terça-feira, agosto 09, 2005

SETE VEZES SETE VEZES

Na primeira vez, você disse que não podia. Tentou explicar, tinha seus motivos. Eu disse que não precisava, entendia, deixa disso. Na segunda vez, você disse que não dava e tentou explicar suas razões. Deixei, mas você foi menos convincente que o esperado. Deixei passar. Amava-o demais pra apegar-me às miudezas do seu discurso. Na terceira vez você disse que tinha se enrolado um pouco, que explicava depois, mas que não poderia ir mesmo. Fiquei triste, quase chorei. Mas o amava ainda. Eu o amava tanto! Na quarta vez você disse que precisava ir, que era coisa importante, que eu precisava entender, que eu costumava ser mais compreensiva. Dessa vez – dessa vez chorei. Chorei tanto, mas tanto, mas tanto – chorei até secar um pouco. E sequei. Secou. Um pouco. Na quinta vez você disse que viria, mas não apareceu. Nem ligou. Nem quis discutir o assunto. Chorei. Outra vez. Mas um pouco menos. Chorei até secar. Até secar bastante. Até secar mágoa por mágoa. No peito – no peito um deserto seco-seco. Sentimentos estilhaçados: grãos de areia, vão dos dedos. Vãos. Seca, seca, seca. Na sexta, guardei o que restou numa mala: vazio. No sábado, poesia.

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