sábado, janeiro 29, 2005

ARTE E ARTE



A arte, a partir da modernidade, vem se tornando algo que tem cada vez mais relação com intelectualidade – ou com determinado conceito de inteligência – do que com qualquer outro fenômeno. Sou capaz de perceber esse processo, mas devo dizer que a maior parte dessa arte inteligente é incapaz de afetar-me. É possível que essa constatação diga da minha burrice, mas continuemos tateando no escuro...

Falando dos filmes de Bresson em Contra a Interpretação, Sontag escreve: “Algumas artes visam despertar os sentimentos; outras apelam para os sentimentos pelo caminho da inteligência. Há uma arte que envolve, que cria empatia. Há uma arte que cria distanciamento, que provoca reflexão”.

Gosto do segundo tipo de arte (particularmente no cinema), mas o primeiro me coisa mais. É o caso de Garcia Marques e sua verborragia com cheio de caribe; de Borges, que vez ou outra deixa escapar de seu universo de bibliófilo el sangre latino; de Rosa, que parte do sertão e envereda pelo existencialismo; e mesmo de Érico Veríssimo, que de uma literatura menor fez brotar uma obra prima como o primeiro tomo da saga O Tempo e o Vento que - para provar que Ursula tem razão e que o tempo dá voltas e voltas e sempre retorna aos mesmos lugares - inspirou Garcia Marques a escrever Cem Anos de Solidão.

PS.: A foto acima é do filme A Vila, de M. Night Shyamalan (O Sexto Sentido, Corpo Fechado). Clique nela e leia o texto de Luiz Carlos Oliveira Jr. para a Contracampo, que fala do filme. Valem a pena o filme e a crítica. A propósito, antes que perguntem, o filme tem-não-tem relação com o que estou falando no "post".

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