PSICO (CADA VEZ MAIS) UTÓPICO
Nesses seis meses de existência do Psicotópicos o que tenho tentado fazer é transforma-lo num fórum de discussão, uma espécie de mural de idéias interessantes, capaz de apontar caminhos alternativos, novas possibilidades para uma existência mais humana, mais plena e mais feliz.
Nunca escondi que o Psico é utópico. Este blogue é isso mesmo, um espaço para utopias, para sonho, para delírio.
Talvez nunca tenha deixado muito claro quais são as minhas intenções, por acreditar que elas poderiam aparecer aos poucos, nas entrelinhas de cada texto. É bem verdade que muitas das idéias que tenho hoje foram tomando forma, “post” após “post”, ao longo desses seis meses.
São devaneios relacionados à arte (ou à busca de uma vida – de um estar no mundo – mais próximo da arte), à cidadania, à liberdade, à intensidade do viver.
(Tomo a palavra intensidade, aqui no Psicotópicos, num sentido muito particular. Quando afirmo querer um viver mais intenso, digo de um viver mais humano, com espaço para a paixão, para o corpo, para o mundano, para a aceitação da imperfeição, desde que trabalhada por meio do diálogo e pela tentativa incessante de compreender o outro, de tentar sentir/ver como o outro. Desconfio da linguagem humana. Acho que para se compreender o outro, de verdade, é preciso, muitas vezes, ultrapassar o discurso, servir-se de uma espécie de “razão sensível” (termo que tomo emprestado de Maffesoli) onde o objetivo principal seja a harmonia, o equilíbrio e – aqui vai uma palavra extremamente complexa – a felicidade do ser humano. Intensidade, para o Psico, é mais ou menos isso).
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Não tenho grandes esperanças de ver realizadas minhas utopias. Como sempre digo, por aqui importa mais é o processo. (Essa visão, como também já disse (para os objetivos do Psicotópicos, essa redundância se faz necessária), nasce de uma leitura muito particular de Grande Sertão: veredas).
Contudo, creio que muito do que digo aqui não fica apenas na esfera do surto, do delírio.
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Quando falo de alternativas ao capitalismo-que-está-aí e da crença num estilo de vida anárquico, não sou puramente utópico. Sempre que posso, elenco no blogue exemplos que corroboram pra essa minha crença.
Lembro de um livro do Gabeira, que li há uns dois anos mais ou menos: Vida Alternativa. Nesse livro, o ex-guerrilheiro apresenta uma série de exemplos motivadores de experiências de sociedades alternativas com as quais ele tomou contato, especialmente na Europa. Grupos que se uniam e juntos, de forma solidária, viviam em comunidade, na defesa e na manutenção de certos estilos de vida e ideais comuns.
Com base em princípios de solidariedade, esses grupos desenvolviam formas alternativas de renda (artesanato, agricultura, arte, literatura) e conseguiam, com isso, afastar-se daquilo que muitos vêem como inevitável: o estilo tradicional (emprego, família, egoísmo, posse...) de vida-capitalista-que-está-aí, seja a da ética protestante, a do American Way of Life ou a da velha conhecida nossa, a burguesia.
É certo que esse modo de viver não traz a ninguém as “benesses” do mundo capitalista (tênis da Nike, McDonalds, Coca-cola, SporTV, Big Brother, Shopping Center, Copacabana Palace), mas é capaz de garantir uma vida mais plena, com relações humanas mais verdadeiras, maior liberdade e a possibilidade de vivenciar um hedonismo mais autêntico, no qual o prazer não estivesse associado ao consumo, à satisfação das demandas.
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Infelizmente, lançar-se numa empreitada como essa não é algo que se possa fazer assim, de uma hora para outra. Primeiro, é preciso criar uma rede de pessoas que compartilhe de ideais minimamente semelhantes -- sempre respeitando as diferenças e particularidades – e que estejam dispostas a viver de forma mais solidária.
Solidariedade aqui significa apoio mútuo, tentativa de compreender o outro e altruísmo.
Seria preciso pensar em bens comuns. Em vez de POSSUIR computadores, meios de transporte ou livros, as pessoas poderiam UTILIZAR computadores, meios de transporte e livros que seriam de todos.
É uma visão comunista, eu sei disso. É socialismo utópico. Mas e se funcionar? Dane-se o rótulo!
Penso tudo isso em pequena escala. Em grupos reduzidos de pessoas. Como sempre digo: não quero mudar o mundo, mas mudar mundos. Não acredito em revoluções em proletariado tomando conta dos meios de produção. A grande escala é burra, amorfa. Não há jeito de fugir disso. Acabaríamos necessitando de líderes, fossem eles Hitler´s ou Ghandi´s. Não é isso que busco. Busco micro-revoluções, células.
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As idéias que brotassem dessas células poderiam, por meio de estratégias comunicacionais (a mídia radical), contaminar outras células, de forma virótica, como já apontei aqui no blogue em outra ocasião.
O fato das comunidades serem alternativas não implicaria num isolamento, mas muito pelo contrário. A base material oferecida pela rede – a célula, o grupo – permitiria a cada membro agir na sociedade, conversando, debatendo, discutindo e, sobretudo, exemplificando que existem outras formas possíveis de se viver.
As instituições convencionais poderiam ser contaminadas aos poucos. Um professor aqui, um grupo de alunos ali, um coordenador acolá. Depois a política, os meios de comunicação, as comunidades.
A luta não seria por impor um novo estilo de vida, mas por apresentá-lo como possível. Quem aderisse, não o faria por ter sido persuadido ou ludibriado, mas por ter conseguido ver/sentir de outra forma, por ter conseguido experimentar uma outra maneira de estar no mundo.
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Se nada disso funcionasse, haveria sempre o grupo, a “tribo”, a célula para se retornar. Uma espécie de família constituída por laços ideológicos em vez de sanguíneos. O crescimento -- a contaminação de outros organismos -- não é uma prerrogativa para a existência do grupo.
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Sei que este texto pode significar o desaparecimento completo dos meus poucos leitores, mas cheguei ao ponto onde não discutir essas coisas seria correr o risco de explodir.
Agora, quem quiser me criticar, pode fazê-lo à vontade. Estou aqui, com minhas utopias e com meus olhos de ler.
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