sexta-feira, janeiro 28, 2005

É NOVELA



O historiador colombiano Jesús Marti-Barbero atribui ao cinema mexicano da primeira metade do século passado um papel importante na criação de uma identidade latino-americana. Para Barbero, a chave disso está no melodrama.

“O melodrama como estrutura de qualquer tema, conjugando a impotência social e as aspirações heróicas, interpelando o popular a partir do ‘entendimento familiar da realidade’, que é o que permite a esse cinema enlaçar a épica nacional com o drama íntimo, destacar o erotismo a pretexto de condenar o incesto e dissolver lacrimosamente os impulsos trágicos dspolitizando as contradições cotidianas. As estrelas -- Maria Félix, Dolores del Río, Pietro Armendariz, Jorge Negrete, Ninón Sevilla – abastecem com faces, corpos, vozes e tons a fome das pessoas de se verem e de se ouvirem. Para além da maquiagem e da operação comercial, as verdadeiras estrelas do cinema obtêm sua força de um pacto secreto que enlaça esses rostos e vozes com seu público, com seus desejos e obsessões”.

Creio que, no Brasil, as novelas da Globo exercem papel semelhante. De certa forma, as novelas, mais do que o cinema e a literatura nacional, foram determinantes na fundação (e na sedimentação) de um “modo de ser” do brasileiro. Desprezar as novelas como um mero subproduto da Indústria Cultural é desperdiçar um excelente retrato do que é (ou do que pode vir a ser) o brasileiro.

Um complemento (???)

Tá certo, tá certo: a maioria das novelas é um pé no saco mesmo, mas a coisa é mais complexa, entendem? Ou pelo menos pode ser. Ou não pode. Sei lá...

Uma observação

Depois de “Hoje é dia de Maria” a Globo trouxe a “Mad Maria” que, só pra rimar, é uma porcaria: ressuscitaram descaradamente "Terra Nostra" e "Esperança" – a começar pelo elenco. Eca!

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