POEMA QUADRADO
I
Passou
E levou a beleza consigo.
Tempo bom é tempo perdido
com piada graciosa-
mente sem graça
(a vida em cores,
repleta de contornos)
Retornar?
Não, não.
Já passou da hora:
passou a mão no que era seu e deu linha
torta.
Portas fechadas não param
redemoinhos.
Águas de março fecham
o inverno
em outros (desen)cantos.
Desencontros? Acontecem.
Keep walking
enche a cara,
esquece.
II
Decerto só
o desacerto é bom.
Poema torto tem
dessas coisas.
Envereda
por caminhos estranhos,
nos enreda, nas pega
de jeito e aí
já era.
O erro.
O erro tem dessas coisas.
O erro vem dessas coisas
(deus incerto:
humano como ele só
vendo,
não compro.
E assim
sendo
prefiro estar entre os mortais
e seus fogos-fátuos –
beatitude com gosto
de carne.
Podridão efêmera!
Que equivale à eternidade).
III
Descobriu-a
na tenra idade,
mas devolveu-lhe as cobertas.
De que serve uma musa
resfriada?
Deu mole
Na hora de endurecer.
O tempo (perdido)
entrou de sola.
Quem perdeu-se
foi a musa.
Se por um lado andava
Saudável
e não espirrava,
por outro
perdeu o time,
apegou-se à coberta,
não mais respirava:
murchou
e assumiu as feições duvidosas
de um pepino
em conserva.
IV
Disse que só o final
podia salvar
uma história mal contada.
(Para roupa suja
que se lava em casa
existe Omo Dupla Ação.
Só pra sua cara deslavada que –
ela disse –
não há explicação).
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