AQUELE TIME...
Está bem, está bem, eu confesso!!! Eu gosto de futebol. Eu já fui um torcedor fanático, daqueles que assistem a jogos inteiros sem mudar de posição, pra não dar azar. Não riam, é sério. Uma vez vi meu time perder uma semi-final da copa do Brasil só porque senti uma coceira infernal no vão dos dedos do pé esquerdo, mais pro lado do dedão, e acabei me mexendo pra coçar. Tem gente que não acredita no poder do torcedor, mas é sério. Funciona mesmo.
Hoje em dia, procuro afastar-me cada vez mais desse vício. Esse processo começou há alguns anos. Não chegou a ser uma decisão tomada de livre e espontânea vontade, mas também não precisei freqüentar o TA (Torcedores Anônimos), embora tenha cogitado essa hipótese certa vez.
O que contribuiu grandemente para minha libertação foi a mudança de cidade. Em Guarapari, aos poucos, a fissura foi diminuindo. Já não percorria mais as estações do rádio AM nas tardes de domingo, em busca do placar da última partida -- aquela disputa por três pontos decisivos, que valiam duas posições na tabela. Passei a acompanhar os resultados pelo jornal. O fato das TVs não cobrirem os jogos do meu time com a atenção que eu achava justa, deixou se ser um empecilho à minha felicidade. Quando dei por mim, já não vociferava mais em frente à TV, no horário do Globo Esporte. A gota d´água foi quando deixei de assistir a uma das poucas partidas televisionadas do meu time(numa dessas “quartas do futebol”) para ir pro boteco com a galera, conversar sobre diversos assuntos, dentre os quais, não estava o futebol.
Comecei a ficar cada vez mais parecido com meu tio, saudosista dos bons tempos. Relembrava as equipes vitoriosas, aquele técnico genial, aquele goleiro explosivo. Dos dias atuais, pouco sabia. Não conseguia nem quem era o meia-direita do meu time. Uma vergonha.
Os leitores devem estar curiosos para saber qual o meu time. Eu tenho que dizer, né? Já passa da hora. Não se pode adiar essas coisas infinitamente. Tá bom. Eu falo. Meu time é o Grêmio, estão satisfeitos. O Grêmio, bicampeão brasileiro, bicampeão da Libertadores da América, campeão do mundo em 1983. O Grêmio de Porto Alegre. O time que revelou Ronaldinho Gaúcho e consagrou o Felipão. O Grêmio que outrora foi o terror da Copa do Brasil. O Grêmio, único time gaúcho a ter um jogador entre os campeões do mundo de 70: Everaldo, o lateral esquerdo.
O Grêmio, atual lanterna isolado do campeonato brasileiro. O Grêmio que repetirá este ano o fracasso de 91, voltando novamente à segunda divisão...
Pois é.
O time do qual tenho saudades, é aquele comandado pelo Felipão, com Danrley, Arce, Adilson, Rivarola e Roger, Arilson, Carlos Miguel, Dinho e Luís Carlos Goiano, de Paulo Nunes e Jardel.
A torcida da qual tenho saudades é a torcida colorada. Pode parecer estranho, mas boa parte da alegria mórbida de um torcedor fanático vem a da possibilidade de sacanear o adversário. Vencer é sempre bom, mas vencer o rival é estupidamente maravilhoso. Hoje, com o Grêmio nessa situação, é até bom estar longe do Rio Grande do Sul. Ninguém merece corneta...
Hoje, compartilho da filosofia do Marcelo Camelo, do Los Hermanos que diz: “E eu que já não quero mais ser um vencedor, levo a vida devagar pra não faltar amor”... Mas isso é hoje. Antigamente? Antigamente não...
Lembro que, quando o Grêmio perdia o grenal, eu me recusava a ler as colunas do Veríssimo em Zero Hora. Mesmo que ele nem tocasse no assunto, tratava-se de um colorado incorrigível, o que batava para torná-lo indesejável. Nesses dias, o jjeito era assistir aos comentários emocionados do Paulo Santana na RBS: independente do resultado, “com o Grêmio onde o Grêmio estiver”.
Só estar longe do meu time (e sobretudo dos colorados) me fez perceber a grandiosidade e o irracionalismo implícitos no fanatismo futebolístico. Influência forte em minha vida, mesmo hoje, praticamente liberto do vício, é impossível não sentir no coração uma pontada de dor, ao ver meu time, literalmente, caindo pelas tabelas.
O processo de libertação é lento e doloroso, mas acredito que estou indo bem. Um dia de cada vez, um dia de cada vez. Só por hoje, só por hoje, afinal, já dizia o CPM22, “as coisas são assim”, então, bola pra frente, bola pro mato, bola na rede! Como diriam os Beatles, “a vida segue com e sem você”...
(Mas precisava ser lanterna?...)
1 Comments:
olha agora o lanterna....
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