aqui. Nesse périplo fui conduzido por Scorsese – conduzido pela mão. A câmera, em Scorsese, respeita a realidade do filme. Não é invasora, nem violadora: é espiã, é voyeur. É como se a lente, viva, nos dissesse: “ei, vem aqui, dá uma olhada nisso”. A gente se aproxima e observa – sempre com a respiração presa: silêncio.

Isso é cinema!

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Estou pensando seriamente em voltar a fazer deste espaço um lugar para notas: registrar idéias como aquela do manifesto.

Como? Não falei disso ainda? Então...

... trata-se de um manifesto sobre cinema revolucionário. Um manifesto que defende um cinema de final realmente feliz. Que defende a felicidade impossível e impensável: uma felicidade tão utópica a ponto de tornar inaceitável tudo que seja mediano...

Volto a falar disso quando acabar o manifesto. Se acabar. Ou quando tomar coragem e fazer um filminho pelo menos. Se tomar...

Por enquanto, rumino a idéia...

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A regularidade é necessária. Para tocar o impossível é preciso aprender a jogar com o possível.

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O real está presente. O real é presente – de Grego.

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E chega.

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