NÓS, MARINHEIROS
Ia encontrar com ele depois de meses. Ligou só por curiosidade, desejo louco-louco de saber como estava. O convite veio assim, espontâneo – e trouxe felicidade. Tem nós que não se desfazem. Nós de marinheiros: nós de gente que rasga o mar da vida meio que ao sabor do vento. Quem tem alma de marinheiro, assim é: diz que procura terra firme, mas embarca na primeira jangada. E só assim é feliz. “Navegar é preciso”; viver, não: a vida são linhas que se cruzam, se amarram, se rompem: ele é víscera; ela, por amor, faz das tripas coração. Entre os dois não há laço, mas nó – num par de sapatos vermelhos. Pode até dar errado. Sempre dá. Mas entre isto e aquilo, tem tanto – pra fazer, pra viver, pra curtir. Sim, sim: tudo vale a pena, pois a alma – a alma é do tamanho do mar. E ela quer mar-aberto, mar-adentro: prefere a incerteza da imensidão à calmaria provisória das represas de concreto. Está errado, está certo. Que se há de fazer? A vida surge em formas as mais variadas! Ela vem, nos travessa, depois vai – sem dizer adeus, sem mandar lembrança. O jeito é cravar-lhe as unhas nas costas, enquanto a temos nos braços. O esmalte – vermelho.
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