PSICOTÓPICOS E AS CONCLUSÕES
No início deste ano, criei o Psicotópicos, para dar vazão à minha produção intelectual e, ao mesmo tempo, encontrar pessoas dispostas a debater acerca de assuntos de meu interesse -- fosse para criticá-los, fosse para complementá-los, fosse para concordar com eles. Na época, eu chamava o Psicotópicos de “um rascunho virtual”.
Desde então, passei a andar mais atento, prestando mais atenção aos “mundos”, a fim de encontrar material passível de ser discutido no blogue, material capaz de apontar novos caminhos, alternativas.
Nesse percurso de lá até aqui, muito aconteceu.
Aos poucos, comecei a acompanhar a mídia tradicional de forma crítica para comentá-la no Psicotópicos. Nesse processo, o interesse pela Folha de São Paulo e, particularmente, pelo o hiato apresentado entre o discurso (imagem?) da Folha e sua prática foi aumentando.
Esse interesse é compreensível por vários motivos. Dentre eles, gostaria de destacar um. Quando cursava terceiro período do curso de jornalismo, fiz parte de um grupo de estudos críticos que tinha como objetos de estudo a coluna do ombudsman da Folha e o site do Observatório da Imprensa. Foi nesse período que meu olhar crítico em relação à imprensa foi, aos poucos, ficando mais aguçado. De certa forma, o Psicotópicos serviu para confirmar essa tendência.
Deve-se dizer que, a princípio, o objetivo de meu TCC era tratar do já mencionado hiato entre o discurso da Folha e sua prática. Contudo, em função de alguns atropelos -- dentre os quais a troca de orientador -- fui sendo forçado a limitar meu tema cada vez mais, terminando por excluir o ombudsman. Mantive a Folha para analisa-la em seu caráter de empresa jornalística, incluindo um novo objeto de análise, para fins comparativos – as mídias digitais.
A escolha das mídias digitais tem a ver com as reflexões desenvolvidas aqui no Psicotópicos acerca do próprio Psicotópicos – enquanto mídia alternativa de suporte gratuito – e da Internet enquanto espaço público potencialmente livre de impedimentos.
Aos poucos, o tema foi sendo expandido em alguns sentidos -- e restringido em outros. Muitos ajustes foram necessários. A análise da Folha foi cedendo espaço para uma análise da empresa jornalística no contexto brasileiro. A Folha de São Paulo foi substituída pela Folha Online. O site independente escolhido para servir de contraponto, para o exercício comparativo, passou do Repórter Social para a Agência Carta Maior. O número de matérias a serem analisadas foi reduzido a quatro (duas de cada site) e os critérios para análise restringidos ao número de três. Por último, foi escolhido um tema único, comum a todas as matérias analisadas: o assassinato dos moradores de rua em São Paulo no período de agosto a setembro de 2004.
Mais uma vez, o Psicotópicos foi determinante nesse processo: eu abordara esse assunto no blogue em três oportunidades.
Se a Agência Carta Maior, no contexto do TCC, surgiu como um veículo mais livre, mais habilitado para informar de forma mais aprofundada acerca de temas que escapam aos critérios de escolha de notícias adotados pelos meios jornalísticos tradicionais, os blogues parecem levar essa possibilidade de independência ao extremo.
Não se deve, em hipótese alguma, ignorar o fato de que a Internet também tem suas limitações. Contudo, não se pode dizer que, hoje em dia, ela pode representar um espaço livre de pressões de nível sistêmico (pelo menos objetivamente, já que não se pode medir de forma precisa os nível de subjetivação dos valores sistêmicos por parte dos sujeitos envolvidos numa interação dialógica via web/blogue). Contudo, acredito que, ainda assim, a web representa uma avanço no sentido de uma democratização dos meios.
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Em todo esse movimento, algumas leituras estabelecidas durante os quatro anos de faculdade foram fundamentais. Harvey, lido no primeiro período, serviu para me colocar em contado com os conceitos de modernidade e pós-modernidade (com toda o grau de incerteza que ele representa). Bourdieu, no segundo período, começou a descortinar os mecanismos sutis que tornam o campo jornalístico algo extremamente complexo de ser analisado. O casal Mattelart me fez atentar para um possível retorno do sujeito como paradigma comunicacional na contemporaneidade. Pierre Levy, lido com algumas ressalvas no terceiro período, serviu para suscitar algumas reflexões acerca das novas tecnologias.
Habermas, lido no quarto período, me fez pensar a razão de uma forma diferenciada. Foucault, lido “por fora” no decorrer do curso, alertou-me para as “interdições” dos discursos, para a microfísica do poder e para o valor das resistências localizadas. Lyotard e Wittgenstein me puseram em contato com a teoria dos “jogos de linguagem”.
Nesse movimento, que inclui ainda leituras diversas, que vão desde Geertz até Guimarães Rosa, foi surgindo uma nova forma de olhar para o mundo e muitas portas foram abertas. Agora é hora de lançar novos olhares sobre as portas abertas. Creio que o trabalho de conclusão de curso, ora concluído, será um ponto de partida interessante.
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