segunda-feira, agosto 23, 2004

MARGINALIDADE




“Nem os processos avançam para determinar os autores, nem a imprensa se interessa pela morte de pessoas que estão à margem”.
(Fernando Gabeira)


Visitava hoje o site de Fernando Gabeira, num dos textos que li, ele comentava sobre o assassinato dos mendigos em São Paulo.

É interessante observar como, no Brasil, parece que se resolve “descobrir” fenômenos e transforma-los em notícia de uma hora para outra. O assassinato de mendigos é prática comum nas grandes cidades brasileiras. Na época em que os jovens monstrinhos brasilienses queimaram o índio, essa questão foi levantada. E aí eu pergunto, por quê a imprensa não se interessou mais pelo assunto quando as notícias sobre o índio carbonizado pararam de dar Ibope?

Pelo motivo que Gabeira aponta. Essas pessoas não interessam, a não ser quando a tragédia de suas vidas (ou de sua morte) podem ser transformadas em espetáculo, à maneira dos “cidades alertas” e “linhas diretas”.

Não sei se os freqüentadores do Psicotópicos se lembram, mas falei há algum tempo aqui sobre o assassinato de Tabaculê, um mendigo conhecido aqui em Guarapari. Até hoje, ninguém se interessou por saber quem foi o assassino. Tabaculê, como os mendigos de São Paulo, foi morto a pauladas, da forma como se costuma matar ratos ou animais asquerosos.

É assim que a sociedade vê essas pessoas. Não importa tentar descobrir se por trás da sujeira e dos andrajos há um ser humano. Importa é eliminar o que incomoda. Como coisas velhas jogamos fora quando não têm mais utilidade em nossa casa.

É. Vivemos num mau Estado...

(Escrito em 21 de agosto de 2004)

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