terça-feira, fevereiro 15, 2005

ADÃO E EVA



Li, já faz um tempinho, um alerta do Sérgio Paulo Rouanet na Folha de São Paulo, sobre uma espécie de retorno do recalcado na civilização contemporânea. O recalcado, aqui, seria o Deus morto pelos iluministas (e cremado por Nietzsche).

Apesar de psicanalítico demais pro meu gosto, Rouanet aponta para elementos interessantes na constituição do contemporâneo, como o papel da religião.

Pra quem pensa que a questão passa apenas pelos fundamentalistas islâmicos, uma aviso: o buraco é mais embaixo. No artigo, Rouanet alerta para um movimento, que começou nos EUA mas já faz eco por aqui, que defende a volta do ensino da teoria criacionista (Adão e Eva) em detrimento da teoria evolucionista nas escolas.

Acredito que, em maior ou menor grau, todo mundo é fruto de seu próprio tempo. Querendo ou não, é preciso acompanhar com mais cuidado (e menos desprezo) a expansão das religiões evangélicas no Brasil (entre outros fenômenos). Que os iluministas embolaram o meio de campo da história, todos sabem. Mas e agora, o que fazer? Acelerar o processo de tribalização do mundo, criando o gueto dos adoradores de jazz, a tribo dos amantes de Baudelaire, a trupe dos fissurados em Osu?

Se algumas previsões se confirmarem (e muitas estão se confirmando), em breve “inteligência” e “cultura/erudição” serão anomalias úteis apenas à já conhecida prática da “masturbação intelectual”.

Já estou meio cansado de falar isso aqui, mas pra mim o único caminho é abrir portas, em vez de fecha-las. É preciso criar espaços culturais mais interessantes (e menos dispendiosos) do que aqueles oferecidos pelas igrejas evangélicas. E não é briga com Deus, não. É briga conta a cretinice, contra a imbecilidade que sufoca o humano.

E é isso.

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