segunda-feira, janeiro 17, 2005

“Ordinary life is pretty complex stuff” – Parte V



Guarapari oferece poucas alternativas pra quem quer fugir da vida ordinária. Uma das linhas de fuga que vêm sendo traçadas por aqui nos últimos meses são os filmes. Em janeiro, mais três salas de cinema serão abertas na cidade. Todas elas dedicadas ao “cinemão”, às bombas do circuito comercial. A Alfa Vídeo Locadora (eles podiam me pagar algum por esse merchandising) é o único lugar onde é possível encontrar um filme realmente interessante pra se assistir aqui. A carência é grande, mas já é hoje já dá pra locar alguns filmes franceses mais recentes, filmes latinos, os indicados em Cannes e Sundance (que muitas vezes são muito ruins) e clássicos de Hitchcock, Kubrick e Eisenstein. Não que eu seja metido a cult não (por sinal, ô palavrinha gasta essa). Muito pelo contrário. Adoro uma comédia pastelão de vez em quando. Mas nem só de pastelão vive o homem.

O grande problema é que a fuga cinéfila aumenta de forma monstruosa a conta da locadora e, muitas vezes, resulta num sentimento de frustração. Depois dos filmes, é preciso voltar à realidade do lugar. E ficar em silêncio. Não há sequer um gueto de gente disposta a conversar sobre as idéias suscitadas por esta ou aquela película. Com os amigos, o risco é criar um círculo vicioso, auto-referente. Aos poucos, o silêncio aumenta. O silêncio e a sensação de isolamento.

Na época que eu não tinha nem vídeo cassete, nem DVD, nem dinheiro pra ir ao cinema em Vitória (ainda não tinha cinema aqui), eu lia. Lia compulsivamente. Lia, dormia e bebia. Um tremendo vidão – do qual não tenho a menor saudade.

Pra mim, Guarapari funcionou como uma espécie de exílio. Serviu pra eu me conhecer melhor, já que logo que cheguei aqui foi difícil estabelecer contato com os nativos. Em certos momentos, tinha a certeza de que falávamos línguas diferentes. Não estava de todo errado.

Estou falando dessas coisas só pra dizer que não gosto de falar dessas coisas e que este “post” na realidade quer dizer que sinto falta de escrever sobre as coisas que acontecem à minha volta e não dizem respeito ao cotidiano. Quero que coisas boas aconteçam sem depender diretamente de mim. Ando preguiçoso. E cansado. Quero sair do meu mundo. Quero ir logo pra Porto Alegre.

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