UM CASO A SE PENSAR
Blues e poesia: quem diria que o filho de tal casamento teria feições escarlates, teria gosto de carne, seria (im)pura visceralidade? Pois num é que foi? E foi sexta, na Curva – e que curva! – da Jurema. Horas? Sim, algumas: tufões de movimento alternados com calmas brisas e, não raro, silêncios – verborrágicos silêncios.
Mas eu dizia de uma cria escarlate. É, porque a poesia que saiu daquela sexta pouco teve de celeste. Pra ser sincero – que não me escutem os anjos caídos – volta e meia ela flertava com o demônico.
A cadência marginal do blues – repetitiva como certos gestos – hipnotizava, hipnotizava, hipnotizava...
... até que, de súbito, do solo irrompia o inesperado. Terra em transe, pessoas em trânsito, sexo tântrico a prescindir de qualquer toque que não fosse o dos instrumentos...
... ou o das palavras. Palavras grossas, matéria-viva de um (i)mundo mais do que agravável. A matéria do poema a invadir ouvidos feito língua molhada e quente.
Quente como o pus que brota do néon parnasiano de Sérgio Blanck. Quente como a Lira do Mário, ou o delírio lisérgico de Raimundo Carvalho: se cada poema “fosse uma cartela de ácido, melhor viajaria?”. Perguntas complexas:
“Tudo que a vida me dá
sinuca de bico”.
Sinuca de Bith, de Fernandos, de pessoas como Andréia, Erlon, Orlando, Benjamin, Fábio, Salsa e toda uma penca de gente insanamente boa: gente louca-louca que, num etílico jogo do copo, acreditou na Vitória da poesia – e do blues.
Eu, cá com meus botões, fico a pensar em traições. Como seria um affair entre esta lasciva, a poesia, e o Jazz, aquele abusado? Como improvisar encontros secretos entre os dois? Como fazê-los “suinguar” sem que ninguém perceba o quanto são imorais (e belos)? Como?
É um caso – um caso a se pensar.
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