segunda-feira, agosto 15, 2005

PASTÉIS

O quarto agora tinha novas cores: pastéis. Quando vivia em seu arco-íris, nunca ligara para o pote de ouro. No fundo, ela sabia: ele sempre estaria ali, era só estender a mão e pronto: tinha toda riqueza do mundo. Mas agora – agora era diferente. Não havia mais a euforia do vermelho, do amarelo, do violeta. Havia só o azul-celeste daqueles que colocam ordem na vida. Ordem monocromática. Paz. Ela sempre achou que era isso que procurava. Mentira. Mentira dela. Ela queria a violência da policromia: vermelho, amarelo, violeta: sangue, pus e pulso. Nem era pra agredir, nem era: era só pra viver, sabe? Ter consigo o mundo em todas as suas facetas. Afinal, de cores primárias pintam-se rosas e espinhos. Queria furar o dedo, fazer um pacto consigo mesma. Quis chorar, mas a lágrima não veio: presa, como ela. Sentiu vontade de voltar ao velho quarto, à velha cortiça cheia de fotos, àquela coleção de pôsteres. Ficara tudo pra trás. Todo caos. Toda esquizofrenia. Agora, só paredes claras – pastéis- pastéis! – e essa sensação de sufocamento. Deu um soco na parede. Dois. Três. Doeu. Não tinha mais volta. Era isso. A mão, vermelha, ela apertou contra o peito.

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