quinta-feira, setembro 08, 2005

BETWEEN THE BARS



Temiam-se mutuamente noutra época. Aquele jeito feliz-feliz que ela tinha – seu modo inabalável de ser no mundo ativava nele um estranho mecanismo de atração e repulsa. (Repulsa, sim, porque dava pra repelir o próprio castelo – de areia, de cartas marcadas: castelo de lugar comum).

Ela – ela era o pitoresco. Se descendia de alguma raça era das Valkirias – jamais da nobreza afetada e incolor do amor cortes. (Não que não apreciasse a poesia ou carecesse de sensibilidade. Não, não – muito pelo contrário. Se guerreira era – o era por nadar contra a maré e acreditar no impossível. E, afinal, é assim se invertem valores!)

Aquele medo, por sua vez, foi desaparecendo aos poucos, entre um e outro gesto incontido. Ela se despia entre a data especial e o encontro fortuito, numa espécie uma dança dos sete véus que tinha como palco o hiato deixado pelas incertezas – e pela distância. Criaram uma ponte clandestina para conectar seus mundos.

De um dia pro outro, perceberam-se nus e a sós sobre uma cama, brincando de amor e poesia entre sonhos loucos e delírios latinos. O amor deles brotara no meio, feito grama. Por conta disso, tinha graça – e balançava ao sabor do vento: doce a dissolver entre a língua e o céu daquela boca de lábios grossos.

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