segunda-feira, agosto 23, 2004

O HUMANO PERDE



Hoje Daiane dos Santos estabeleceu contato com a crueldade do “espírito olímpico”. Daiane foi humana demais para levar o ouro: o deus olímpico é grego e pune a imperfeição.

Daiane salvou-se. Não precisa mais carregar nas costas o peso das deidades.

Deidade, sim, porque foi nisso que a mídia quis transformá-la. A admiração do princípio foi, aos poucos, à medida que as olimpíadas se aproximavam, se transformando em cobrança: Daiane não podia pular com o peso do Brasil nas costas. É peso demais pra uma baixinha de joelho dodói.

Daiane continua bela, mágica, especial. No mundo branco da ginástica olímpica, território das romenas, chinesas e russas, Daiane tinha cor e tinha sangue. Não foi Daiane que perdeu, mas o humano. O humano - com o que tem de inventivo, ousado, falho e, por isso mesmo, belo - perdeu. Ganhou a técnica que não sai da linha, que não vai além da obviedade, do feijão com arroz, do papai e mamãe...

Se errar é humano, quanto menos humano for o homem no giramundo, maiores as chances de tornar-se "o vencedor".

E "olha lá quem vem do lado oposto!"...

***
Estranho. Essa derrota de Daiana me fez lembrar da Copa de 82...



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