FEITO COISA
Um dia fui objeto do teu amor, recebi os mimos que me cabiam: a recompensa dos amáveis. Mas agora – agora o quadro é bem outro: não passo do sujeito que reorganiza as lembranças em busca de um sentido insuspeito. Saudades – saudades lancinantes do tempo em que era objeto. Tudo que eu precisava, naquele tempo, era estar ali, ao alcance, disponível, aberto, luminoso, radiante e parabólico, sempre pronto a captar a freqüência do teu desejo. Hoje sou apenas mais um sujeito – mais um sujeito que, depois de ti, segue às apalpadelas, experimentando a hostilidade do mundo em cada gesto, confrontando sorrisos estranhos e tentando decifrar enigmas silentes em faces jamais vistas: faces ocultas na mesma moeda que encerrava nossa história.
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