segunda-feira, janeiro 17, 2005

“Ordinary life is pretty complex stuff” – Parte VI



A Parte V deste postão falava dos filmes como uma das poucas alternativas para fugir do cotidiano enfadonho de Guarapari. Como já falamos disso, é compreensível que eu volte a falar de filmes agora.

O filme a que mais assisti nesse último ano e meio foi “Confissões de uma mente perigosa”. Dirigido pelo George Clooney e roteirizado pelo Charlie Kauffman, o filme é baseado no livro obscuro (que possivelmente mistura realidade e ficção) de Chuck Barris, produtor/apresentador de TV, criador do Namoro na TV e do Show de Calouros. No livro, Barris diz ter trabalhado como agente da CIA enquanto apresentava seus programas. Ninguém sabe dizer se isso é verdade ou mentira e a lendinha ajuda a tornar o filme mais intrigante (e rocambolesco).

Eu não sei ao certo o que mais me cativa em “Confissões de uma mente perigosa”. Talvez o período história que ele perpassa (65-70), ou as sutilezas cômico-dramáticas, ou ainda a interpretação de Sam Rockwell. No fundo – suspeito –o mais provável é que eu tenha me apaixonado pela Penny. É difícil explicar, mas aquele sorriso convidativo e aconchegante da Drew Barrymore veio a calhar num período em que meu então namoro andava meio sem sal.

Assim como “O Anti-herói Americano” e “Adaptação”, “Confissões de uma mente perigosa”, como eu já disse, trabalha no limite entre ficção e realidade e também retrata a questão do show business (ainda que de forma bem menos direta que os outros dois).

Dessa salada toda, o que salta aos olhos é a necessidade que a arte tem de olhar pra si mesma, de se auto-analisar...

... mas eu não queria falar dessas coisas. Queria apenas dizer que “Confissões de uma mente perigosa” tem sido meu filme de cabeceira (existe isso?) no último ano. Sei que existem melhores, sei que isso, sei que aquilo, mas devo dizer que isso não tem muito a ver com capacidade de apreciação e discernimento crítico. Tem a ver com uma outra coisa que talvez nem sirva para dizer o que é arte. Creio que se Deleuze lesse isso, diria que tem a ver com afeto, com agenciamentos, com devires... ou com babaquice.

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