Missiva
Caro Psicotópicos,
Escrevo para dizer a vida anda boa aqui no “mundo dos cheiros”. Não tenho muita certeza de pra onde estou indo (e quem tem, Psico?!), mas suspeito que vou por um bom (o palavrinha difícil de definir) caminho. Não sei se cheguei a comentar com você, mas começo a redescobrir o valor da solidão. Não, Psico, não virei eremita: meu pesar pelos descaminhos da humanidade não cresceu ao ponto de virar amargura ou ódio. A solidão de agora assemelha-se mais àquela típica dos períodos de transição. Lembra quando falei sobre os desertos povoados do Deleuze aqui? Pois é, acho que é por aí. Tenho sido muitos ultimamente. De maneira estranha, algo que surgiu quando menos esperava -- trabalho, Psico, trabalho! -- tornou-se a linha de fuga perfeita para romper com uma situação que já começava a se tornar opressora. É verdade que topei com essa linha sem fazer muito esforço (foi como se me fora trazida, entende?). Tenho uma mania um tanto impertinente de procurar nexo entre os fatos, Psico. Por conta disso, andei especulando sobre os novos cenários que se me apresentam e, de uns dias pra cá, comecei a desconfiar que vinham sendo pintados há bastante tempo. Parece incrível, mas tudo de que falei por falar desde o momento em que decidi dar novo rumo à vida... tudo aconteceu! E tudo é bom, Psico! Fugi e procurei uma arma. Finalmente, estou perdido. “Sem amarras, barco embriagado ao mar”, como diria ‘quela moça que a gente gostava tanto de citar.
Não sei porque falo dessas coisas. Nossas conversas sempre foram mais formais, não é? Tirando um surto ou outro, quando as “sentimentalidades” me faziam dizer besteiras, cometer equívocos, sempre mantive um tom mais sério em nossas conversas, não? Se bem que, pensando melhor, eu andava meio esquisito ultimamente. Nos últimos meses, você deve ter me estranhado. Dei pra fazer gracinha, testar meu senso de humor, essas coisas. Nunca foi meu forte, né?
Na verdade, estou escrevendo por culpa, acredito. Depois de tanto tempo sumido, achei bom dar uma satisfação. Afinal, amizade tem disso. Precisa ser alimentada, não é o que dizem por aí?
Por falar em amizade, esse tem sido um terreno delicado nos últimos meses. É como se todas as minhas relações estivessem passando por uma prova. E, também isso, Psico – também isso parece bom. Há momentos em que é preciso passar um pente fino, matar uns piolhos (usar uns clichês). Engraçado é que isso nem é novidade. Não sei se é o eterno retorno ou só os tais ciclos, tão caros aos pré-modernos. O fato é que, de tempos em tempos, é preciso jogar fora algumas tralhas. E hoje, Psico – “hoje joguei tanta coisa fora”... só pra descobrir que, na boa: “a casa fica bem melhor assim”.
Escrevo ao som de At the River, do Groove Armada. Essa foi uma das boas descobertas da nova fase. M., claro! M. é phoda! A propósito, M. está grávida, cara! É, pode ficar surpreso! Meu choque não foi menor... Contando com Troops e L, agora todos meus amigos-duráveis terão herdeiros! Que coisa, né? E depois a T. vem dizer que sou velho!..
Mas, Psico, falo demais! Escrevi mais para dar sinal de vida e pedir que não desanime. Prometo trazer lembrança do “mundo dos cheiros”! E até notícias sobre a crise política (tá punk a coisa por estas bandas). De resto, tá na hora de peão (peão feliz, peão feliz) ir pra cama. Tem mais coisas pra contar, mas fica pra uma outra hora.
Abraços
Ps: Manda lembrança pro pessoal que sempre comenta aí. Saudades deles também.
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